Notícias

Juros altos são uma necessidade

Veículo: O Globo
Seção:
Página:

Juros altos são uma necessidade

Os índices de inflação recuaram e há sinais evidentes de redução do ritmo de atividade na economia. O Banco Central teria sido então “mais realista que o rei” ao decidir por mais um aumento na taxa básica de juros, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom)? Vista por critérios técnicos, a resposta é não, pois as expectativas quanto à trajetória da inflação ainda não foram quebradas, e sabe-se muito bem como elas são capazes de influenciar o comportamento dos agentes econômicos em relação a preços e salários.

Prova disso são as campanhas salariais em curso, com reivindicações típicas de um ambiente inflacionário.

Puxado por investimentos, a economia deverá ter um crescimento saudável, mais equilibrado, nos próximos anos. A geração de renda proveniente desse crescimento criará boas oportunidades de negócios e trabalho, e tanto melhor para todos se o país enfrentar esse desafio com uma inflação baixa, oscilando em torno do centro das metas estabelecidas pelo governo.

Ora, neste momento, mesmo levando-se em conta o patamar elevado dos juros básicos — de acordo com padrões internacionais, porém não exagerados, se observarmos o histórico dessas taxas no Brasil — , não está assegurado que a inflação convergirá para o centro da meta (4,5%) em 2012, como pretende o Banco Central. Daí os 12,25% a que a Selic chegou quarta-feira.

Interromper o aperto monetária seria, então, uma atitude precipitada. As pressões políticas para que houvesse essa interrupção aumentaram nos últimos dias, e para se quebrar as expectativas negativas no mercado era importante que o Banco Central desse uma clara demonstração de autonomia — sob desconfiança ultimamente —, baseando-se exclusivamente em critérios técnicos para tomar sua decisão em relação aos juros. Com um crescimento econômico capaz de gerar renda e empregos garantido, essa firme disposição das autoridades pode até abreviar o aperto monetário.

A inflação é um fantasma que não foi devidamente exorcizado no Brasil. Entre os economistas existe uma discussão teórica sobre qual seria de fato o Produto Interno Bruto (PIB) potencial do país, ou seja, qual o crescimento possível sem que a inflação fuja ao controle. Modelos econométricos permitem que se simule esse PIB, mas somente na prática é possível comprová-lo. Essa experiência foi percebida no ano passado, quando a economia brasileira registrou um crescimento asiático e ressurgiram pressões inflacionárias desconfortáveis (assim como a ameaça de grande desequilíbrio nas transações correntes entre o país e o exterior). Diante desta realidade, a única saída é moderar o crescimento para um ritmo que permita à economia se ajustar em sua própria dinâmica, sem malabarismos.

O Brasil sem dúvida tem taxas de juros que põem as empresas em desvantagem na concorrência internacional. Mas a economia brasileira também ainda convive com níveis de inflação bem acima dos desejáveis. Já é possível combater a inflação com juros básicos nominais bem mais baixos do que no passado recente, o que comprova uma evolução nesse processo. O país pode estar condenado a ter juros elevados para sempre.



Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar