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Candidata à chefia do FMI inicia campanha pelo país, mas sai de mãos vazias

Veículo: Correio Braziliense Online
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Candidata à chefia do FMI inicia campanha pelo país, mas sai de mãos vazias


A ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, veio ao Brasil em busca de apoio para sua candidatura ao posto de diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas deixou o país sem uma declaração formal do governo. “Agora não foi o momento de assumir compromissos para o futuro, mas sim de mostrar minha proposta e me apresentar como candidata ao FMI”, disse a ministra em entrevista coletiva após reunir-se com três ministros brasileiros: Guido Mantega (Fazenda), Alexandre Tombini (Banco Central) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior).

“Procurei saber das expectativas deles sobre o cenário global e mostrar as minhas opiniões”, afirmou, procurando não demonstrar frustração pela falta de apoio. Ela afirmou que as autoridades deverão esperar para se manifestar após 10 de junho, quando acaba o período de apresentação de candidaturas.

Lagarde procurou ajustar o discurso às expectativas do Brasil e de demais países emergentes que reivindicam mais poder no organismo, alguns pressionando para que o futuro dirigente venha de fora da Europa. “Eu compartilho uma série de valores com esses ministros e todos juntos consideramos que o processo de seleção do FMI deverá ser baseado mais no mérito do que na nacionalidade”, disse. Após a visita ao Brasil, Lagarde vai à China, à Índia e ao Oriente Médio.

Christine Lagarde argumentou que não pode ser “demonizada” apenas por ser europeia. “O fato de ser francesa não deve realmente ser visto como um benefício, mas também não é necessariamente uma falha ou problema”, afirmou. Ela ressaltou que optou por começar a sua campanha ao FMI pelo Brasil devido à importância que o país ganhou no cenário internacional. A ministra declarou várias vezes estar comprometida com as mudanças em andamento no Fundo.

“Estou pessoalmente ligada à universalização do FMI e acredito que o Fundo não pertence a ninguém, mas sim à totalidade de seus membros”, disse Lagarde. Ela reiterou que dará continuidade às reformas iniciadas por Dominique Strauss-Kahn, que renunciou ao comando no dia 19 sob acusações de estupro de uma camareira de hotel em Nova York (EUA).

Fazer a primeira parada de sua campanha no Brasil foi uma escolha “pela importância que o país tem não somente pelo tamanho do Produto Interno Bruto (PIB), mas também pelo papel desempenhado no cenário internacional”. Ela declarou ter grande expectativa de obter apoio dos emergentes. “Estou muito feliz de estar no Brasil”, disse em português lento ao iniciar a entrevista ontem à tarde. “O Brasil é um dos emergentes onde as propostas e ideias contam muito.”

Mais cedo, no Ministério da Fazenda, Guido Mantega disse que ficou satisfeito com a preferência pelo país, mas afirmou que vai ouvir outros postulantes ao cargo antes de decidir quem o governo apoiará. Amanhã, ele receberá o presidente do Banco Central mexicano, Agustín Carstens, que também se apresentou para a disputa. Na quinta, o único rival de Lagarde até o momento irá se reunir com Alexandre Tombini em São Paulo.

“Temos uma preocupação muito grande com o FMI e consideramos importante que ele continue a trajetória dos últimos três anos, com maior protagonismo dos países emergentes”, disse Mantega, ao lado de Lagarde. Na avaliação dele, com uma representação maior das nações em desenvolvimento, o FMI tornou-se uma instituição mais eficiente para enfrentar grandes crises. Ele creditou essa evolução à postura de Strauss-Kahn, que adotou uma política “não ortodoxa”. “Durante a crise, o Fundo recomendou políticas anticíclicas (incentivando gastos públicos para estimular a recuperação), o que não era típico no passado. Com linhas de crédito mais flexíveis, tivemos a possibilidade de maior participação dos emergentes no Fundo”, disse.

Para tentar convencer as autoridades nacionais de que é a melhor opção para liderar o FMI, Lagarde prometeu dar continuidade à filosofia de seu antecessor. “Posso explicar que minha candidatura está inscrita na corrente de reformas iniciada por Dominique Strauss-Khan”, afirmou. Após se despedir de Mantega, Lagarde seguiu para o Banco Central, onde tinha encontro com Alexandre Tombini. Além de apresentar formalmente sua candidatura, ela escutou a opinião do BC sobre o atual momento da economia global. Tombini ressaltou a necessidade de continuar as reformas já iniciadas no FM.

Pela manhã, a ministra se encontrou com Fernando Pimentel. Na reunião, conversaram sobre a proposta para a criação de uma cesta de moedas, que seria usada como referência nas transações financeiras e comerciais no mundo. Questionada sobre o câmbio, ela apenas afirmou que a desvalorização do dólar tem impactos diferentes nas economias e destacou que fortes oscilações precisam ser evitadas.

O Brasil indica o diretor-executivo do Fundo em um grupo com 2,79% dos votos, que inclui outros oito países: Colômbia, Equador, Guiana, Suriname, Panamá, Trinidad e Tobago, Haiti e República Dominicana. De acordo com o diretor-executivo do bloco no FMI, Paulo Nogueira Batista Jr., antes de declarar o voto, o país irá ouvir todos por telefone ou carta para chegar a um consenso sobre o voto. A escolha do novo comandante do organismo está prevista para 30 de junho.



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