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Problemas econômicos dos EUA e da Europa podem evitar alta dos juros

Veículo: Correio Braziliense Online
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Problemas econômicos dos EUA e da Europa podem evitar alta dos juros

O aperto monetário iniciado pelo Banco Central em janeiro ainda não chegou ao fim. A despeito do claro arrefecimento da inflação, a autoridade monetária promete continuar a ajustar os juros básicos da economia (Selic). Esse foi o principal recado enxergado pelos analistas na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), quando a taxa passou de 12% para 12,25% ao ano. Com a leitura, boa parte do mercado passou a estimar pelo menos mais uma alta de 0,25 ponto percentual em julho e, na pior da hipóteses, outra em agosto. Isso é claro, se não houver uma piora substancial no mercado internacional.


A Europa está em situação complicada, com a Grécia à beira da falência e a Espanha e Portugal atolados na recessão. Nos Estados Unidos, há sinais explícitos de que a atividade não está se recuperando como o desejado, o que ajuda a empurrar as cotações das commodities (produtos básicos negociados em bolsa) para baixo.

Enquanto o caos no exterior ainda é apenas uma ameaça, os olhos se concentram em assuntos internos. E os especialistas não se intimidam em dizer que parte do aumento da Selic se deve à gastança do governo. O persistente descompasso entre a oferta de produtos e o consumo também é um fator de pressão sobre os preços. No cenário montado pelo Banco Credit Suisse, a política fiscal não terá impacto positivo sobre a inflação. Ao contrário, tende a elevar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2012 e a dificultar ainda mais a missão do BC. “As estimativas indicam que o aumento da carga tributária em 2011 elevará a inflação e reduzirá a expansão da atividade”, ponderou Nilson Teixeira em um relatório da instituição.

Ainda na visão do banco, mesmo que o setor público já tenha cumprido metade da meta fiscal deste ano, há um problema: a elevação do superavit primário (economia para pagar parte dos juros da dívida) ocorre “quase que exclusivamente” devido à alta da arrecadação.

Segundo Teixeira, o incremento do superavit com base em receitas reduzirá a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país). Entretanto, o saldo não será anti-inflacionário, pois não está calcado no corte de gastos públicos, que faria a demanda agregada contrair, diminuindo a pressão sobre os preços. Para Silvio Campos Neto, economista da Consultoria Tendências, a expansão das despesas é um combustível para o consumo e, em consequência, para o aumento do custo de vida. “A expansão dos gastos com a máquina pública e do crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) resulta em mais demanda. Por um lado, isso é bom, pois impulsiona a atividade econômica. Por outro, é negativo, porque gera pressões inflacionárias”, explicou.

 

Desafios
Um dos principais obstáculos para o BC no combate à inflação é o mercado de trabalho, considerado um “bom problema” pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo presidente do BC, Alexandre Tombini. A equipe econômica tenta conter a carestia sem sacrificar empregos e o crescimento do país. Porém, deixa evidente, na ata do Copom, a dificuldade em garantir esse equilíbrio. Visto pela autoridade monetária como “fator-chave” para garantir a sustentação do PIB, a forte criação de empregos formais tem também papel de vilão neste momento. “Um risco muito importante reside na possibilidade de concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade e as suas repercussões negativas sobre a dinâmica da inflação”, ressaltou o BC em um trecho do documento.

O economista Flávio Samara, da LCA consultoria, concorda com essa visão. A seu ver, o mercado de trabalho se tornou o principal foco de preocupação do governo. “Temos, no radar, vários riscos que podem comprometer a convergência da inflação para o centro da meta (4,5%) em 2012. Os ganhos salariais e a baixa ociosidade do mercado de trabalho são um fator de grande pressão”, disse.




Descompasso entre oferta e consumo
Na visão do economista-chefe do Espirito Santo Investment Bank, Jankiel Santos, o ganho salarial dos trabalhadores acima do ritmo de produtividade, como afirma o Banco C entral na ata do Copom, agrava o descompasso entre o consumo e a oferta de produtos. “Nesse cenário, acreditamos em ao menos mais um aperto de 0,25 ponto percentual nos juros”, disse. Em seus documentos, o BC não revela a magnitude total do ajuste, mas garante que ele será “suficientemente prolongado”.


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