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Portugal pede ajuda ao Brasil para poder sair da crise que assola a Europa

Veículo: Correio Braziliense Online
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O Brasil não quer e não vai financiar a dívida de Portugal por meio da compra de títulos públicos. Apesar de reconhecer a gravidade da crise que assola o país europeu, o governo brasileiro prefere atuar como facilitador, abrindo canais e tentando convencer organismos multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), a criarem linhas de crédito que possam ser acessadas a qualquer momento pelas nações do Velho Mundo em dificuldades. A consulta sobre se o Brasil estaria interessado em participar de operações de compras diretas de papéis lusos foi feita na quinta-feira pelo ministro das Finanças português, Fernando Teixeira dos Santos, ao ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega. Ontem, em São Paulo, Mantega descartou a ideia. “Fiz algumas ponderações sobre a dificuldade que temos. Disse que quem é responsável pela aplicação de reservas é o Banco Central, que tem critérios para a alocação de aplicações”, explicou. À beira de um colapso fiscal, Portugal vê crescer sua dívida pública, ao mesmo tempo em que tenta aprovar reformas estruturais e cortar gastos. Restrições orçamentárias e o desemprego em alta pioram ainda mais o cenário macroeconômico do país, que não é o único na Europa sob riscos de insolvência. Mantega justificou que o problema europeu está no euro. “As soluções têm de ser dadas de forma sistêmica”, resumiu, avaliando que a União Europeia, o FMI e o G-20 deveriam tomar medidas preventivas e dar crédito para esses países. “Eu me comprometi a trabalhar na UE e no FMI, a ligar para o presidente do BCE (Banco Central Europeu), do FMI para sugerir que produzam essas linhas de crédito”, disse o ministro. Pacote Mantega defendeu a busca por uma solução sistêmica, lembrando que a crise pode se alastrar. “Se a Europa não vai bem, começa a fazer essa marola. Afeta os Estados Unidos, afeta os países emergentes. É um problema de todos”, afirmou. O ministro da Fazenda anunciou que o governo deverá lançar no próximo dia 16 um megapacote de medidas para facilitar a concessão de crédito de longo prazo para o setor privado no Brasil. “Vamos mexer em linhas, em tributação, vamos facilitar a captação. O setor privado vai ter mais crédito de longo prazo a um preço mais baixo para estimular o investimento.” Espanha é cobrada O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, pediu ontem à Espanha que amplie sua reforma do mercado trabalhista e reforme as aposentadorias, dois elementos que considera imprescindíveis para a prosperidade do país. “Para todos os países, as reformas estruturais são essenciais, não apenas para consolidar a posição financeira, mas para elevar o potencial de crescimento”, disse. Depois de um deficit de mais de 11% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009, o país europeu se comprometeu em reduzi-lo a 9,3% em 2010, a 6% em 2011 e a 3% em 2013. Dúvidas sobre a solidez financeira e a ausência de crescimento da Espanha preocupam os analistas financeiros e economistas, que pediram ao país a ampliação das reformas realizadas no mercado do trabalho, nas aposentadorias e no sistema bancário. A ministra da Economia, Elena Salgado, reconheceu que o custo de financiamento provavelmente subirá nos leilões de títulos públicos da próxima semana. Ela disse que o governo vai tomar mais medidas, se necessárias, para alcançar as metas orçamentárias. Madri tem estudado uma série de novas propostas para fortalecer suas finanças ao longo dos últimos 10 dias, buscando recuperar a confiança do investidor. Mas o prêmio exigido dos bônus espanhóis, na comparação com os títulos alemães — referência do mercado de dívida na Europa —, tem permanecido elevado. O custo de financiamento da Espanha vem disparando desde outubro, quando cresceu o temor do mercado em relação à necessidade de ajuda a outras economias frágeis e envididadas da Europa, como Grécia e Irlanda, que recorreram a resgates de fundos internacionais. Salgado disse que o aumento nos custos de empréstimo da Espanha é um fenômeno temporário. Madri tem mais duas emissões de dívida previstas para este ano, e venderá bônus de 10 e 15 anos em 16 de dezembro. Obama quer cortar tributos O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que democratas e republicanos devem iniciar uma discussão em 2011 sobre uma revisão ampla do código tributário do país, envolvendo a redução das alíquotas e a eliminação de isenções de impostos para grupos favorecidos. Para o líder norte-americano, qualquer esforço para simplificar o complexo código tributário dos EUA será trabalhoso, mas, se tiver sucesso, pode criar condições para um crescimento mais forte. Ontem, o país divulgou um deficit fiscal recorde para novembro, de US$ 150 bilhões. A reforma tributária é defendida por muitos na comunidade empresarial, que dizem que a estrutura tributária atual para as companhias coloca as empresas dos EUA em desvantagem competitiva no mercado global. “A ideia é simplificar o sistema e, se possível, reduzir alíquotas, ampliar a base — acho que a maioria dos economistas pensa que isso favoreceria o crescimento econômico”, disse Obama. “Mas é uma discussão muito complicada.” O presidente norte-americano acredita ser possível conseguir uma “concordância ampla” de parte dos dois partidos de que a reforma é necessária. “Mas será preciso muito trabalho árduo para fazer com que aconteça de fato.” Reagan A reestruturação do código tributário para acabar com as deduções especializadas e outros incentivos fiscais foi uma das recomendações apoiadas pela maioria no comitê nomeado por Obama para debater a redução do deficit orçamentário. O grupo informou que a eliminação das deduções possibilitariam uma redução das alíquotas e o levantamento de receita adicional para ajudar a frear o buraco nas contas do governo. O jornal New York Times informou que Obama orientou sua equipe econômica e analistas do Departamento do Tesouro a estudarem ideias para fechar lacunas e eliminar descontos no Imposto de Renda de pessoa física e jurídica. A última reforma importante do código tributário dos EUA ocorreu em 1986, sob a presidência do republicano Ronald Reagan. Obama fez referência a esse esforço e lembrou que a reforma “não ocorreu de uma hora para outra”. Defesa do câmbio livre O Banco Central Europeu (BCE) e os principais bancos centrais da América Latina concordaram que a flexibilidade nos regimes de câmbio é bem-vinda. Durante encontro entre funcionários europeus e latino-americanos em Madri, o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, reconheceu que os mercados emergentes foram atingidos por ingressos de capitais, fator que provocou a valorização de suas moedas. Mas, apesar da consequente invasão de produtos importados no Brasil, por exemplo, a América Latina exportou 29% mais em 2010 (US$ 853 bilhões), revertendo queda de 23% em 2009, mostraram projeções do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). As vendas externas da região haviam desabado em outubro de 2008, quando explodiu a crise financeira internacional.


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