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Turbulência financeira pode agravar os problemas na indústria brasileira

Veículo: Correio Braziliense Online
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Bem antes do agravamento da crise, que ameaça, desde junho, as maiores economias do mundo, os empresários já reclamavam da escassez de crédito e manifestavam insatisfação com os crescentes estoques. Além disso, o setor contabilizava perdas nas vendas com o real valorizado e com o ingresso de produtos importados, situação agravada pela política de aperto monetário do Banco Central (BC).


Para o economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, a retração da economia mundial deve reduzir ainda mais a demanda externa por produtos brasileiros. Outro risco está no excesso de liquidez no mercado internacional, que pode valorizar ainda mais o real frente ao dólar. “Os capitais excedentes podem rumar para países que estão em situação mais favorável, como o Brasil, e fazer com que o preço do dólar caia ainda mais”, acredita. Para evitar problemas cambiais, ele recomendou ao Brasil apertar a política fiscal, reduzindo gastos públicos e afrouxar a política monetária. “Temos espaço para reduzir juros e expandir crédito”, destacou.

Na sua avaliação, mesmo tendo uma economia mais sólida, o Brasil deve sentir os efeitos do aprofundamento das dificuldades nos países ricos. “Isso pode acarretar perdas ainda maiores de mercado para as exportações do país e dificuldades no mercado interno, devido ao crescimento das importações”, afirmou Castelo Branco, durante divulgação de indicadores industriais de junho, que confirmaram a perda de dinamismo do setor.

A comparação de junho com maio indica queda das horas trabalhadas (-2,1%), estabilidade no nível de utilização da capacidade instalada (82,3%), queda na massa salarial (-0,9%) e redução do rendimento médio dos trabalhadores (-0,9%). O faturamento da indústria, contudo, subiu 0,7% no período e ficou 5,9% acima do nível de junho de 2010. O índice de satisfação com a margem de lucro operacional registrou novo recuo, de 46,6% no primeiro trimestre do ano para 45,7% no segundo trimestre. “A economia vem perdendo dinamismo ao longo do primeiro semestre”, ressaltou Castelo Branco.

Pacote
Em relação ao Brasil Maior, pacote de incentivos federais à competitividade da indústria, lançado semana passada pela presidente Dilma Rousseff, o economista Marcelo D’Ávila, da CNI, disse que falta disseminar estímulos para todos os setores. De toda forma, ele considera positiva a formatação de uma política industrial. Entre as medidas anunciadas está a redução a zero da contribuição previdenciária de 20% para o INSS dos setores de confecções, calçados, móveis e software.

Na semana passada, o IBGE havia informado que a produção industrial havia caído 1,6% em junho. Os principais impactos negativos foram em setores como refino de petróleo e produção de álcool (-8,9%), produtos de metal (-10,9%) e veículos automotores (-1,4%).

Ritmo mais fraco
Os dados divulgados ontem pela CNI não deixam dúvidas sobre os sinais de acomodação do nível de atividade. A utilização da capacidade instalada caiu para 82,3% em junho, ante 82,5% em maio. Dos 19 setores avaliados, só cinco tiveram queda do faturamento em relação a junho de 2010. No entanto, em sete deles o aumento da receita foi menos intenso ou passou a ficar negativo, na passagem de maio para junho. Para os economistas da CNI, um menor crescimento da economia mundial agora vai restringir o espaço para o crescimento.



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