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Mundo intervém no câmbio

Veículo: Correio Braziliense
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Da Redação

Dois anos depois da explosão da crise financeira mundial, com a quebra do banco Lehman Brothers nos Estados Unidos, em 15 de setembro de 2008, o mundo financeiro assiste agora a um avanço de países contra a desvalorização do dólar. A investida mais importante foi a do Japão, terceira economia do planeta, que interveio ontem no mercado cambial pela primeira vez em seis anos, comprando a moeda para conter a alta do iene. A frágil Colômbia também anunciou a recompra diária de pelo menos R$ 20 milhões da divisa norte-americana. No Brasil, ontem o Banco Central atuou duas vezes. Só nos 10 primeiros dias de setembro, o país adquiriu US$ 815 milhões.

O Japão prometeu mais medidas para tentar impedir que a persistente valorização de sua moeda prejudique as exportações e ameace a sua frágil recuperação econômica. As estimativas variavam sobre quanto o país gastou na primeira intervenção no mercado de câmbio desde 2003 e 2004, quando as autoridades compraram 35 trilhões de ienes (409 bilhões de dólares). Operadores sugeriram que a intervenção de ontem teria totalizado entre 300 e 500 bilhões de ienes. O dólar foi impulsionado ainda mais frente ao iene quando o governo japonês disse que a intervenção não acabara. A moeda norte-americana subiu cerca de 3%, para mais de 85,50 ienes, depois de atingir 82,87, a mínima em 15 anos.

Coordenação
A União Europeia deu algum apoio à intervenção do Japão para enfraquecer o iene, mas avaliou que uma ação assim teria mais impacto se fosse coordenada. “Ações unilaterais não são a forma apropriada de lidar com desequilíbrios globais”, afirmou o presidente do Eurogroup, Jean-Claude Juncker, quando questionado sobre o movimento do Banco do Japão. O ministro de Finanças do país, Yoshihiko Noda, indicou que Tóquio atuou sozinho sobre o iene. Disse que estava em contato com autoridades estrangeiras. Mas uma fonte da UE afirmou que o Japão não informou sobre a operação.

Na Colômbia, o Banco Central também anunciou que vai reiniciar a compra diária ao longo dos próximos quatro meses para atenuar a valorização do peso. No primeiro dia, a autoridade monetária absorveu US$ 19,9 milhões, segundo operadores do mercado. Os reflexos das mudanças cambiais envolvendo o dólar batem sobre questões cruciais para a recuperação econômica dos Estados Unidos. Internamente, a produção industrial da maior potência mundial cresceu menos em agosto e uma medida das condições empresariais no estado de Nova York caiu ao menor nível em mais de um ano. Dados sugerem que a economia está esfriando, mas não estagnando.

Leituras
A produção industrial norte-americana teve alta de 0,2% em agosto, confirmando expectativas de uma forte desaceleração em relação ao mês anterior, informou o Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA). Por baixo do número geral decepcionante, alguns economistas viram razão para otimismo nas leituras mais altas sobre novas encomendas e semana de trabalho. “Consideramos esse relatório consistente com nossa visão de que o setor manufatureiro desacelerou para um ritmo mais lento de crescimento, mas não estagnou”, disse Nicholas Tenev, economista do Barclays Capital.

Ações unilaterais não são a forma apropriada de lidar com desequilíbrios globais”
Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogroup



Não aos especuladores

Bruxelas — A União Europeia revelou ontem um plano para restringir ou proibir vendas a descoberto (negociação de papéis que o investidor não possui) e ampliar o controle sobre derivativos (1)(títulos lastreados em contratos, como o de hipotecas), em uma das mais ambiciosas reformas financeiras desde o início da crise econômica. O plano combate dois dos elementos menos transparentes dos serviços financeiros, vistos por muitas autoridades como um cerco aos especuladores em busca de lucro rápido.

A reforma dá poderes sem precedentes para a nova agência europeia proibir por 3 meses para esse tipo de operação. As duas leis, que devem entrar em vigor em 2012, também abrem caminho para reformar o mercado de derivativos de mais de 600 trilhões de euros e para impor restrições duras a vendas a descoberto sem proteção. “Nenhum mercado financeiro pode se dar ao luxo de continuar no território do Velho Oeste”, disse Michel Barnier, comissário da UE encarregado da reforma dos serviços financeiros. “Nós temos que limitar os riscos de hiperespeculação.”

Se aprovadas pelo Parlamento Europeu e os 27 países do bloco, as leis exigirão que operações a descoberto no mercado sejam informadas aos reguladores. Grandes posições vendidas seriam tornadas públicas. A legislação também dará poderes de formulação de política monetária à Autoridade Europeia de Ativos e Mercados — que deve começar a funcionar em janeiro de 2011.


1 - Destruição em massa
O investidor bilionário Warren Buffett definiu os derivativos como “armas financeiras de destruição em massa”, culpadas por gerar pânico após o colapso do Lehman Brothers há dois anos. Alguns políticos dizem, também, que a venda a descoberto exacerbou os problemas da Grécia na batalha contra sua enorme dívida pública.


Reforma na França

Paris — A Assembleia Nacional francesa (equivalente à Câmara dos Deputados brasileira) aprovou ontem o projeto de lei que reforma o sistema de aposentadoria, uma das principais iniciativas da Presidência de Nicolas Sarkozy. A reforma eleva de 60 a 62 anos a idade mínima para a aposentadoria e de 65 a 67 anos a idade para obter a pensão completa. Também prolongará para 41,5 anos o tempo mínimo de contribuição. O projeto de lei passa agora ao Senado, onde será debatido a partir de 5 de outubro.

Mas, antes disso, em 23 de setembro, os sindicatos franceses, que organizaram um protesto reunindo 3 milhões de pessoas na semana passada, pretendem promover uma nova jornada de protestos e greves contra a reforma. A iniciativa, que começou a ser discutida em 7 de setembro, foi aprovada por 329 deputados e rejeitada por 233, após um recesso de algumas horas e depois de uma sessão agitada que entrou pela madrugada. Respaldado pela maioria governante da União para um Movimento Popular (UMP), o projeto acaba com o sistema instituído por François Mitterrand em 1983.

Ferida
A votação aconteceu em ambiente carregado com trocas de ofensas, vaias e aplausos, após uma sessão iniciada na terça-feira, e que foi interrompida já na madrugada. Para adiar a votação, mais de 150 deputados socialistas, comunistas e verdes se inscreveram para discursar por cinco minutos cada. “Nossa República foi ferida”, lamentou o líder da bancada socialista, Jean Marc Ayrault, poucos dias depois de assumir o compromisso público da ex-candidata à Presidência por seu partido Segolene Royal de que se o PS retornar ao poder em 2012, a aposentadoria voltará aos 60 anos.

O governo conservador francês, que não recuou nos pontos-chave da reforma, alega a necessidade de salvar um sistema que em 2030 terá um deficit de 70 bilhões de euros, além do aumento da expectativa de vida. Os analistas afirmam que a França precisa dar garantias aos mercados financeiros de que reduzirá o déficit público. O aumento da idade da aposentadoria mínima renderá aos cofres públicos mais de 18 bilhões de euros até 2018. Segundo uma pesquisa recente, 57% dos franceses desaprovam o aumento da idade e 68% consideram a reforma injusta.


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