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Analistas querem novas regras para o câmbio ainda este ano

Veículo: DCI
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O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que as medidas adotadas pelo governo para conter a apreciação do real frente ao dólar continuam fazendo efeito. Ontem, a cotação da moeda teve forte alta por conta da conjuntura externa, mas o patamar de R$ 1,74 ainda não é considerado o ideal. Questionado ao chegar ao ministério, Mantega foi taxativo quanto à eficiência das medidas. "Com certeza, mas não é só isso", limitou-se a dizer. Convencidos de que as medidas adotadas até agora pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na tentativa de conter a valorização do real frente ao dólar foram insuficientes, analistas apostam no anúncio de novas propostas ainda em 2010. Eles, no entanto, admitem que serão medidas paliativas, com efeito de curto prazo, mas necessárias para evitar a continuidade da valorização. As sugestões são de retomada dos leilões de swap cambial reverso, uma nova elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e queda de juros, sendo essa a medida com maior chance, segundo eles, de resolver o problema cambial. Os leilões de swap cambial reverso não são realizados pelo Banco Central desde maio do ano passado. A operação é um instrumento de compra de moeda no mercado futuro de maneira a evitar a pressão no presente. O dólar à vista fechou ontem a R$ 1,740 (+0,99%), o nível mais alto desde 1º de setembro deste ano. Em novembro, a moeda acumula valorização de 2,23% e no ano, recuo de 0,17%. Para o gerente da mesa de operações do Banco Confidence, Felipe Pellegrini, a volta dos leilões teriam efeito apenas pontual. Na avaliação dele, uma taxação maior do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos investimentos externos em ações poderia ser uma alternativa com resultado no longo prazo. "Mas a queda da taxa de juros seria a principal delas", afirma. Pellegrini disse ainda esperar medidas de caráter duradouro apenas em 2011, quando a presidente eleita Dilma Rousseff assumir. "Taxação maior de IOF e corte nos juros teriam um efeito de longo prazo", relata. A economista-chefe da Link Investimentos, Marianna Costa, também acredita na possibilidade de retomada dos leilões de swap cambial reverso ainda este ano como medida de curto prazo mais eficaz para frear a alta do real frente ao dólar. "Além de ser uma ação que pode ter um resultado positivo imediato, ainda tem mais chances de ser aceita pelos investidores, ao contrário da taxação de IOF ou [da adoção de uma] quarentena [prazo que o capital externo teria para deixar o País]. O que não pode é deixar de tomar providências nesse sentido", diz, ponderando que, mesmo com as medidas, a tendência é de desvalorização da moeda norte-americana. Marianna também acredita que ações de caráter duradouro deverão ser implementadas só no ano que vem, mas avalia que seria prematuro um palpite sobre o que pode ser adotado pelo novo governo. Para a economista, a retomada do corte dos juros pelo Banco Central, como sugerem alguns agentes do mercado, não é bem-vinda. "Só agravaria um outro problema, pois esbarraria na questão do regime de metas de inflação, e já estamos com uma inflação pressionada", afirma. A taxa de juros, segundo o sócio diretor da Financial Global Advisor, Miguel Daoud, não resulta da vontade do governo ou do Banco Central. "Ela reflete as nossas deficiências e antes de reduzir juros é preciso fazer um ajuste fiscal forte e reduzir a relação dívida/PIB para algo em torno de 20%", afirma. Mas Daoud acredita que novas medidas já estão prontas. Para ele, o BC deverá retomar em breve os leilões de swap reverso e aumento da tributação sobre investimentos na bolsa e renda fixa. Na avaliação do economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, o problema é mais complexo. De acordo com ele, o que está acontecendo no mundo hoje é a exportação da deflação das economias centrais. Neste caso, a sugestão dele é que o governo amplie a política do crédito tributário - direito legal que os exportadores têm de não pagar impostos - e a desoneração da folha de pagamento para exportadores. Segundo Souza Leal, se o governo aumentasse o IOF para 12%, mas os Estados Unidos emitissem mais moeda, o dólar continuará a se desvalorizar. "E vamos continuar como cachorro correndo atrás do próprio rabo", diz. "Temos de entender que o Brasil é um país periférico e que pega as rebarbas das economias desenvolvidas. Acho que temos, sim, de fazer intervenções, mas não é no câmbio porque isso cria distorções, principalmente, de gerenciamento da dívida", afirma Leal.


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