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Efluentes podem ser fonte para irrigação
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Efluentes podem ser fonte para irrigação
"O governo é amplamente favorável a esse uso, previsto pelo Programa Nacional de Recursos Hídricos entre as medidas para gestão da oferta e ampliação da disponibilidade de água", pondera Silvano Silvério, diretor de ambiente urbano do Ministério do Meio Ambiente. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos definiu no fim do ano passado limites e padrões para o consumo desse insumo nos setores agrícola e florestal, responsáveis pela maior demanda. Tramita no Senado, com apoio do governo, projeto de lei para criação do Fundo Nacional de Água de Reúso, apesar da polêmica sobre a inconstitucionalidade da medida, que poderia engessar o orçamento.
Essa é mais uma forma de ampliar o esforço para racionalizar a irrigação, responsável por 70% do consumo de água no Brasil. Existem no país apenas 4,5 milhões de hectares irrigados, com potencial de expansão para 30 milhões. "O assunto é estratégico diante da necessidade de se incorporar novas áreas, reduzir custo e aumentar eficiência para a competitividade brasileira em nível global", analisa Alfredo Teixeira, da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
A meta em análise na Secretaria Nacional de Irrigação, recém-criada pelo governo federal, é dobrar a área irrigada em quatro anos, com reflexos no aumento do mercado de máquinas e serviços para o setor, que movimenta em torno de R$ 1 bilhão por ano. Até 2030, de acordo com a ONU, o mundo precisará aumentar em 30% a produção agrícola, no rastro do alto crescimento do consumo chinês. De acordo com Teixeira, a produção brasileira deverá cobrir um terço dessa expansão, mas não poderá fazê-lo com impactos ambientais.
Os cultivos de arroz no Rio Grande do Sul, responsáveis por quase um quarto de toda água consumida pela agricultura no país, são os maiores usuários de irrigação. Nas décadas de 1960 e 1970, eram necessários 5,7 mil litros de água para produzir um quilo do grão. O volume baixou para 2,4 mil litros entre 1980 e 1990 - não o suficiente para impedir o assoreamento dos rios, o que afetou o abastecimento da população em municípios gaúchos. Hoje, um quilo de arroz exige 1 mil litros de água, resultado de intervenções no solo e diminuição de desperdícios.
Nas últimas três décadas, informa Teixeira, os sistemas de irrigação reduziram as perdas em três vezes, de 35% para 10%, graças a avanços tecnológicos. Na irrigação de precisão, em expansão no país, sistemas de sensores e satélites monitoram cultivos para fornecer a quantidade exata de água que a planta necessita. O método conquista espaço, uma vez que o uso racional está atrelado às exigências da certificação da agricultura - mecanismo internacional de mercado que ganha força para a garantia da origem ambiental dos produtos.
"Mas a dificuldade para atender à legislação ambiental, incluindo a outorga para a água, e a restrita oferta de energia elétrica no campo explicam os baixos índices da agricultura irrigada no país", reclama Marcelo Borges, diretor da empresa americana Valmont no Brasil. Com fábrica em Uberaba (MG), a companhia domina 50% do mercado nacional, tendo como carro-chefe a irrigação de precisão para o aumento da eficiência no uso de água -- tecnologia que absorveu US$ 100 milhões de investimentos pela matriz.
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