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Capital estrangeiro veio para ficar

Veículo: O Globo
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Capital estrangeiro veio para ficar

Os crescentes fluxos de capital para os países emergentes não são mais temporários. E a maioria das aplicações deixou de ser especulativa: os investidores apostam, agora, na perspectiva de bom retorno tanto a médio quanto a longo prazo. Por isso, os governos que mantiverem um regime econômico estável serão beneficiados, desde que tenham ferramentas eficazes para lidar com os riscos de tal abundância — como pressões inflacionárias, valorização da moeda, demanda agregada e crédito excessivo para os consumidores.

Essa foi a conclusão das discussões ontem entre banqueiros, acadêmicos, autoridades da área econômica de vários países e técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI), em seminário promovido por este no Rio, com patrocínio de Ministério da Fazenda e Banco do Brasil. O tema é “Como administrar fluxos de capital em países emergentes”.

— O mundo está mudando. Pela primeira vez está havendo uma diversificação, de fato, nos mercados. Isso (o fluxo abundante para os emergentes) é a nova norma, e chegou para ficar — disse o representante de uma das maiores financeiras globais.

O FMI determinou que os jornalistas convidados para os debates, ontem e hoje, não revelassem os autores das opiniões expostas. Um dos banqueiros, refletindo o clima de otimismo cauteloso, disse que o acúmulo das reservas internacionais dos emergentes está a ponto de criar um novo fenômeno:

— Podemos estar chegando à curiosa situação em que os emergentes invistam essas injeções de capitais em outros países emergentes.

O FMI ainda não sabe lidar com essa questão de forma efetiva. O único consenso é o de que não existe um remédio que funcione para todos. Quebrando a regra do silêncio, Min Zhu, assessor especial do diretor-gerente da instituição, falou oficialmente ao admitir a situação:

— Nós não temos todas as respostas. É por isso que estamos aqui nessa discussão.

No seminário, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sugeriu que todos os países adotem o sistema de flutuação cambial, para reduzir a manipulação do câmbio. E disse que, para administrar melhor o fluxo global de capitais, seria necessário que os países ricos saíssem mais rapidamente da crise e que houvesse uma reforma financeira global.

Lagarde visitará Brasil e China em breve

Mantega citou outros fatores que contribuíram para esse excesso de capitais: as diferentes taxas de crescimento dos países, os desequilíbrios fiscais nas nações ricas, a alta das commodities e a desregulamentação do setor financeiro mundial. E garantiu:

— É muito melhor perder o sono pelo excesso de capital do que pela falta dele, como acontecia no passado.

Ele ressaltou que as medidas do governo para tentar conter a alta do real têm sido eficazes e que, se não fosse por elas, a moeda americana estaria “em torno de R$1,30, R$1,40”.

A ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, revelou ontem que planeja visitar em breve países emergentes, como Brasil e China, em busca de apoio à sua candidatura ao FMI. Não há datas marcadas.



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