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Alta histórica no preço do algodão força mercado da moda a se adaptar

Veículo: Folha de São Paulo
Seção: Mutimídia
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Com o preço do algodão atingindo patamares recordes no Brasil e no mundo, o mercado têxtil começa a se mexer. Repasses ao consumidor, risco de desabastecimento e adoção de tecidos alternativos estão entre consequências dessa alta. Segundo a indústria, a culpa é das fortes chuvas durante a produção da última safra e da crise econômica de 2009, que provocaram um efeito dominó na cotonicultura ao redor do planeta. O preço do algodão atingiu a maior marca dos últimos 140 anos, US$ 1,5123 por libra-peso, no último dia 9. O setor têxtil brasileiro, que colhia cerca de 1,3 milhão de toneladas de algodão antes da crise mundial, produziu em 2010 uma safra de somente 1,1 milhão de toneladas. "A partir de outubro de 2009, os preços [no Brasil] passaram a ter altas expressivas, impulsionados pela maior demanda doméstica, pelas altas nos valores internacionais e pela restrição de oferta no mercado interno", diz Lucilio Rogerio Aparecido Alves, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da USP. Profissionais da área têxtil buscam alternativas como a troca do tecido 100% algodão por uma trama que misture este algodão com outras fibras. Para manter os preços próximos do usual, a estilista Fernanda Sollito substitui em algumas peças a malha 100% algodão pela 50% algodão/50% poliéster. Dona da loja que leva seu nome, no bairro da Casa Verde (zona norte de São Paulo), Fernanda busca fibras com um caimento similar ao do algodão puro. "Pelo quilo do tecido que contém 50% de poliéster, pago R$ 32, enquanto o composto apenas pela fibra de algodão sai por quase R$ 55", explica. "A primeira alternativa é não repassar [a alta no preço do algodão] ao cliente. Agora, quando o caimento do tecido muda e o toque é muito diferente [com outro tecido], não temos outra solução, precisamos repassar isso para o consumidor final deixando o produto mais caro", diz a estilista. Quem vai comprar roupas precisa selecionar bem as peças a serem adquiridas para que o prejuízo não seja tão grande. "Se está caro, é indicado calcular a média das vezes que a pessoa vai usar aquela roupa para que o investimento compense", afirma a especialista em compras (ou "personal shopper") Alice Ciampolini. REFLEXOS EM 2011 Segundo o vendedor de tecidos Wagner Prado, "há muitos clientes prorrogando as compras com a esperança de uma queda no preço". Apesar dessa expectativa, as projeções futuras não são positivas para 2011. A perspectiva é que, por volta de março do próximo ano, a crise atinja ainda mais diretamente o final da cadeia de produção, segundo Sylvio Mandel, presidente da Associação Brasileira do Varejo Têxtil. Peças de vestuário íntimo ou cama, mesa e banho devem enfrentar altas ainda mais acentuadas, segundo a associação, já que são compostas quase que completamente por algodão. Em setembro deste ano, associações do ramo de uniram e pediram ao governo a aquisição --por importação-- de 250 mil toneladas de algodão com redução ou isenção temporária da tarifa importadora entre outubro de 2010 e maio de 2011. A decisão foi aprovada pela Câmara de Comércio Exterior no mês passado e tem a função de cobrir a escassez de oferta do mercado interno, para manter as atividades e viabilizar a produção brasileira.


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