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Ata pode reforçar aposta em alta de juros

Veículo: Valor Econômico
Seção: Finanças
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O Banco Central deverá ser contundente na ata da última reunião do Copom, que será divulgada nesta manhã, caso tenha a intenção de reorientar a expectativa da maioria dos economistas que ainda conta com a retomada do ciclo de alta da Selic em janeiro e ajuste de até 2 pontos percentuais da taxa em 2011. A maioria dos analistas não vê nas medidas macroprudenciais e aumento de compulsório bancário, já anunciadas, um substituto perfeito ao aumento do juro para forçar a convergência da inflação para o centro da meta, de 4,5%, em 2011. Há cerca de duas semanas, às vésperas do encontro do Copom, o Banco Central surpreendeu o mercado com o conjunto de medidas focadas no arrefecimento do crédito. Manteve a Selic estável em 10,75%. E "pediu tempo", em seu comunicado, para melhor aferir os efeitos dessas medidas sobre as condições monetárias. Mas, de lá para cá, as projeções de inflação só pioraram. E a evolução da Selic ao longo de 2011 passou a ser mais condicionada ao figurino da política fiscal do governo Dilma Rousseff. No mercado futuro de juros, a certeza de alta da Selic na primeira reunião de 2011 do Copom perde força. A curva não embute mais um alta de meio ponto na Selic. O prêmio, agora, equivale a um aperto de 0,25 ponto percentual. O Itaú Unibancoreduziu a projeção do próximo ciclo de aperto monetário de 2 pontos para 1,5 ponto percentual, mas continua esperando elevação da Selic em 0,50 ponto em janeiro por considerar ser necessária a atuação do BC para ancorar de volta as expectativas de inflação. "O Copom justificou não ter elevado os juros já nesta reunião por avaliar ser necessário tempo adicional para avaliar os efeitos das medidas recentemente implementadas. O reconhecimento explícito das medidas macroprudenciais como instrumento de política monetária aumenta a relevância dessas medidas nas decisões futuras do BC", comentam o economista-chefe Ilan Goldfajn e o economista Luiz Cherman em relatório. O Santandertambém mantém a projeção de alta da Selic em 0,50 ponto em janeiro. Cristiano Souza, economista da instituição, explica que os prognósticos, inclusive para Selic de 13% ao final de 2011, estão mantidos há seis meses. "Desde então acreditávamos que haviam diversos impulsos de demanda que elevariam a inflação em 2010 e 2011", afirma. O Bradesco, uma das poucas instituições a sinalizar Selic estável até o final do ano que vem, trabalha com o mesmo cenário. Octávio de Barros, diretor do Departamento de Pesquisa Econômica, reafirma que o condicionamento da estabilidade do juro em 10,75% a um "mega" ajuste fiscal, surpreendente de fato; à volta de preços dos alimentos, aliviando as expectativas inflacionárias e cenário externo seguindo sem direção. Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, projeta aumento da Selic entre 12,25% e 12,50% ao final do ano. Mas, agora, em vez de doses de 0,50 ponto, o economista espera que o ritmo de alta seja de 0,25 ponto percentual. "Essa alteração está associada à sinalização do comunicado do Copom, que enfatizou o impacto das medidas macroprudenciais e também pela análise empírica dos últimos ajustes do compulsório sobre as decisões do colegiado." O Banco Fator, que também esperava três altas consecutivas da Selic, começando em janeiro, já descarta essa primeira elevação, mas ainda contempla a possibilidade do ajuste de um ponto percentual entre março e abril. "Isso depende do que for ocorrendo com a demanda e com a política fiscal, choques e cenário externo, basicamente o comportamento das commodities", comenta José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe, que ainda mantém a perspectiva de corte da taxa em 0,50 ponto em novembro, "se a alta de 1 ponto ocorrer e se o cenário externo não atrapalhar". A Rosenberg ConsultoresAssociados e a SulAmericaInvestimentos, associada ao ING, também conservam os cenários originais. A Rosenberg espera alta da Selic em abril e taxa alcançando 12,25% em dezembro. A SulAmerica conta com a alta da Selic em janeiro, e projeta fechamento de ano em 12,25% também. "Acreditamos em que são necessárias três altas consecutivas de 0,50 pp cada, iniciando em janeiro, para conseguir trazer de volta as expectativas de inflação para 2011 para o centro da meta. A MB Consultores Associados também mantém projeção de alta em janeiro apesar da "sinalização de descontentamento do governo com uma possível alta de juros". "Fica o discurso de um ajuste fiscal severo para contrabalançar as medidas do BC como se isso fosse suficiente a essa altura. Chegamos a um ponto em que precisaremos tanto de política fiscal quanto monetária para ajudar a diminuir a inflação", alerta o economista-chefe da consultoria, Sérgio Vale. O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, está no aguardo na ata para fechar seu cenário de juros. No entanto, ele não descarta nova manutenção da Selic em janeiro. "Tenho a percepção de que o BC está em um caminho de testar um novo mix de política monetária", diz. Leal quer descobrir onde se encaixam as medidas prudenciais dentro da estratégia do BC. Se foram algo pontual, ou se esse tipo de recurso passará a fazer parte da política monetária.


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