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Indústrias perdem contratos no exterior com real em alta

Veículo: DCI Online
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Theo Carnier

A desvalorização do dólar frente ao real faz crescentes estragos na indústria. A fabricante de equipamentosA.Kalman, de São Paulo, desistiu de exportar peças para montadoras de veículos, por exemplo, porque não conseguia mais competir. "O câmbio nos tirou do mercado externo", lamenta Luiz Toth, presidente da empresa.

Também por conta do câmbio a indústria vai viver "uma ressaca", na previsão de Paulo Francini, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ele prevê que, depois do período de euforia com a queda do dólar, a guerra cambial vai prejudicar ainda mais a competitividade da indústria brasileira.

Na mesma linha, Devanir Brichesi, presidente da Deluma e da Associação Brasileira de Fundição (Abifa), diz que o câmbio facilita as importações e que, se nada for feito para mudar esse quadro, ele vai desmontar a indústria.

"Atualmente a importação é feita por razões econômicas. Ao mesmo tempo, no entanto, ela vai gradativamente desmontando a produção brasileira", afirma Brichesi. "Assim, no futuro, a importação poderá se tornar obrigatória porque não haverá fornecedor local para atender à demanda."

O caso da A.Kalman mostra que essa ameaça já é real. A empresa exportava para a Inglaterra peças para vidros retrovisores colocados em caminhões produzidos pela Scania. "Hoje, esse antigo cliente inglês exporta para a Scania do Brasil e não tenho como competir com ele. Meu produto custa R$ 120 e é importado com custo total de R$ 80", diz Luiz Toth, presidente da A.Kalman.

Contratos perdidos

Toth conta que sua empresa deixou de exportar há três anos e não vê possibilidades de retomar as vendas externas com a constante desvalorização do dólar: "Forneci peças e componentes durante oito anos para a Espanha e durante cinco anos para a Inglaterra. Com o câmbio desfavorável, perdemos a Espanha e, dois anos depois, a Inglaterra. Meu custo aumentou 35% só com o câmbio e não tive como dar desconto desse nível nos preços. Resultado: perdi os contratos".

O presidente da A.Kalman conta que quando o real começou a se valorizar, há sete anos, correu para o banco para fazer um seguro cambial. Nem assim conseguiu manter seus clientes no exterior: "A queda do dólar inviabilizou nossa competitividade. Ficamos em inferioridade, principalmente em comparação com os chineses".

A empresa, que foi fundada há 45 anos e exportou durante 13 anos, viu o mercado externo ficar cada vez mais distante em consequência do câmbio. "Produzimos componentes para para-brisas de veículos, por exemplo, e nosso preço é de R$ 2. Na China, o produto sai a R$ 0,80. Com o câmbio, a diferença fica ainda maior e nos deixa fora do mercado externo."

Devanir Brichesi, presidente da Abifa, lembra que nos últimos três anos foi importado 1 milhão de toneladas de peças fundidas aproveitando a vantagem cambial. "Nosso setor destina 70% de sua produção para montadoras de veículos, que, por sua vez, importam cada vez mais. Essa indústria não compra mais de fornecedores brasileiros um subconjunto para montar: agora ela opta por importar o conjunto já pronto e o custo compensa."

De olho na balança

Paulo Francini, diretor da Fiesp, reconhece que a entidade prevê crescimento de 3,9% do emprego na indústria paulista em 2011. Mesmo assim, afirma que essa previsão está sob ameaça por causa do câmbio: "A procura por importados é cada vez maior. Estamos com uma boa demanda doméstica, e há sinais de manutenção, mas não sabemos como será satisfeita essa demanda".

Por enquanto, o governo tem optado por usar a importação para atender ao aumento do consumo. Mas já mostra preocupação com essa estratégia. "Os ministros dizem que têm um arsenal contra a desvalorização do real. No entanto, essas armas não se têm mostrado suficientes para minimizar as perdas da indústria. As medidas não vêm na velocidade que nosso setor precisa", afirma Brichesi, da Abifa.

Para tratar da questão cambial, a Abifa terá reunião na semana que vem com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Não vemos como reverter a situação sem medidas efetivas", diz Devanir Brichesi.

Enquanto essas medidas não vêm, as indústrias enxegam o setor externo como um sonho. "Temos o elevado custo interno, com energia, mão de obra e tributos", lembra Luiz Toth, da A. Kalman. "Mas temos um fator ainda mais relevante, que é o câmbio desfavorável. Estamos, assim, sem condições de competir".



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