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Vale: riscos à parte, ainda a preferida na Bolsa
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O Globo
Vale: riscos à parte, ainda a preferida na Bolsa
China superaquecida, cotações próximas das máximas históricas e rumores sobre uma ingerência política no comando da companhia. Esses fatores deveriam ser suficientes para acender o sinal amarelo dos investidores da Vale. Mas nada parece amainar as expectativas do mercado sobre o potencial de ganhos da mineradora, uma das melhores aplicações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no ano passado. Para analistas, o boom do preço do minério de ferro — que caminha para um recorde de US$200 a tonelada — e a demanda chinesa aquecida, a despeito de medidas adotadas por Pequim para frear o crescimento no país, devem tornar os papéis um dos melhores investimentos nos próximos meses.
Das dez carteiras recomendadas por corretoras a clientes consultadas pelo GLOBO, a Vale está presente em todas. Entre papéis preferenciais (PN, sem voto) e ordinários (ON, com voto), a mineradora aparece na carteira de janeiro de Ativa, Ágora, Banif, Planner, Socopa, XP Investimentos, Souza Barros, Spinelli, Link e Um Investimentos.
Demanda chinesa por aço deve crescer 5% este ano
Segundo analistas, os riscos do papel se concentram nas medidas que podem ser tomadas pela China para desacelerar o crescimento do país. O Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) chinês cresceu 10,3% no ano passado, bem acima do esperado. O governo precisará reduzir o ritmo de crescimento para conter pressões inflacionárias. Isso pode preocupar porque a Vale exporta 35% de sua produção para a China.
— Mesmo que as medidas esfriem o crescimento do país, elas não serão suficientes para que as siderúrgicas chinesas deixem de depender das mineradoras australianas e da Vale para formar seus estoques de minério de ferro e carvão — diz Rodrigo Ferraz, chefe de análise da Brascan Corretora. — A demanda por aço na China deve crescer 5% este ano.
Nas últimas semanas, bancos estrangeiros traçaram cenários de céu de brigadeiro para o preço do minério de ferro este ano, que vive um rali no mercado internacional. Uma tonelada do produto custa hoje US$185 no mercado à vista da China, alta de 9,4% sobre 31 de dezembro passado. Esse rali é liderado por siderúrgicas chinesas, que estão formando estoque antes do feriado do Ano Novo Lunar, no mês que vem.
Em relatório na última sexta-feira, o banco Barclays, por exemplo, previu que o preço do minério deve subir “muito acima” dos US$200 a tonelada este ano, retomando patamar recorde de março de 2008, antes que a crise afetasse o setor. Já o Morgan Stanley elevou recentemente sua estimativa para o preço da commodity ao fim de 2011, de US$135 para US$172 a tonelada.
O cenário de forte crescimento foi semelhante no ano passado, quando a Vale frequentou a carteira das corretoras em boa parte do ano. A mineradora exportou US$24 bilhões, aumento de 122% em relação ao ano anterior. O bom momento fez os papéis da companhia subirem 17,23% (PNAs) e 13,75% (ONs) em 2010. Na última sexta-feira, as ações preferenciais fecharam negociadas a R$52,56, próximas do recorde histórico de R$53,95 de maio de 2008.
Temor de indicação política para comando da empresa
Para analistas, mesmo com a alta exibida no ano passado e preços próximos do recorde histórico, o papel teria espaço para subir mais. Eles citam que o preço/lucro (P/L, indicador que dá sinais se uma ação está barata ou cara) da Vale está em 12 vezes. Os pares internacionais da companhia, como Rio Tinto, Xstrata e BHP Billiton, estão com P/L médio de 23 vezes.
— A Vale sempre esteve bem abaixo dos pares internacionais e agora está ainda mais barata depois que a companhia se desfez de ativos de alumínio e engordou seu caixa e lucro — explica Gustavo Hon, analista da Um Investimentos.
Mas rumores sobre uma possível saída de Roger Agnelli da presidência da companhia não têm agradado aos investidores. As relações do executivo com o governo ficaram turvas a partir de 2008, quando a mineradora cortou investimentos e empregos em meio à crise. O governo teria a intenção de não renovar o contrato do executivo via Previ, controladora da Vale.
— O mercado gosta do Roger, mas o risco está na verdade em quem assumiria a cadeira em seu lugar. O medo é ter alguém mais político, em vez de um executivo do mercado — explica Daniella Maia, analista de mineração da Ativa Corretora.
O consultor ambiental e pequeno investidor Gustavo Bessa de Nogueira Dias elevou seus investimentos na Vale nos últimos meses. Sua carteira tem mais de 70% em ações da empresa. Ele afirma que não costuma concentrar investimentos em um papel e que abriu exceção porque acredita no potencial de valorização da empresa:
— Criei uma tabela em que coloco pontos positivos e negativos das empresas. E a Vale se mostrou um bom investimento, inclusive porque é uma boa pagadora de dividendos.
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