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Minifashionistas e exigentes: crianças cada vez mais gostam de escolher o que vão vestir

Veículo: Correio Braziliense
Seção: Donna
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Já se foi o tempo em que mães e pais é que determinavam o estilo da gurizada

Se as crianças estão cada vez mais vaidosas, normal também que essa mania de se embelezar chegue ao guarda-roupa. Para se ter uma ideia, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) são produzidas no Brasil cerca de 900 milhões de peças de vestuário infantil por ano, o que representa 20% de todo o setor.

E quem leva essas roupas para o guarda-roupa não são os pais: 80% dos pequenos escolhem o que querem vestir, ainda de acordo com a associação. Ou seja, cada vez mais cedo eles assumem o comando do acervo fashion e delineiam o próprio estilo. Tanto que ganharam uma semana de moda, a Fashion Week Kids, que já está na sua décima segunda edição e por onde desfilam marcas como Cris Barros Mini, VR Kids, Spezzato Teen e Mixed Kids — marcas-desejo de gente grande em versão compactada.

Na prática, isso significa lojas de adultos abarrotadas de roupas infantis e marcas especializadas crescendo e ocupando lugares privilegiados nos principais shoppings. Foi assim com a Dress To, marca de moda jovem que há menos de um ano decidiu apostar no estilo das filhas e irmãs mais novas das clientes cativas e lançar a Mini Dress To, que já está na sua segunda coleção.

Resultado: elas ganharam espaço próprio nas lojas e, a julgar pelo volume de vendas das peças da linha infantil, que já representam 15% do total, logo vão ganhar também lojas só para elas.

— O comportamento delas na loja é o maior termômetro — analisa Tathiana Amorim, proprietária e estilista da marca. — Elas se acham e acham o máximo comprar na mesma loja que a mãe uma roupa com a mesma estampa. Não é mais a mãe que compra, são elas que escolhem — observa.

A Salinas, especializada em moda praia, lançou a linha infantil há oito anos, mas só nos últimos quatro ampliou.

— A gente fazia muito pouco e de repente começou a esgotar. Intensificamos a coleção até o momento em que as pequenas ganharam um espaço só para elas — conta Jacqueline De Biase, à frente da marca.

E elas não querem babados e frufrus.

— Elas mudam de opinião muito rápido! Um dia, querem rosa. No outro, querem a estampa de adulto, e choram porque não tem para elas!

Segundo Jacqueline, algumas inclusive dispensam a presença dos pais até na hora de pagar: sacam da carteira o próprio cartão de crédito.

Gurus em versão míni

Meninas que ensinam tutoriais de maquiagem e abrem suas nécessaires em vídeos do YouTube são chamadas gurus e, não raro, conquistam milhares de views, fãs e comentários. Num universo antes dominado por adultos e adolescentes, as pequenas também cavaram seu espaço e criaram canais próprios onde, munidas de pincéis cor-de-rosa, ensinam gente grande e pequena a melhorarem o visual.

www.youtube.com/fraiisyx3
O canal é da portuguesinha Denise, 12 anos, que mora na Suíça. Entre os vídeos, ela ensina a criar looks inspirados nas Meninas Superpoderosas, mostra a coleção de maquiagem e fala de produtos testados e aprovados. Já conta com 1,7 mil inscrições de fãs no seu canal.

www.youtube.com/jademakeup1
Jade é brasileira, tem 11 anos e já é craque na maquiagem. Além do canal no YouTube, mesmo com a pouca idade é colaboradora de um blog onde dá dicas e ensina truques de maquiagem, como a inspirada na Hello Kitty, e fala das últimas aquisições de beauty.

www.youtube.com/juicystar07
Blair Fowler tem 17 anos e desde os 14 ensina maquiagem. É uma das gurus mais conhecidas da internet. A experiência já rendeu a oportunidade de comandar maquiagem e cabelo em um dos desfiles na edição de inverno da semana de moda de Nova York. Seus vídeos chegam a ter mais de 200 mil acessos cada.

www.youtube.com/ashleysbeautycorner
A norte-americana de 15 anos estreou só em abril no portal de vídeos, mas não é de hoje que é afeita dos pincéis e estojos de maquiagem. Aprendeu a se maquiar com a mãe e garante que desde os 6 anos vive por aí de sombra colorida e batom roxo.

Entrevista com Ronaldo Fraga

O estilista Ronaldo Fraga é um dos que desfila sua linha infantil, Ronaldo Para Filhotes, na Fashion Week Kids, que já está na sua décima segunda edição. Ele se recusa a vestir as meninas de miniadultos. “Jamais faço réplicas. Tento ao máximo me desviar dessa armadilha”, afirma. Confira a seguir a entrevista com o estilista.

Qual a diferença entre fazer roupa para criança e para adulto?
Por mais liberdade que eu tenha para fazer roupa para adulto, eu tenho muito mais para fazer para criança. Na linha infantil, tento sempre trazer os tecidos naturais, como algodão e linho, que são superconfortáveis, valorizar bem as estampas e a coleção tem sempre uma história de afeto, algo que valorize a cultura brasileira, seja nas estampas, seja na hora de conceber a coleção. E, se no adulto rola uma preocupação de traduzir tendências e fazer algumas peças que despertem desejos de consumo, um pouco mais curtas, por exmeplo, no infantil não tem. Eu acho uma brincadeira muito divertida.

As crianças estão mais ligadas à moda?
Elas estão mais ligadas a tudo. A criança hoje não é a mesma de 10, 15 anos atrás. Isso é fato. São bombardeadas com informação o tempo todo. Mas criança será sempre criança. Os olhos vão sempre brilhar por coisas que trazem afeto.

Qual o grande problema dessa vaidade?
Existe hoje um processo de erotização do universo infantil. Na prática, isso significa crianças de salto alto, de calça colada dourada e muita maquiagem. Muito disso é culpa dos pais. Alguns deveriam ser interditados (risos). Eu tenho muito cuidado com isso, não faço réplicas. Sei que é um desejo natural das crianças de se espelharem nos pais e quererem sair por aí como eles, mas eu tento me desviar dessa armadilha. Criança pode escolher o que quer até certo ponto, mas depois esse papel é dos pais e ponto. É só sair na rua para ver crianças de saia e salto por aí. É um escândalo. Quando eu comecei a fazer roupa para crianças, as pessoas me diziam que isso era o que vendia e que eu não teria como escapar dessa coisa comercial. Falei “não, não vou por aí”. E eu estava certo. Minha marca não faz isso, mas tem muita criança de 5 anos hoje que quer ser a Cláudia Leitte.

CORREIO BRAZILIENSE


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