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Alta do algodão eleva vestuário em 30%

Veículo: Hoje em Dia
Seção: Economia e Negócios
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Alta do algodão eleva vestuário em 30%

O insumo, que subiu 161% nos últimos 12 meses, já pressiona os custos das coleções outono-inverno 2011


O aumento de 161% sobre a cotação do algodão nos últimos 12 meses terá impacto nas coleções da temporada outono/inverno 2011. As novas peças, que entram em cena a partir do próximo mês, custarão cerca de 30% mais do que em 2010. E a tendência é que os preços subam ainda mais ao longo deste ano.


Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea) mostram que os preços da principal matéria-prima dos tecidos segue em escala crescente no mercado internacional. Em fevereiro de 2010, o algodão era vendido por R$ 1,42 por libra peso, a medida utilizada para comercialização do produto. Agora, o valor se elevou para R$ 3,71 por libra peso. Quando comparado com 2009, período em que ele custava R$ 1,15 por libra peso, a diferença de preços fica com um percentual ainda maior: 222%.


Segundo o pesquisador da Cepea, Lucílio Alves, a explicação para esse aumento é a falta da matéria-prima no mercado mundial. “Com a crise econômica internacional, o preço do algodão caiu muito, o que levou os produtores a reduzirem a produção. Só que a demanda pelos produtos têxteis se recuperou de forma mais rápida do que as expectativas e o mercado de algodão não conseguiu acompanhar”, explica. Com o aumento da demanda interna por tecidos e déficit de algodão no país, a tendência é que neste ano o preço da matéria-prima continue em ascensão.


Segundo Alves, o país produziu no ano passado 1,2 milhão de toneladas de algodão e importou cerca de torno de 50 milhões. A estimativa é que em 2011 sejam importadas 300 milhões toneladas de algodão para atender ao mercado doméstico. “As empresas do setor têxtil estão pagando o preço dessa falta de matéria-prima. Sem condições de absorver todo o aumento, os empresários estão repassando para o consumidor o alto custo do insumo. Como não dá para aumentar em quase 200%, eles estão diminuindo suas margens de lucro”, afirma o pesquisador do Cepea.


O presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário do Estado de Minas Gerais (Sindvest-MG), René Wakil Júnior, conta que as fábricas de tecido já estão vendendo o produto pelo menos 40% mais caro, o que vai elevar o preço das roupas vendidas nesse ano. “Com a indústria têxtil repassando o aumento no custo do algodão, a alta no preço chega à roupa também”, afirma. Ele estima que os preços da nova coleção para o consumidor final estarão com um reajuste de aproximadamente 30%.


O diretor comercial da Coteminas, Mário Sette, avalia que o repasse para o consumidor pode chegar aos 40%. Para ele, essa é uma situação que não deve se modificar facilmente. “As novas coleções começam refletindo esses novos preços e a tendência é continuarem aumentando. Vamos ter que conviver com isso porque a matéria-prima está em um novo patamar de valor”, afirma.


O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Aguinaldo Diniz Filho, explica que outra dificuldade enfrentada pela indústria têxtil é a concorrência com a China. “Não dá para concorrer com a China porque ela tem uma série de incentivos governamentais que não temos. A nossa indústria está cada vez mais fraca diante dessa concorrência porque precisamos desonerar nossa folha de pagamento, acabar com os encargos sobre a exportação e ter reforma tributária”, afirma.


Para se ter uma ideia de quanto o mercado doméstico está aberto para produtos estrangeiros, o aumento das importações na indústria têxtil foi de 56% entre 2009 e 2010. Segundo dados da Abit, elas passaram de 192 mil toneladas para 301mil toneladas no período. O país que mais exportou para o Brasil foi a China, que faturou US$ 2,148 bilhões nessa transação. Em seguida veio a Índia, que vendeu US$ 313 milhões para o país.


Consumo de têxteis deve crescer 54,6% até 2014


Mesmo com os preços cada vez mais altos, a demanda pelos produtos têxteis cresce a cada dia. A estimativa da Associação Brasileira da Indústria Têxtil é que entre 2010 e 2014 o setor registre um crescimento de 54,6%, passando dos atuais 12,8 quilos por habitante para 19,8 quilos. A projeção leva em conta o crescimento da renda dos brasileiros. “O mercado interno está consumindo grande parte do que produzimos. A demanda doméstica é a grande força do Brasil”, afirma o presidente da Abit, Aguinaldo Diniz Filho.


Ainda de acordo com dados da associação, 97% do faturamento do setor, ou US$ 50,6 bilhões, vêm de vendas no Brasil. Somente 3% do total vêm de fora, ou US$ 1,4 bilhões. “O mercado de vestuário é sempre muito sensível ao crescimento. Esse vai ser um ano bom do ponto de vista de negócios. Estamos em uma situação de pleno emprego e a primeira coisa que as pessoas fazem quando conseguem um novo emprego é comprar uma roupa”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário do Estado de Minas Gerais (Sindvest MG), René Wakil Júnior.


Diante do aumento da demanda por vestuário, o mercado espera também por um crescimento do setor têxtil neste ano. A estimativa é de um crescimento de 3,5% em relação a 2010 e uma geração de 40 mil empregos formais, segundo projeções da Abit.


O diretor comercial da Coteminas, Mário Sette, também credita os bons resultados de vendas ao crescimento econômico. “O mercado está favorável por causa do aumento do emprego e da renda. Sem contar que a construção civil está aquecida. Isso significa que as pessoas estão comprando imóveis e vão querer adquirir produtos para a casa, como roupas de cama novos, por exemplo”, afirma.


Falta de mão-de-obra é novo gargalo


A empresa Tear Têxtil é uma das que apostam em um bom ano. Segundo o químico da empresa, Ermânio Álvares Martins, a indústria, que atua desde 2000 em Minas Gerais, investiu em novos teares para aumentar a produção. Ele conta que a maior dificuldade enfrentada pela fábrica agora é a de encontrar mão-de-obra qualificada. “Estamos contratando e capacitando novos profissionais para trabalhar com a gente. Não estamos encontrando profissionais prontos para atuar”, conta.


O presidente da Companhia Industrial de Cataguases, José Inácio Peixoto Neto, conta que a perspectiva é de uma expansão da ordem de 7% neste ano, mas há dificuldades para crescer. “Falta vontade política para reformas tão necessárias, como a reforma política, fiscal, tributária e trabalhista, além de investimentos em infraestrutura.



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