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Como o algodão virou vilão

Veículo: Blog da Indústria Têxtil
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Como o Algodão Virou Vilão

Acotação no mercado internacional começou a acelerar em junho de 2010 e atingiu o ápice em março, com sinais de leve recuo em abril




Em fevereiro deste ano, a cotação média mensal do algodão produzido no Brasil alcançou o maior valor desde janeiro de 2004. O preço médio pago ao produtor brasileiro da fibra no segundo mês de 2011 foi de R$ 128,17 por arroba. Há sete anos, o valor no início do ano, que até o momento era o mais alto da série histórica brasileira, havia sido de R$ 115,52 por arroba, descontada a inflação medida pelo IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas.

Após o recorde histórico de fevereiro, a cotação do algodão se elevou ainda mais em março, ficando, na média mensal, em R$ 131,46 por arroba. Aparentemente, esse foi o pico, porque em abril os preços começaram a ceder. Os valores registrados surpreendem pela grande variação em curto período de tempo.

A partir de junho de 2010, os preços do algodão dispararam no mercado internacional. Mas antes disso, a cotação vinha variando desde o final de 2009, com altos e baixos. Lucílio Alves, economista e pesquisador do CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP), explica que um dos gatilhos para essa alta foi a crise financeira de 2008, que afetou fortemente grandes economias, como Estados Unidos e Europa.



O consumo nesses mercados caiu e provocou a fuga dos produtores para culturas mais rentáveis, como arroz, soja e milho, reduzindo o tamanho das safras de algodão. À medida que a economia mundial começou a dar sinais de recuperação, a demanda ressurgiu. Mas os estoques não foram suficientes para abastecer todo o mercado, o que levou a uma ascensão constante dos preços em todo o mundo.

A ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) aponta outros fatores, citando a quebra de safra no Paquistão, o quarto maior produtor mundial de algodão, atrás de China, Estados Unidos e Índia, comprometida por excesso de chuva; a decisão do governo da Índia de ampliar as restrições à exportação de algodão; e a especulação de investidores financeiros, que aproveitaram o momento para aplicar em commodities.

Denim mais caro
O Brasil está posicionado entre os dez maiores produtores de algodão do mundo. De um lado, os agricultores se beneficiaram com a alta. A ABIT afirma que “o encarecimento do algodão prejudicou a indústria como um todo, mas, sobretudo, as empresas de pequeno e médio porte”. Assim como outros produtos, cujo principal insumo é o algodão, o denim ficou mais caro. O preço do metro foi reajustado em outubro, com o maior impacto do algodão sendo absorvido pela indústria. O repasse maior foi feito entre janeiro e fevereiro. Nova alta estava prevista para junho.

Os dados da cotação do algodão, que servem de referência para o preço da commodity no país, são do CEPEA/ESALQ/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP), que desde julho de 1996 faz uma média diária com base em informações de 150 agentes econômicos do setor. Segundo Alves, do CEPEA, em um curto período foi registrado o menor e o maior preço pago ao produtor desde a criação do índice, há 15 anos. Em dezembro de 2008, a média mensal foi a menor, ficando em R$ 41,79 por arroba. Entre o ponto mais baixo e o mais alto da série histórica, com diferença de apenas 27 meses, houve aumento de 214%.

Como resultado desse cenário, o índice ESALQ aponta aumento de 140% entre março de 2011, em comparação a março de 2010. Internacionalmente, a tendência observada foi a mesma. O “A Index”, índice divulgado pelo National Cotton Council, entidade norte-americana que monitora os preços do algodão, subiu 167% no mesmo período. A partir de meados de março, no entanto, a curva de preços sofreu a primeira queda em nove meses, indicando uma mudança de tendências.



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