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Contas externas têm o pior primeiro bimestre da história

Veículo: DCI
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Contas externas têm o pior primeiro bimestre da história

O déficit em transações correntes do balanço de pagamentos do Brasil com o exterior no primeiro bimestre deste ano, de US$ 8,8 bilhões, é o maior da série para os dois primeiros meses do ano. A série do BC para este indicador teve início em 1947. Segundo o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, o déficit de fevereiro, de US$ 3,391 bilhões, é o maior para o mês desde 2007.

Túlio Maciel avaliou que o resultado reflete sobretudo a piora da conta de serviços do balanço de pagamentos. Pesaram para o resultado negativo da conta de serviços os gastos com transportes, viagens internacionais e aluguel de equipamentos. Para todos os três itens, o resultado de fevereiro foi o pior para o mês da série histórica. O chefe do Depec disse ainda que o aumento das despesas de serviços reflete o ciclo de crescimento econômico.

Ele destacou, no entanto, que apesar do resultado negativo das contas externas, as condições de financiamento continuam muito favoráveis para o Brasil. Isso foi um dos motivos que fizeram o BC elevar em US$ 10 bilhões a estimativa de Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil (IED), de US$ 45 bilhões para US$ 55 bilhões em 2011. Maciel previu continuidade de fluxos positivos de IED para o Brasil.

Ele destacou ainda que a principal revisão das previsões do BC foi do superávit da balança comercial, que subiu de US$ 11 bilhões para US$ 15 bilhões. Ele atribuiu a mudança à expectativa de exportações mais robustas ao longo do ano.

Maciel informou ainda que o fluxo de IED em março até o dia 25 soma US$ 4,4 bilhões. Para o mês fechado a previsão é de US$ 4,8 bilhões de IED. Ele destacou também que os investimentos em serviços de telecomunicações estão sendo o destaque em 2011, mas avaliou que tem havido uma disseminação dos investimentos. Para o déficit em conta corrente em março, Maciel estimou US$ 5,4 bilhões.

Túlio Maciel admitiu que o BC não tem controle do que ocorre com os recursos de IED depois que eles entram no País. Apesar disso, ele disse que o BC não vê indícios de irregularidades no ingresso desses recursos, que estão sujeitos a um registro específico, que depois é a referência que as empresas usam para poder fazer remessas de lucros e dividendos ao exterior. "Agora, depois que o dinheiro entra no capital da empresa, na tesouraria, aí o BC não tem como acompanhar como ele é utilizado", afirmou. Maciel explicou também que se a empresa quiser fazer o retorno do IED, basta reverter a operação e fazer a declaração e o registro no BC. De acordo com ele, a maior parte das operações de IED é de mais de US$ 10 milhões e, por isso, na sua avaliação, são mais fáceis de serem acompanhadas.

Apesar de o BC não ver irregularidades no IED, fontes do governo estão preocupadas com a possibilidade de estrangeiros estarem utilizando IED para driblar a taxação do IOF sobre renda fixa.



Gastos no exterior



O gasto dos brasileiros com viagens ao exterior somou no primeiro bimestre o valor recorde de US$ 3,07 bilhões, volume 38,3% superior ao verificado em igual período do ano passado. Por outro lado, as receitas recebidas de estrangeiros que visitam o Brasil cresceram em um ritmo mais lento no período (8,5%), o que fez o déficit na conta de viagens atingir o também recorde valor de US$ 1,91 bilhão no primeiro bimestre do ano, com alta de 66,7% sobre igual período do ano passado. De olho nesses números, o governo resolveu aumentar a taxação sobre os cartões de crédito, que representam mais da metade dos gastos nessa conta.

Além do impacto negativo gerado pela conta de viagens, Maciel avaliou que o resultado da conta corrente reflete de maneira mais geral os déficits na conta de serviços, que registra também gastos com transportes, aluguel de equipamentos, ambos recordes mensais, entre outros itens. Além disso, a conta de rendas, com as remessas de lucros e dividendos mais que dobrando no primeiro bimestre, também influenciaram o saldo negativo da conta corrente do País.

Para o diretor de Pesquisa da associação Brain e professor da FIA/USP André Sacconato, a expectativa de déficit externo do BC está mais realista. Para ele, o nível esperado é plenamente financiável e sustentável, levando-se em conta o tamanho da economia brasileira. Em relação ao desempenho deficitário cada vez maior da conta de viagens, Sacconato salientou que o movimento reflete o aumento da renda e o real valorizado ante o dólar, além da recessão dos países desenvolvidos, que torna os preços externos mais baratos e estimula viagens de brasileiros a outros países.



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