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Mesmo fazendo três intervenções no mercado, BC não consegue conter a queda

Veículo: Correio Braziliense Online
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Mesmo fazendo três intervenções no mercado, BC não consegue conter a queda

O Banco Central bem que tentou, mas não conseguiu evitar, ontem, mais uma queda do dólar, que, pela primeira vez em 12 anos, foi cotado abaixo de R$ 1,55. Na intervenção mais pesada desde abril, a autoridade monetária comprou pelo menos US$ 500 milhões por meio de dois leilões no mercado à vista e, segundo especialistas, se comprometeu a arrematar quantia semelhante por meio de contratos a termo com vencimento em 2 de agosto. Mesmo assim, a moeda norte-americana caiu 0,77% ante o real, negociada a R$ 1,543, nível sem precedentes desde 18 de janeiro de 1999, cinco dias depois de o governo mudar o regime cambial, de taxas fixas para flutuantes.

O forte derretimento do dólar num momento em que os Estados Unidos se debatem para aumentar o teto de sua dívida, atualmente de US$ 14,3 trilhões, deixou o governo brasileiro apreensivo. Apesar de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, alardear que medidas para conter a alta do real podem sair a qualquer momento, há muitas dúvidas sobre a eficácia de se intervir no câmbio agora. A moeda norte-americana em baixa tem sido uma aliada do BC no combate à inflação, pois barateia os custos dos produtos importados e da produção nacional. O problema é que o real forte demais — a divisa nacional é a mais valorizada do mundo entre 58 moedas — pode destruir o parque industrial nacional, como alertou ao Correio o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade.

Especulação
O BC vem identificando uma entrada expressiva de recursos estrangeiros no país. E três fatores têm estimulado esse fluxo. O primeiro: as incertezas nos Estados Unidos e na Europa, a despeito de a Grécia ter recebido um socorro de 159 bilhões de euros na semana passado. O segundo: a elevação da taxa Selic para 12,50% ao ano, que atrai o capital especulativo. Para completar, muitos investidores estão antecipando o ingresso de dólares no Brasil para fugir de possível restrições no mercado de câmbio. “O governo está em uma situação bastante complicada. Ao mesmo tempo em que precisa conter o derretimento do dólar, que rompeu o piso psicológico de R$ 1,55, não pode ser muito rigoroso em medidas para conter a supervalorização do real, para não adicionar mais combustível à inflação”, disse um técnico do BC.

Na avaliação do economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, as dificuldades do governo em agir no câmbio foram explicitadas pela presidente Dilma Rousseff em entrevista na sexta-feira passada aos cinco principais jornais impressos do país, entre eles, o Correio. Assim, quase impotente — todas as ações anunciadas anteriormente fracassaram — o Palácio do Planalto está apostando tudo no acerto entre o presidente dos EUA, Barack Obama, e a oposição para que o teto da dívida norte-americana seja aumentado até 2 de agosto e o mundo se livre de um calote que pode levar a economia global a uma recessão pior do que a registrada entre 2008 e 2009, provocada pela quebra do Banco Lehman Brothers (leia mais na página 10).

Ações desabam
O dia também foi marcado por grande nervosismo no mercado acionário. O impasse nos EUA resultou em prejuízos nas principais bolsas de valores do mundo. Em São Paulo, mesmo com as ações da Petrobras subindo 2%, o Ibovespa, principal índice de lucratividade do pregão paulista, cravou perda de 0,50%, ao fechar nos 59.970 pontos. Na mínima do dia, o indicador chegou a ceder 1,05%. No acumulado do mês, a Bolsa de São Paulo (BM&FBovespa) acumula baixa de 3,90% e, no ano, de 13,47%.

Em Nova York, com o péssimo humor dos investidores, o índice Dow Jones cedeu 0,70%, fechando nos 12.593 pontos. Já a Nasdaq, a bolsa eletrônica, baixou 0,56%, aos 2.843 pontos, também puxada pela indefinição em torno do endividamento dos EUA. Na Europa, além das incertezas do outro lado do Atlântico, as bolsas foram empurradas ladeira abaixo pelo rebaixamento, pela Moody’s, da nota de risco da Grécia, próxima do calote. Em Milão, o prejuízo foi de 2,48%. Em Madri, houve queda de 1,92% e, em Paris, de 0,77%.

Indústria já sente o baque
O brasilianista Werner Baer, professor de economia da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, chamou ontem a atenção para os impactos da supervalorização do real frente ao dólar. A seu ver, o Brasil já vive um processo de desindustrialização. Com a moeda nacional mais forte, não apenas a população passa a consumir itens importados, mas os próprios fabricantes começam a buscar fornecedores externos. “O fato é que a proporção de carros importados, por exemplo, está aumentando. Outros setores, como o de calçados e o de tecidos, perdem a capacidade de concorrer. A taxa de juros do país é a mais alta do mundo. E o capital vem para cá. Se essa política de valorização da divisa nacional continuar, a participação da indústria no Produto Interno Bruto tende a diminuir”, avaliou.



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