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Longe do abismo

Veículo: O Globo
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A receita das exportações brasileiras tem crescido a um ritmo de mais de 30%, e isso com o real mais valorizado que o desejável e a parte mais rica da economia mundial cambaleando. Por várias razões — sendo a principal a explosão de demanda na Ásia — a relação de troca tem favorecido os preços das mercadorias que o país exporta. E é pouco provável que esse quadro mude rápido.

A demanda asiática é por matérias-primas, metais, alimentos e energia, mercadorias que hoje quase não impulsionam as economias americana e europeias. Assim como o Brasil, nossos vizinhos têm se beneficiado também dessa relação de troca favorável. Menos industrializados, à medida que crescem a taxas expressivas, nossos vizinhos vão se tornando consumidores de bens manufaturados, e, pela proximidade geográfica e laços comerciais históricos, empresas brasileiras têm conseguido atender ao menos a uma fatia dessa nova demanda.

Por causa desse desenho do comércio exterior brasileiro (recente, de certo modo) é que a crise político-econômico-financeira americana e europeia até aqui não nos arrastou para o abismo, como era comum acontecer no passado.

Não há quem possa se considerar a salvo dessa crise, pois seus desdobramentos futuros são ainda uma incógnita. Os Estados Unidos permanecem com crédito abundante no planeta, mas surgiu um componente perturbador na conjuntura, que é o impasse político entre o Congresso americano e a administração do presidente Barack Obama quanto ao orçamento. Diante desse impasse, que transformou a discussão sobre o teto de endividamento federal em um espetáculo (segundo as palavras do próprio Secretário do Tesouro, Timothy Geithner), qualquer agência classificadora de risco não se sente mais obrigada a atribuir conceito máximo aos títulos americanos, pois, de fato, surgiu no horizonte um fator imponderável. Antes, ninguém acreditaria que o novo teto da dívida somente seria aprovado pelo Congresso poucas horas antes do cronômetro zerar.

Já no caso da Europa, o futuro da moeda única tem sido posto em dúvida, pela fragilidade financeira das economias de alguns dos países membros, devido ao tamanho da dívida pública (ou até do setor privado) que acumularam.

Em termos relativos, a Itália estaria em situação menos crítica que os Estados Unidos, pois ainda consegue ter superávit primário (de aproximadamente 2% do PIB) nas finanças governamentais. Os EUA, por sua vez, têm déficit primário de mais de 7% do PIB. Mas o Tesouro americano não enfrentam qualquer dificuldade para encontrar quem queira comprar seus papéis, a juros baixos, enquanto o italiano vive com a faca no pescoço, sem saber o que ocorrerá na próxima rolagem de sua dívida.

É então compreensível que os mercados estejam mais nervosos e inseguros por conta do horizonte nebuloso no chamado mundo desenvolvido.

Esse é um ambiente que abre espaço para movimentos especulativos, o que apavora quem não é profissional de mercado e só deseja investir para assegurar um satisfatório (e não tão modesto) retorno financeiro para seu capital ou poupança. Infelizmente não existe seguro infalível nesse ambiente. É preciso ter paciência e deixar o tempo passar, mas sem esperar que vá surgir uma varinha mágica capaz de tirar o mundo desenvolvido do atoleiro antes de meados da década.

O Porto do Açu, que deverá ficar pronto em 2013, atrairá cargas típicas de ferrovias e, por isso, está em pauta a reativação de um trecho de quase 300 quilômetros, hoje sob responsabilidade da concessionária FCA, que liga o Norte Fluminense à região metropolitana do Rio. O leito atual da ferrovia passa a 40 quilômetros do porto, no município de São João da Barra.

Esse trecho passaria a ter um terceiro trilho, tornando-se também uma ferrovia de bitola larga, o que possibilita uma conexão direta com São Paulo e parte de Minas Gerais, por meio da malha da MRS.

Além do terceiro trilho, o trecho precisa de obras de modernização, mas o investimento não depende, por exemplo, de desapropriações de terras, o que o oneraria tremendamente.

Embora esteja na malha da FCA, como o trecho hoje não é usado, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), dentro das novas regras que instituiu para ferrovias sob concessão, poderá estabelecer direito livre de passagem para diferentes usuários.

O Governo federal, por meio da Valec, e o estadual se mostram dispostos a promover o investimento na via permanente.

Além da movimentação de cargas de e para o Porto do Açu, um outro grande projeto tem grande interesse na revitalização desse trecho da ferrovia: o Comperj (refinaria e petroquímica) da Petrobras, em Itaboraí. A ligação ferroviária com São Paulo atrairia mais indústrias petroquímicas e transformadoras de plástica para áreas próximas ao Comperj, além de facilitar o transporte de derivados de petróleo para o Norte fluminense e o Espírito Santo.

O Açu passou também a despertar interesse das companhias de apoio marítimo às plataformas de petróleo que operam na Bacia de Campos. Muitas delas têm instalações em terra, na região de Macaé, mas sem acesso direto ao mar. No Açu, teriam esse acesso, em uma área que será reservada para tal fim com a abertura de um canal necessário ao funcionamento do futuro estaleiro OSX. As companhias só esperam uma definição sobre o custo de dragagem desse canal e como essa conta será distribuída entre os usuários.



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