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Empreendedorismo que veio na bagagem

Veículo: Diário Catarinense
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O FIO DA HISTÓRIA


Quando grandes cidades de SC ainda eram pequenas colônias de imigrantes, desembarcavam no Estado os fundadores de empresas que levariam o nome da indústria têxtil catarinense para o mundo afora. Hoje centenárias, são companhias que seguem inovando, e contam, nesta série de reportagens, seus planos para continuar crescendo

Elas nasceram de um empreendedorismo importado. Mas, genuinamente catarinenses, foram protagonistas da história do Estado. Quando a Revolução Industrial cortava empregos nas fábricas da Europa, o Brasil vivia a transição para os primeiros anos como república e o interior de SC estava em plena fase de colonização, um grupo de empresários alemães fez a diferença e marcou o futuro da economia catarinense.

Visionários, apostaram no crescimento da região e criaram as primeiras indústrias têxteis de SC. Hoje, mais de um século depois, algumas destas pioneiras seguem levando a grife catarinense mundo afora. São pelo menos seis têxteis que passaram da marca dos cem anos: Hering e Karsten, de Blumenau; Döhler e Lepper, de Joinville; e Buettner e Renaux, de Brusque. E a lista só tende a aumentar: a Hoepcke Bordados, da Capital, completa um século em 2013.

Uma das primeiras não existe mais nos mesmos moldes, recorda o pesquisador de história Adalberto Day. A Empresa Industrial Garcia foi criada no final da década de 1860, em Blumenau – embora o registro documentado seja de 1885. Ela foi incorporada à Artex em 1974 e vendida para o grupo Coteminas em 2000. A dona do registro mais antigo é a Hering, fundada em 1880.

Em comum, todas foram fundadas por imigrantes da Alemanha. Para o RS, foram agricultores, e em SC ficaram, principalmente, artesãos. Eram profissionais qualificados, mas que na Europa perdiam empregos diante das novas máquinas. Em SC, encontravam recursos hídricos abundantes e uma demanda até então dependente de importações. O transporte marítimo e a abertura de estradas impulsionaram a expansão das empresas nos primeiros anos.

Sem ideias mirabolantes, as indústrias ofereciam algo básico: roupas e artigos de cama, mesa e banho. Como destacam os pesquisadores James C. Collins e Jerry I. Porras, autores do livro Feitas para Durar, a necessidade de uma grande ideia para abrir uma empresa é um mito. “Como na parábola da lebre e da tartaruga, as empresas visionárias normalmente começam devagar, mas ganham a longa corrida”, escrevem.

Estas empresas funcionaram mesmo durante as Guerras Mundiais, impulsionadas pelo mercado interno. E foi nas décadas de 1960 e 1970 que viveram o primeiro grande ciclo de desenvolvimento, lembra Sueli Petry, diretora do Arquivo Histórico de Blumenau. Em 1964, a Hering tornou-se a primeira malharia brasileira a exportar, e logo foi seguida pelas demais. Foi nesta época, também, que adotaram a produção em três turnos, esquema mantido até hoje.

O professor Sidney Silva, chefe do Departamento de Economia da Universidade Regional de Blumenau (Furb), lembra que a concentração das empresas em uma mesma região também foi importante para o desenvolvimento do setor. Hoje, Santa Catarina é o segundo maior polo do setor têxtil e de vestuário no país, empregando mais de 160 mil pessoas em 8,7 mil indústrias.

– Essa proximidade criou um cenário que favoreceu toda a cadeia produtiva – destaca.

Mas ele reconhece que isso não é suficiente para garantir a saúde de uma empresa por mais de um século. Foi preciso se reinventar ao longo dos anos.

– Essas empresas nasceram com características tipicamente familiares. Mas tiveram uma gestão qualificada para sobreviver. Acompanhar a economia brasileira impôs a elas esse aprendizado – avalia o professor.

Um aprendizado que segue em andamento. Afinal, além de vencer concorrência e instabilidades do mercado, as grandes empresas têxteis de SC terão sempre um grande desafio: superar a si mesmas.

ALEXANDRE LENZI


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