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Inversão de cenário

Veículo: DCI
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As recentes turbulências dos mercados financeiros ao redor do mundo têm refletido em, em grande medida, uma clara mudança de cenário econômico nas últimas semanas relativamente ao que se esperava até então.

Sob essa perspectiva, as apostas em geral apontavam para um quadro de recuperação global, onde apenas algumas regiões exigiam alguma atenção maior, como o caso de alguns países na Europa.

A lógica subjacente a esse quadro indicava que a recuperação global prosseguiria em curso e que o desemprego seguiria em queda.

A economia americana daria seguimento ao seu crescimento moderado, com o desemprego decaindo de forma lenta. Ainda nesse cenário, as economias emergentes seguiriam crescendo acima da média do mundo, com destaque para a China e a economia europeia, ainda que não representasse um vetor de estímulo ao crescimento global, não representaria um fator de risco considerável em 2011.

O que se viu nas últimas semanas, de fato, foi uma clara inversão desse cenário. Conforme ressaltei no artigo de 3 de agosto, a economia americana segue patinando e o quadro fiscal em nada auxilia na reversão desse quadro.

Ao contrário disso, a imposição da diminuição gradativa dos gastos por parte do congresso dos EUA no contexto da aprovação da ampliação do teto do endividamento público apenas reforça um cenário de baixo crescimento no médio prazo.

Com isso, o fantasma de uma nova recessão volta a rondar a economia americana. Caso isso ocorra, o desemprego voltará a subir nos EUA e os impactos sobre a economia global definitivamente não serão positivos.

O rebaixamento da dívida americana promovido pela S&P em nada contribui para melhorar esse quadro. Em face disso, restam poucos instrumentos para estímulo à demanda agregada por parte do governo americano e novos movimentos de expansão monetária, com aumento da emissão de dólares, podem ser esperados, pois tendem a depreciar a moeda dos EUA e estimular as exportações daquele país.

Do lado europeu, a situação do euro parece ganhar contornos cada vez mais dramáticos. A problemática do endividamento, que se limitou inicialmente a Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (PIIGS) tem se estendido a outras economias.

O sistema financeiro começa a sofrer cada vez mais o contágio de países com dificuldades de honrar suas dívidas. Os pacotes de ajuda financeira, capitaneados em grande parte pelo governo alemão, apenas trazem alívio de curto prazo e o problema fundamental permanece.

De fato, diversos governos europeus se deparam com uma equação de difícil solução, pois, ao mesmo tempo que precisam cortar gastos para fazer frente ao problema do déficit público e riscos de calote, têm dificuldades em realizar ajustes em um ambiente de baixo crescimento e desemprego elevado, em um contexto em que os gastos públicos são necessários para manter o crescimento.

Do lado das economias emergentes, a inversão de cenário se fez sentir inicialmente do ponto de vista dos mercados.

As bolsas de valores literalmente derreteram nas últimas semanas com a realocação dos investidores para um portfólio de menor risco. Ao mesmo tempo, o cenário de menor crescimento global tende a afetar o desempenho econômico desses países também.

No Brasil, os impactos foram diretos: o Ibovespa despencou durante alguns dias, em face das tensões do mercado externo.

A inversão de cenário também tem provocado discussões intensas sobre os próximos passos do Banco Central, uma vez que a atividade econômica brasileira parece estar em desaceleração. É muito pouco provável que o aperto monetário prossiga.


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