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Governo e setor produtivo estão preocupados com a onda de greves no país

Veículo: Correio Braziliense Online
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Governo e setor produtivo estão preocupados com a onda de greves no país


Paralisação dos metroviários em São Paulo provocou o caos em São Paulo ontem (Werther Santana/AE)  
Paralisação dos metroviários em São Paulo provocou o caos em São Paulo ontem

Sem alarde, uma onda de greves toma conta do país. São Paulo, cidade mais populosa do Brasil, teve ontem um dia de cão, devido à paralisação de metroviários e ferroviários — que reivindicam aumentam de 5% — e de rodoviários da região do ABC. Muitos trabalhadores não conseguiram chegar ao emprego e estudantes desistiram de ir à escola. Uma universidade paulista chegou a abonar as faltas. No Paraná, há 30 dias, metalúrgicos da Volkswagen estão de braços cruzados, sem previsão de acordo com a empresa, pelo aumento na participação nos lucros. Em Brasília, os servidores do Judiciário estão parados há 15 dias e os rodoviários decidirão, no domingo, se suspendem as atividades. Além disso, professores da rede pública em diversos estados deixaram as salas de aula e os técnicos das áreas administrativas da Universidades prometem parar na segunda-feira.

No governo federal, apesar da decisão dos metroviários e dos ferroviários paulistas voltarem ao trabalho hoje, o clima é de apreensão. A presidente Dilma Rousseff escalou o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, para acompanhar todos os movimentos de perto. O motivo é simples: toda essa movimentação é encarada como uma prévia do que está por vir no segundo semestre, quando ocorrerão as negociações salariais de algumas das categorias mais fortes do país, como bancários, petroleiros, comerciários e metalúrgicos. O temor é de que o desgaste entre patrões e empregados seja tão forte que crie um clima de animosidade em bases importantes de apoio à administração petista.

 
Do lado dos trabalhadores, o contexto de falta de mão de obra qualificada e do forte crescimento econômico registrado em 2010 tornou a situação favorável para aumentar a pressão. Contudo, empresários vivem um momento delicado de restrição do crédito, de alta dos juros e de diminuição do consumo, por causa da inflação em alta. Alegam que, com a atividade econômica em desaceleração, não têm condições de atender a todas as reivindicações.

“A situação deve se tornar ainda pior nos próximos meses. Teremos negociações intensas nas áreas de alimentação, metalurgia, química e têxtil, além de petroleiros e bancários. Será um semestre quente”, prometeu João Carlos Gonçalves, secretário geral da Força Sindical. Ele argumentou que o comércio continua aquecido e as condições do país melhoraram. “A onda de greve é inevitável e necessária”, emendou.

Exigências
Na avaliação de Newton Marques, economista do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal e professor da Universidade de Brasília (UnB), todas as paralisações têm impacto na economia, pois causam queda na produção. “Mas, por enquanto, a situação ainda está dentro do tolerável. Categorias de setores que funcionam em regime similar a oligopólios, como bancários e petroleiros, têm maior poder de barganha para fazer exigências acima da média, porque o impacto que
causam ao parar é sentido de maneira imediata por grande parte da população. Os prejuízos são elevadíssimos”, disse. Segundo ele, o mesmo pode ser observado nos setores de transportes de massa. “Qualquer ganho acima da inflação será muito difícil de ser obtido, por conta da desaceleração da economia. Veremos uma grande queda de braço”, resumiu.

Só na fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais (PR), até agora, deixaram de ser produzidos mais de 17 mil veículos dos modelos Fox, Croosfox, Gol e Fox Europa. Isso representa um prejuízo estimado para a empresa de R$ 680,4 milhões. São cerca de 3 mil metalúrgicos parados, mas a greve gera transtornos indiretamente a um total de 25 mil trabalhadores, entre fornecedores, terceirizados e concessionárias.

“Além da PLR de R$ 12 mil, queremos remunerações equiparadas com a dos trabalhadores da Volkswagen no ABC Paulista, que chegam a ganhar até 83% a mais do que os paranaenses”, disse Jamil D’Avila, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba. A proposta apresentada pela montadora — e rejeitada pelos metalúrgicos — foi de uma PLR de R$ 5,2 mil, com possibilidade de negociação para novas parcelas. Por enquanto, não há previsão de acordo.

Na última quarta-feira, cerca de 2,5 mil trabalhadores da mina Casa de Pedra, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), encerraram uma paralisação de cinco dias. Hoje, será levada à assembleia uma proposta para reajuste de 8,3% retroativo a maio, considerado um avanço pelo sindicato Metabase Inconfidentes, que representa a categoria. A greve dos trabalhadores mineiros da CSN teve também um significado simbólico, já que as últimas greves do setor mineral no país datam da década de 1980. Em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, os terceirizados da Petrobras, que atuam na ampliação da Termelétrica Luiz Carlos Prestes, também cruzaram os braços.

No âmbito do funcionalismo, estão parados professores da rede pública de vários estados e os servidores do Judiciário e do Ministério Público da União (MPU). “Até agora, não houve ação concreta do governo e, portanto, não há previsão para voltarmos ao trabalho. Estamos sem reajuste desde 2006 e convivemos com uma defasagem de 80% nos vencimentos em comparação a categorias similares”, afirmou Verilo Leão, coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público da União no Distrito Federal (Sindijus-DF). Nos últimos dias, os moradores do Distrito Federal também sofreram com paralisações relâmpago dos rodoviários.


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