Notícias

Alta no preço dos alimentos deve continuar em 2011

Veículo: Valor Econômico
Seção: Impresso
Página:

A inflação está em alta. E não vai desacelerar tão cedo. Puxada por saltos próximos ou superiores a dois dígitos em itens importantes nas refeições dos brasileiros, como carnes e feijão, os preços dos alimentos saltaram 2,22% em novembro, representando quase dois terços da alta de 0,83% registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mês passado - a maior variação mensal desde dezembro de 2004. Segundo analistas consultados pelo Valor, a alta de preços nos alimentos, pressionada pelo mercado externo, ainda persistirá pelos próximos meses, podendo se alongar por todo o ano de 2011. Ainda que respondam por 0,51 ponto percentual da variação de 0,83% do IPCA em novembro, os alimentos não estão sustentando isoladamente a alta de preços. A taxa de dispersão, que representa o número de itens que subiram de preços, atingiu 67,2% no mês passado, o mesmo patamar registrado em junho de 2008 - naquele ano, o IPCA fechou o ano a 5,9%, acima da meta de 4,5% perseguida pelo Banco Central. Apenas em janeiro deste ano, quando atingiu 68,7%, a taxa de dispersão do IPCA foi superior aos valores registrados em 2008. "À exceção de itens como veículos novos, aparelhos telefônicos e eletrodomésticos, a maior parte dos preços livres subiram em novembro", diz Laura Haralyi, especialista de inflação do Itaú Unibanco, que calculou em 66,4% a taxa de dispersão dos preços livres, excluindo alimentos. "Os alimentos ainda respondem pelo grosso da inflação, mas não estão isolados", diz Laura. Segundo divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os preços das carnes ficaram 10,7% mais caros em novembro, enquanto feijão e carne-seca tiveram altas de 8,1% e 7%, respectivamente. Alimentação no domicílio subiu pouco mais que o dobro de alimentação fora do domicílio - 2,7% e 1,2%, respectivamente. No acumulado em 12 meses terminados em novembro, esses itens já beiram a faixa dos dois dígitos de avanço, enquanto as carnes já acumularam alta de 26,7%. "Nós estamos importando inflação de alimentos", diz Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, para quem o consumidor brasileiro, "bem empregado, com salários em alta e crédito farto", está sancionando o repasse de preços do atacado para o varejo. "O mercado futuro de commodities virou um espaço para rentabilizar o dinheiro de investidores e bancos, que não aplicam em títulos de países ricos porque os juros estão muito baixos", avalia Silveira. O índice CRB, que aglutina os preços das principais commodities agrícolas, como soja, milho, trigo e algodão é negociado diariamente na Bolsa de Chicago (EUA). Dos 248 pontos registrados em junho, o CRB oscila hoje acima de 315 pontos - o patamar mais alto desde o pré-crise, quando o CRB chegou a atingir 400 pontos, sua máxima histórica. "Trata-se de especulação, embora muitos não gostem de denominar assim", diz Silveira, que explica: "os investidores partem de questões estruturais, como os problemas de safra de trigo e algodão, que por sua vez causam impacto no milho e soja, e apostam na alta de preços, ganhando se essa alta se realizar." Nesta semana, uma saca de 60 kg de soja é negociada a R$ 45,8, em média, o maior valor do ano - chegou a ser negociada em R$ 32,8, em março. Da mesma forma, a arroba de algodão está sendo negociada a R$ 275 - estava a R$ 136 no começo do ano. A alta nos preços do algodão, principal matéria-prima de roupas e tecidos, tem impulsionado a elevação de vestuário, que representou 0,08 ponto percentual do IPCA de novembro. O economista-chefe para América Latina do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, avalia que os preços dos alimentos devem continuar pressionados no mercado internacional, e consequentemente no Brasil, por todo o ano de 2011. O raciocínio de Carvalho está sustentado na perspectiva de que a expansão monetária colocada em prática pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) entre o fim deste ano e junho de 2011 - a emissão de US$ 600 bilhões na economia - não será suficiente para aquecer a economia americana. O Fed, diz Carvalho, deve levar os estímulos a US$ 1 trilhão e estender as emissões até dezembro do ano que vem. Assim, afirma o economista, "esse processo de 'financeirização' dos preços das commodities continuará diante da tsunami de liquidez que está no radar". Os economistas avaliam que o IPCA fechará o ano em torno de 6% - Silveira, da RC, aposta em 6,2%. Em 2011, o mercado financeiro avalia que o IPCA termine em 5,2%, segundo o boletim Focus, do Banco Central. Para Carvalho, as perspectivas de preços dos alimentos pressionados deixam ao BC a missão de, por meio da elevação de juros, trazer as expectativas do mercado para a meta de 4,5%. "Os 4,5% hoje são piso, quando deveriam ser o centro das estimativas do mercado", diz o economista, para quem o BC iniciará em janeiro um ciclo de aperto monetário.


Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar