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Janeiro mostra aumento disseminado de preços

Veículo: Valor Econômico
Seção: Brasil
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Janeiro mostra aumento disseminado de preços

Dois indicadores importantes divulgados ontem mostraram pressões inflacionárias relevantes no atacado e no varejo, que não se limitam a elevações sazonais de preços e nem se concentram apenas em alimentos. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,83% em janeiro, com alta expressiva de tarifas de ônibus, alimentos e serviços, na maior variação para esse mês desde os 2,25% de janeiro de 2003. Em 12 meses, o IPCA sobe 5,99%.

O Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) aumentou 0,98%, impulsionado pela alta no atacado de 1,9% dos produtos agropecuários, como algodão, milho e café, e de 0,62% dos industriais, como o minério de ferro. Em 12 meses, as cotações agropecuárias acumulam variação de 28,4%.

Para o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, essa alta dos produtos agropecuários no atacado deve produzir impactos no varejo já em fevereiro, sendo um dos motivos pelos quais ele projeta um IPCA de 0,94% neste mês. O efeito dos reajustes das mensalidades escolares, captado pelo indicador apenas em fevereiro, será a outra grande fonte de pressão. A economista Laura Haralyi, do Itaú Unibanco, aposta em 0,8%, ainda assim um número forte.

Laura diz que o IPCA de janeiro foi afetado por movimentos sazonais, mas ressalta que as pressões não se restringem a eles. Os núcleos, que buscam excluir ou diminuir o peso dos itens mais voláteis, subiram bastante, observa ela. O indicador que tira do cálculo dois tipos de combustíveis e dez alimentos no domicílio aumentou 0,76% em janeiro, elevando o acumulado em 12 meses para 5,64%, bem acima do centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%.

Outro sinal de que as pressões são disseminadas é o comportamento do índice de difusão, que mede o percentual de itens que tiveram variação positiva, aponta a economista Tatiana Pinheiro, do Santander. Em janeiro, o indicador que exclui os alimentos em domicílio ficou em 67,6%, bem mais que os 60,4% de dezembro de 2010.

Uma das pressões sazonais do indicador de janeiro apareceu no grupo de transportes. Ele subiu 1,55%, muito influenciado pelo aumento de 0,84% dos combustíveis e de 4,13% das tarifas de ônibus. Só esse último item contribuiu com 0,16 ponto percentual, ou 19%, da alta de 0,83% do IPCA, que capturou uma variação das passagens de 5,23% em Recife, de 7,39% em Salvador, de 6,52% em Belo Horizonte e 8,52% em São Paulo.

Os alimentos tiveram mais uma alta forte em janeiro, de 1,16%. Ainda que inferior ao 1,32% de dezembro, esses produtos responderam sozinhos por 32% do IPCA.

O comportamento dos serviços também desagradou os analistas. O grupo formado por itens como aluguel, condomínio, mensalidades, cabeleireiro e empregado doméstico teve alta de 0,87% em janeiro, elevando a variação em 12 meses para 7,88%, nível que não se observava desde 1997. O item aluguel subiu 1,23%, bastante influenciado pela elevada inflação passada. Os serviços também seguem pressionados por causa do mercado de trabalho aquecido, o que abre espaço para reajustes mais significativos. O item barbeiro aumentou 1,55% e conserto de automóvel, 0,99%.

No IGP-DI, as altas mais salgadas foram dos produtos agropecuários no atacado. O coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros, nota que o algodão em caroço subiu de 18%, muito mais que os 3,99% de dezembro de 2010. "Em 12 meses, o produto acumula aumento de 138%", destaca ele, lembrando que esse movimento tem impacto relevante na cadeia têxtil. Os fios de algodão subiram 13,63% no mês passado e 51,76% em 12 meses.

Outros produtos que tiveram aumentos expressivos foram o milho em grão (6,59%) e o café em grão (8,12%). São movimentos que refletem a disparada das commodities no mercado internacional, diz Quadros. No atacado industrial, uma das altas mais fortes foi do minério de ferro, que subiu 3,69%. A pressão das commodities fez Tatiana, do Santander, revisar para cima suas projeções para o IPCA neste ano, de 5,5% para 6,1%, e também o IGP-DI, de 4,7% para 8,7%. "Agora trabalho com alta de 15% das commodities no ano. Antes, acreditava em estabilidade."

Os preços ao consumidor subiram 1,27% no IGP-DI, bastante influenciados pela alta de 4,01% do grupo educação, leitura e recreação. No indicador da FGV, os reajustes de mensalidades escolares aparecem em janeiro, e não em fevereiro, como no IPCA.

Romão revisou ligeiramente a sua previsão para o IPCA de 2011, de 5,1% para 5,2%. Ele tem um cenário menos pessimista para commodities. Prevê um aumento de 6% para alimentos, bem menos que os 9% estimados por Tatiana.



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