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China troca bugigangas por máquinas e preocupa o governo brasileiro

Veículo: O Globo
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China troca bugigangas por máquinas e preocupa o governo brasileiro

A ameaça que vem da China já não se resume a produtos de baixa qualidade ou valor agregado. Os chineses já são o segundo maior fornecedor de bens de capital do país, com máquinas cada vez mais sofisticadas, perdendo apenas para os americanos. Equipamentos com componentes de alta tecnologia produzidos na própria China ou no exterior vêm engordando a pauta de exportações dos chineses e acirrando a disputa com os equivalentes nacionais.

Se em 2004 a China fornecia 2,1% das máquinas e equipamentos importados pela indústria brasileira, o país fechou 2010 com uma fatia de 12,9%, desbancando os alemães, que caíram para o terceiro lugar. Em janeiro deste ano, os chineses já detinham 14,7% do mercado nacional. Os dados são da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

— A preocupação com a China das bugigangas acabou. O país começou com bens intensivos em trabalho, assim como o Japão no pós-guerra. Agora, eles estão queimando etapas. O setor de telecomunicações, por exemplo, teve mais patentes registradas do que a soma de todos os concorrentes pelo mundo — afirma o diretor de Economia e Estatística da Abimaq, Mario Bernardini.

Produtos de baixa qualidade têm agora novas origens

A diversificada pauta de exportações da China e o aumento da qualidade de seus produtos estão no topo da lista de preocupações do governo. Segundo o secretário Executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), Alessandro Teixeira, o governo subestimou o potencial de crescimento da China e agora vai mudar seu enfoque. A Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP2) vai se adequar à nova configuração internacional da China.

— A China é um dos elementos centrais no PDP. É competitiva em qualquer setor, até naqueles que não produz — afirma o secretário.

A mudança do perfil das exportações chinesas já começa a ser sentida pelo setor produtivo brasileiro. Os itens de baixa de qualidade, que usam mão de obra intensiva, estão sendo transferidos para Vietnã, Sri Lanka, Índia, Indonésia e Malásia. Fontes do setor automotivo já identificam algumas substituições em autopeças e pneus antes oriundos da China.

— A China está se especializando. As exportações de produtos de baixa qualidade vão sendo terceirizadas para os países onde o custo da mão de obra é mais baixo — diz o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Bernardini, da Abimaq, afirma que a China vem investindo pesado em infraestrutura e tem uma estrutura tributária menos onerosa que a brasileira. Ele ainda acusa o câmbio valorizado e os juros elevados de prejudicarem a indústria nacional.

Saltam compras de Índia, Vietnã e Indonésia

As exportações da China para o Brasil fecharam 2010 com o recorde de US$25,59 bilhões, 60,85% a mais que no ano anterior. Também cresceu de maneira expressiva o volume de mercadorias vendidas ao Brasil por países considerados como substitutos dos chineses. As exportações da Índia passaram de US$2,19 bilhões em 2009 para US$4,24 bilhões no ano passado, um salto de 93,02%. As da Indonésia saíram de US$987 milhões para US$1,51 bilhão no mesmo período (alta de 53,74%), e as do Vietnã, de US$219 milhões para US$473 milhões (aumento de 115,46%).

Por isso, o governo deverá usar pela primeira vez uma lei que permite frear importações de países que sejam parte de triangulação. Está em preparação uma medida antidumping sobretaxando as importações de calçados provenientes de Vietnã, Malásia e Cingapura.



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