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Queda do dólar na mira do governo

Veículo: O Globo
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Queda do dólar na mira do governo

A nova queda do dólar na semana passada — quando a moeda americana recuou a um patamar inferior a R$1,65, fechando na sexta-feira a R$1,645, menor cotação desde agosto de 2008 — reacendeu a luz amarela na equipe econômica e esquentou o debate sobre novas medidas que podem ser adotadas pelo governo para conter a apreciação do real. Ontem, o dólar subiu 0,72%, para R$1,657, em meio a rumores de que seriam anunciadas novas ações pelo governo ainda esta semana. O Banco Central (BC) chegou a atuar no mercado, com um leilão de compra de dólares à vista.

O arsenal à disposição do governo para evitar o derretimento do dólar, no entanto, é visto com cautela pelos economistas, diante do movimento internacional de desvalorização da moeda americana e da força de atração de recursos estrangeiros — que pressionam o dólar para baixo — exercida pela elevada taxa de juros no país.

As armas possíveis são as de sempre: novo aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para a entrada de capital estrangeiro no país na renda fixa, a criação do IOF para renda variável, a imposição de uma quarentena para esses recursos — prazo mínimo para a permanência no país — ou um controle de capital mais rígido. Um terceiro caminho seria a combinação das duas medidas. Outra possibilidade sobre a mesa seria colocar o Fundo Soberano para atuar no mercado comprando dólares.

Mas uma nova intervenção no câmbio neste momento não é consenso entre técnicos do governo. Parte da equipe defende que o cenário internacional ainda é incerto. Além disso, o Banco Central Europeu já sinalizou que voltará a subir juros em breve. Esse mesmo movimento é esperado por parte dos EUA no segundo semestre.

— Tudo isso vai afetar o fluxo de capitais no mundo e pode reduzir um pouco a entrada de dólares no Brasil — disse um técnico.

Juro alto dificulta ação no câmbio

Além disso, o governo sabe que suas tentativas de segurar o câmbio até agora tiveram efeito residual. Embora já tenha aumentando o IOF duas vezes — de 2% para 4%, e depois para 6% — e fechado brechas à entrada de capital com mais tributação para operações com derivativos, a cotação da moeda americana tem caído sucessivamente.

— O que preocupa é a volatilidade. Isso acaba com a previsibilidade sobre os negócios das empresas — disse o técnico.

No mercado financeiro, a expectativa é que o governo lance mão de “mais do mesmo”, ou seja, anuncie algo semelhante ao que já vem sendo adotado nos últimos meses. Atitudes mais fortes, como o controle de capitais, segundo analistas, poderiam ser mal recebidas e acarretar uma valorização forte e rápida da moeda americana.

— Como o dólar atingiu nova mínima, fica mais forte a expectativa de anúncios. O governo está muito incomodado (com o nível do dólar), e acredito em novas medidas até sexta-feira — afirmou o tesoureiro do Banco Modal, Luiz Eduardo Portella.

Para o presidente do Grupo Fitta — que atua no mercado de câmbio —, André Nunes, a adoção do controle de capitais estrangeiros, com regulação de volumes e taxas, é uma medida muito traumática e pouco provável. Ele também acredita em novas medidas em linha com o que já está em curso.

Os analistas lembram que qualquer medida para conter a queda do dólar, no entanto, enfrenta a “concorrência” da política atual de juros do BC para combater a inflação. Os estrangeiros vêm ao mercado brasileiro em busca de juros elevados, especialmente agora que o BC elevou a Selic para 11,75% ao ano e, no mercado, a expectativa é que a taxa seja elevada novamente nos próximos meses. Nos EUA, a taxa básica de juros está entre zero e 0,25% ao ano. Na Europa, é de 1%.

Para o economista Fabio Kanczuk, da USP, medidas como controle cambial e quarentena têm impacto temporário, já que os operadores do mercado acabam driblando as restrições. Ele acredita que não há uma discussão efetiva dos custos dessas medidas:

— O governo gasta cerca de US$30 bilhões por ano para manter reservas internacionais de US$300 bilhões. O dinheiro poderia ser usado para ampliar ações sociais, desonerar os exportadores e ampliar a infraestrutura.

Já Antônio Correa de Lacerda, professor da PUC-SP, defende que as medidas incluam mais uma elevação do IOF e quarentena. Ele acredita que isso assustaria os especuladores, sem desestimular o investimento produtivo:

— O câmbio valorizado só nos enfraquece.

Ontem, o Ibovespa caiu 1,10%, aos 67.263 pontos, puxado pelo mercado externo e pela queda nas ações de Vale e Petrobras. Por causa do feriado, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) só operou à tarde.



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