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Quem ameaça Obama?

Veículo: Revista Isto É
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O impasse é econômico, mas o que está em jogo é a eleição presidencial do ano que vem. Acuado pela crise econômica e pressionado pelos líderes ultraconservadores do Partido Republicano, o presidente Barack Obama pode ter seu futuro político definido na terça-feira 2. Seu destino está nas mãos da Câmara dos Representantes, formada pela maioria republicana, que vai determinar a ampliação ou não do teto de endividamento do país, hoje fixado em US$ 14,2 trilhões. Em caso negativo, a nação mais rica do planeta corre o risco de passar por uma vergonhosa e inédita moratória. Os adversários de Obama trabalham hoje olhando para as eleições de 2012 – e, na lógica eleitoral deles, quanto mais lenha na fogueira melhor. A economia internacional também pode sofrer os efeitos perversos de uma moratória, mas isso não preocupa os membros do GOP (Grand Old Party), histórico apelido do Partido Republicano. Ao mundo, só resta acompanhar a disputa entre democratas e republicanos, especialmente os governos da China, Japão, Reino Unido e Brasil, que são os maiores detentores de títulos do governo americano.

Se não houver acordo, o Tesouro garante que a partir da próxima semana não terá caixa nem para honrar despesas de custeio, como o pagamento dos aposentados. Não é nenhum exagero falar em calote da dívida pública. Obama já ocupou por quatro vezes o horário nobre da televisão pedindo apoio aos eleitores para evitar “uma crise econômica profunda”. Como resultado, conseguiu sensibilizar parte dos americanos. Mas o presidente da Câmara dos Representantes, o republicano John Boehner, também foi ao ar e acusou os democratas de pedir “um cheque em branco.” Ou seja, não importa o que Obama disser, ele será atacado de qualquer maneira pela oposição. O Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman – que se tornou um crítico moderado do governo – diz que o presidente democrata se mostrou disposto a assinar um acordo de redução de gastos, com cortes draconianos em programas sociais-chave, a ponto de elevar a idade para o seguro-saúde Medicare, atualmente em 65 anos. Trata-se, porém, de uma dose extremamente conservadora. “Mesmo assim, os republicanos dizem ‘não’”, afirma Krugman. “Na verdade, eles ameaçam forçar uma moratória dos Estados Unidos e criar uma séria crise econômica.”

O ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, favorito nas pesquisas internas do Partido Republicano, diz que o teto da dívida só deveria ser ampliado com uma redução substancial de cortes, limites para os gastos federais e aprovação de emendas à Constituição que preveem maioria absoluta para aumento de impostos. Mas aproveita a popularidade em queda de Obama para abrir outras frentes de ataque: “Onde estão os empregos?” pergunta pelo seu twitter. “Obama não tem arrependimentos? Não podemos resolver a crise do emprego até que tenhamos um presidente que admita que temos uma crise.” Também na disputa pela legenda, a deputada republicana Michele Bachmann descobriu o degrau perfeito para chegar ao topo do GOP: o desgaste de Obama. “Esta republicana não vota no aumento do teto da dívida”, prometeu a deputada.




Michele é líder do Tea Party, movimento ultraconservador que vem ganhando destaque no País, e uma das vozes que se opuseram à proposta do presidente da Câmara para aprovar um teto maior. Pelo projeto de John Boehner, a elevação do teto da dívida em R$ 2,6 trilhões seria feita em duas partes. A primeira agora e a segunda no próximo ano, antes das eleições de novembro. O plano está condicionado a um corte de US$ 3 trilhões. Boehner quer levar para a campanha a crise financeira, que se arrastaria sem uma definição. Já os democratas desejam que um aumento do teto vigore até depois das urnas. No Senado, onde o partido de Obama é maioria, o líder dos democratas Harry Reid defende cortes de US$ 2,7 trilhões, inclusive em despesas sociais e, como concessão aos republicanos, sem aumento de carga tributária.

Por ironia, os Estados Unidos se tornaram alvo das preocupações do Fundo Monetário Internacional, que pedem uma solução rápida para a crise da dívida. A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, advertiu que o não pagamento da dívida pública pode levar a uma situação de insolvência e provocar o rebaixamento da nota de risco dos títulos do Tesouro, hoje os mais seguros do mundo. “Seria algo grave, muito grave, não apenas para os Estados Unidos, mas também para a economia mundial”, disse Lagarde. Os apelos do FMI e do resto do mundo podem surtir efeito. Os republicanos já marcaram sua posição e mostraram sua força. Por isso mesmo, talvez aceitem fechar um acordo na data-limite. Preocupado, mas esperançoso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, diz que não quer nem pensar na possibilidade de moratória americana. “O que se vê nos Estados Unidos é a marcha da insensatez”, disse Mantega.


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