Notícias

Juros altos ainda são necessários

Veículo: O Globo
Seção:
Página:


Juros altos ainda são necessários


Juros altos pesam sobre o endividamento público e oneram o custo do capital. No entanto, também são um antídoto para inibir a pressão de demanda sobre bens e serviços, porque encarecem o crédito.

Nesse momento, os juros altos são um sacrifício necessário para que a economia brasileira não volte a conviver com um antigo flagelo, a inflação crônica. Os índices de preços ao consumidor, apurados pelo IBGE, ultrapassaram este ano o teto da meta estabelecida pelo governo (6,5%), o que obrigou as autoridades monetárias a adotarem uma política restritiva no que se refere ao crédito e à expansão da moeda. As expectativas no mercado financeiro são que a inflação fique abaixo desse teto até dezembro, mas é preciso olhar para 2012, e, se os índices de preços não recuarem mais em 2011, ficará difícil para as autoridades controlar a inflação no ano que vem.

Isso porque já se conhece antecipadamente vários fatores que vão pressionar a demanda por bens e serviços em 2012. Um deles é o aumento real do salário mínimo, acima de 7%. Será também um ano de eleições municipais, e geralmente as prefeituras, em todo o Brasil, aceleram a conclusão de obras para inaugurá-las durante o primeiro semestre.

Se a inflação em 2011 ficar próxima do teto da meta, mecanismos remanescentes de indexação na economia irão repassá-la para alguns preços e tarifas.

Então, o sacrifício que for feito em 2011 pode evitar que em 2012 o Banco Central tenha que redobrar as restrições ao crédito, limitando a expansão da economia em percentuais desanimadores.

É dentro desse contexto que o Comitê de Política Monetária (Copom) se reunirá hoje e amanhã para definir o patamar das taxas básicas de juros que deverá vigorar pelos próximos 45 dias. Os prognósticos dos especialistas apontam para uma nova alta de 0,25 ponto percentual, e não se descarta a possibilidade de o ciclo de aperto se estender até agosto/setembro, com mais um ajuste nos juros básicos.

Evidentemente que os juros altos têm outros efeitos colaterais negativos que recomendam o uso desse instrumento com moderação. A taxa de juros — e a política monetária como um todo — não pode ficar com todo o encargo de inibir a demanda por bens e serviços.

Da política fiscal deveria se esperar mais nesse esforço, pois, se o setor público conseguisse conter os seus gastos de custeio, abriria espaço para investimentos privados, e até mesmo os de responsabilidade governamental. As contas públicas voltaram a registrar superávits primários expressivos este ano, mas tal fenômeno tem sido atribuído, além do fôlego da arrecadação, a uma rearrumação das finanças federais e estaduais decorrente de mudanças de administração. Espera-se que o fenômeno não seja mesmo passageiro e se mantenha pelos próximos meses, especialmente em 2012. Isso evitaria um prolongamento do aperto monetário por um prazo desnecessário. A economia brasileira reúne condições de sustentar um crescimento anual na faixa de 4%, sem pressões inflacionárias preocupantes. Mas para tal a política fiscal terá de fazer sua parte.


Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar