Notícias

Medidas no câmbio são paliativas

Veículo: O Globo
Seção:
Página:

As duas principais moedas do planeta — o dólar americano e o euro — estão no momento combalidas, em face das dificuldades enfrentadas pelas economias dos Estados Unidos e de vários países que aderiram à moeda única da União Europeia.

Enquanto as economias desenvolvidas se encontram em fase de ajuste e lenta recuperação, países emergentes continuam a crescer expressivamente. No caso do Brasil, as cotações internacionais favoráveis de muitos produtos exportados e as perspectivas alvissareiras de médio prazo tornaram a nossa economia uma das mais atrativas para investidores estrangeiros. O país saltou da 15ª para a quinta posição, de 2009 para 2010, na lista das nações que mais recebem este tipo de investimento, segundo levantamento da Unctad, órgão das Nações Unidas para desenvolvimento e comércio.

São recursos que há algum tempo se constituem na maior fonte de financiamento das contas externas brasileiras. Isso significa que as remessas de lucros e dividendos, principal item com sinal negativo nas transações correntes (mercadorias e serviços) do balanço de pagamentos, são cobertas pela entrada de novos investimentos, e com sobra. É como se os investidores estivessem assegurando o retorno do capital na própria moeda.

Em face desse movimento, que é salutar (o Brasil precisa investir mais para se desenvolver, e a poupança interna, infelizmente, é insuficiente para esta necessidade), o real não tem escapatória, e acaba se valorizando.

É uma valorização contínua que desagrada, e até inviabiliza, diversos setores exportadores ou que passaram a ter como árduos concorrentes competidores chineses e de outras economias asiáticas.

A competição é sempre saudável, mas uma valorização excessiva da moeda nacional pode distorcer os preços relativos, a ponto de atingir inclusive produtores brasileiros eficientes.

Evitar a valorização indesejável pelo controle de capitais seria um retrocesso. E geralmente não funciona. Entretanto, não se pode ignorar que questões conjunturais (a ameaça de inflação) obrigaram o Banco Central a elevar as taxas básicas de juros para um patamar elevado, o que desperta o apetite para operações financeiras mais especulativas.

O mercado de derivativos abriga simultaneamente operações dos que necessitam de proteção contra flutuações no câmbio e nos preços de commodities e também dos que sabem se aproveitar de oportunidades especulativas que surgem em momentos de mais volatilidade no mundo financeiro.

Para que a valorização do real não vire um grande movimento especulativo — o dólar chegou à mais baixa cotação desde janeiro de 1999, quando acabou o câmbio controlado —, o governo resolveu tributar o que considera excessivo no mercado de derivativos. Ontem mesmo o câmbio reagiu a essa iniciativa, invertendo a trajetória das cotações do dólar, mas não é provável que o real deixe de ser uma moeda valorizada por força de medidas paliativas.

Por isso, o país precisa urgentemente fazer o dever de casa, atacando o chamado custo Brasil em áreas críticas, como a tributação, o crédito, a infraestrutura, a burocracia. Não há alternativa para aumentar, sem artificialismos, a competitividade do país no mundo.



Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar