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Real valorizado, rotina que veio para ficar

Veículo: O Globo
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Real valorizado, rotina que veio para ficar

O Brasil terá de se acostumar a ser um país de moeda forte, e precisará aprender a conviver com um intenso ingresso de capital estrangeiro. Isso é o que mostra um levantamento feito com exclusividade pela Austin Rating para o GLOBO com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

De acordo com o trabalho, a partir da década de 90, após a crise asiática, os países emergentes fizeram ajustes e conquistaram estabilidade econômica, entrando no radar dos investidores. Ao mesmo tempo, os desenvolvidos, com menor potencial de crescimento como mercados consumidores, perderam espaço no Produto Interno Bruto (PIB) mundial.

Esse fenômeno também se refletiu no câmbio, com o enfraquecimento de várias moedas e o fortalecimento de outras. Segundo o estudo, o real vem mantendo uma tendência de valorização frente ao dólar. Em dezembro de 2002, a moeda americana foi cotada a R$3,63. Passou para R$2,93 em 2003 e, dois anos depois, caiu a R$2,72. Em março, estava em R$1,66.

O trabalho da Austin Rating destaca ainda que a participação americana no PIB mundial teve seu pico em 1985, quando chegou a 35,28%, sendo que o percentual deverá cair para seu nível mais baixo em 2020 — 19,24%.

Já a participação do Brasil deverá crescer. Em 1984, nunca foi tão pequena: 1,38%. As projeções da Austin indicam que ela mais que dobrará, mas, mesmo assim, não passará de 3,75% do total em 2020.

— O material deixa evidente que o problema do dólar fraco ou do real valorizado não será resolvido apenas com aumento dos juros nos Estados Unidos e na Europa, com a redução no Brasil ou, ainda, com as medidas burocráticas e arrecadatórias adotadas recentemente. O problema é estrutural. Há décadas, os Estados Unidos e a Europa perdem sua hegemonia econômica, enquanto os países periféricos, por exemplo, os do Bric (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), estão aumentando fortemente sua participação — afirma o economista-chefe da Austin, Alex Agostini.

 

Economistas querem indústria forte e reformas

 Diante desse fenômeno, o economista defende que, em vez de tentar segurar o dólar, o governo aja de maneira mais firme na adoção de medidas que preparem o Brasil para sua nova condição. O caminho, segundo Agostini, é garantir competitividade à indústria nacional e lançar mão, o mais rapidamente possível, de reformas como a tributária e a previdenciária.

Para o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca, as medidas que o governo vem adotando para minimizar os danos provocados pelo câmbio à indústria brasileira são muito tímidas. Uma delas foi a aceleração do pagamento de parte dos créditos de tributos que incidem sobre a compra de matérias-primas dos exportadores. As regras foram anunciadas no início de 2010 para dar mais capital de giro às empresas, mas, até agora, menos de cem companhias, num total de 15 mil exportadores, conseguiram utilizar o benefício.

— O pacote foi, de fato, mais uma tentativa de embrulhar os contribuintes exportadores — afirma Giannetti.

Para o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a situação do câmbio é irreversível e a saída para garantir competitividade está nas reformas e no desenvolvimento da infraestrutura do país:

— Só reclamamos da atual taxa de câmbio porque temos um sistema tributário caótico, uma carga gigantesca. Não temos infraestrutura e precisamos sustentar rombos previdenciários. Isso sem falar na burocracia.



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