Notícias

Governo quer Atrair Capital Chinês para Fundos de Infraestrutura

Veículo: Valor Econômico
Seção:
Página:

Governo quer Atrair Capital Chinês para Fundos de Infraestrutura



PEQUIM - O governo brasileiro deve discutir com a China a autorização para que investidores chineses possam aplicar em títulos de longo prazo e fundos de infraestrutura no Brasil, a serem criados com a regulamentação da Medida Provisória 517. A proposta, segundo informou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Base (Abdib), Paulo Godoy, poderia canalizar parte da poupança de longo prazo chinesa ou mesmo os fundos soberanos do país para papéis atrativos financeiramente, emitidos por empresas brasileiras destinados a obras de infraestrutura no país.

"Não precisamos que a China vá ao Brasil investir em porto, precisamos é de funding (financiamento)", disse Godoy. Os investidores externos são isentos de imposto de renda na aplicação em papéis ou cotas de fundos de investimento majoritariamente dedicados a projetos de infraestrutura, de acordo com a medida provisória. "Os investidores não necessitarão operar os projetos, de portos, energia alternativa, aeroportos, apenas comprar títulos financeiros para financiar esses investimentos." Godoy informou que espera a aprovação e regulamentação da medida provisória a tempo de permitir o começo de operações desses fundos em 1º de maio.

Como outros empresários que acompanham a missão de pelo menos 200 executivos em visita à China durante a visita da presidente Dilma Rousseff ao país, Godoy atribui as dificuldades de exportação brasileira de produtos de maior valor agregado à China aos problemas internos do país, como o câmbio valorizado do real em relação ao dólar. "Não é fácil exportar à China, mas se o americano e o europeu exportam, temos de encontrar um caminho", comentou o diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, Norton Rapesta.

O Conselho Empresarial Brasil-China defende maior pressão do governo brasileiro sobre os chineses para retirar barreiras que hoje impedem maior agregação de valor aos produtos exportados pelo Brasil à China. Um dos problemas, segundo aponta o presidente do conselho, o ex-ministro do Desenvolvimento Sérgio Amaral, é a chamada escalada tarifária, que onera mais a importação de bens de maior valor agregado, como o óleo de soja, sujeito a tarifa de 9%, bem superior aos 2% do grão da leguminosa. O conselho reconhece, segundo Amaral, que é o setor do agronegócio, por sua maior competitividade, o que reúne maiores condições de exportar bens de maior valor à China.

"Tudo na China tem uma dimensão empresarial e uma de governo", comentou. "Precisamos do governo para ter maior previsibilidade nessa relação." Segundo Amaral, os sinais de maior receptividade do governo chinês às demandas brasileiras e os projetos de associação entre os setores privados dos dois países serão avaliados no segundo semestre do ano, quando se reunirá a Cosban, comissão de alto nível China-Brasil.

"A gente precisa saber, em cada setor, o que a indústria pretende fazer em 20 anos", argumentou o secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Alessandro Teixeira. Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, as condições de competitividade do Brasil impedem as tentativas de ampliar o valor agregado da maioria dos manufaturados a serem vendidos pelo Brasil à China.

"Da porta da fábrica para dentro somos competitivos, mas perdemos competitividade na razão inversa da valorização do câmbio", queixou-se o vice-presidente da Associação Brasileira de Máquinas, José Velloso Dias Cardoso, que também levanta suspeitas de irregularidades na competitividade chinesa. "Na China, o preço médio das máquinas é de US$ 4 por quilo, menor que o custo da matéria-prima, e bem abaixo da média internacional, de US$ 25", acusa.

"Estamos cercados de roubalheira, mas recuperamos três pontos percentuais de 'market share' (fatia de mercado) da concorrência neste ano, para 55% do total", disse o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), um dos setores beneficiados por medidas antidumping contra a China. "Não se pode dizer que não investimos, somos os maiores usuários do cartão BNDES, com US$ 2 bilhões em financiamentos", ponderou o diretor-executivo da Associação Brasileira de Indústria Têxtil, Fernando Pimentel. (SL)


Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar