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O modelo de Pequim

Veículo: O Globo
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O modelo de Pequim

O crescimento médio de 9% da China nos últimos 30 anos tem despertado a atenção de todo o mundo, em especial dos países em desenvolvimento. Como se explica o modelo chinês?

Recentemente, Stefan Halper, no livro “Consenso de Pequim”, procurou mostrar por que o modelo chinês, classificado como "autoritarismo de mercado", começa a ganhar adeptos entre países em desenvolvimento. Mas segundo o economista Ping Chen o que ocorre na China não configura um modelo de desenvolvimento porque o país está em constante experimentação e mudança.

O modelo chinês parte do pressuposto de que cada país enfrenta desafios diferenciados e por isso não pode aceitar soluções padronizadas. Nas últimas três décadas, a China testou as mais diferentes ideias. Chen alinhou nove princípios responsáveis pelo êxito:

— Buscar oportunidades para o crescimento e adotar reformas ousadas para aproveitá-las. A economia neoliberal tem pouca experiência nos países mais pobres e por isso frequentemente recomenda práticas de mercados desenvolvidos, equivocadas, aos emergentes.

— Necessidade de manter um sistema dual para estabilidade e inovação.

— Clara divisão de trabalho entre o governo central e o local. O governo central é responsável pela segurança nacional e pela coordenação regional. A experiência de descentralização é o motor das inovações, não a imposição de regras por conselheiros externos.

— Para o desenvolvimento regional, a liderança é mais importante do que o capital, recursos e infraestrutura.

— Economias mistas (capitalismo de estado) oferecem financiamentos para favorecer reformas e desenvolvimento . Políticas liberais não funcionam em países com grande população, poucos recursos e frequentes desastres naturais.

— A disciplina da economia chinesa é alicerçada na competição, e não na negociação com grupos no estilo ocidental. A democracia não é uma competição verbal, mas corrida por ações concretas. A legitimidade do governo não deriva do eleitorado, mas dos resultados políticos e econômicos.

— A coordenação entre governos, negócios, trabalhadores e setor agrícola tende a gerar uma nova parceria;

— Governos podem orientar o mercado, mas não devem ser conduzidos por ele. O essencial é o fator humano.

— As ações do governo devem focalizar o desenvolvimento interno, sem perder de vista turbulências externas.

Segundo Chen, a alternativa asiática de desenvolvimento é representada por valores compartilhados pelo governo e pelos cidadãos. O consenso de Pequim, baseado no apoio familiar, na edificação da nação e no governo central que interage com a população é a alternativa ao sistema ocidental, fundado no individualismo, no consumismo e no equilíbrio entre grupos de interesse.

Para países como o Brasil, não se trata de tentar replicar o capitalismo de Estado, mas procurar melhorar a competitividade. Temos de superar a visão ingênua derivada da percepção equivocada das vantagens que a China oferece e definir nossos próprios interesses.

RUBENS BARBOSA é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp.



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