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US$ 10 bilhões a menos

Veículo: O Globo
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Eliane Oliveira

O comércio exterior deixará de contribuir com, no mínimo, US$ 10 bilhões às contas externas do país este ano, estimam analistas. Esse valor corresponde à queda no superávit em relação a 2009, quando a diferença entre exportações e importações ficou em US$ 25,4 bilhões. O fraco desempenho da balança comercial — afetada pelo real valorizado frente ao dólar e pela redução das compras realizadas por americanos e europeus — é o principal fator que levou as contas externas a um rombo de US$ 28,261 bilhões de janeiro a julho, ou 2,51% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país).

O balanço de pagamentos é o registro de todas as operações que o Brasil faz com o exterior, sejam elas de troca (comércio, viagens, transferências, serviços) ou financeiras (investimentos produtivos e de portfolio, como Bolsa e títulos). Quanto mais negativa a conta de troca, maior a dependência financeira — o que pode, a longo prazo, levantar desconfianças sobre a solvência do país.

O saldo negativo nas transações correntes nos sete primeiros meses de 2010 superou todo o déficit registrado em 2009, de US$ 24,302 bilhões.

Os analistas consultados semanalmente pelo Banco Central (BC) projetam que a rubrica terminará o ano com US$ 49,96 bilhões no vermelho, rombo que passaria a US$ 58 bilhões em 2011. A deterioração da conta externa guarda relação direta com os números da balança comercial, cujo superávit minguaria de US$ 15 bilhões este ano para apenas US$ 8,18 bilhões em 2011.

‘Commodities’ seguram balança

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) trabalha com uma estimativa de US$ 180 bilhões em exportações para este ano, montante abaixo do que preveem a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) e as consultorias MCM e Tendências, por exemplo. Os técnicos se recusam a falar sobre importações, embora acreditem que as aquisições no mercado internacional tendam a crescer até o fim do ano.

— O comércio exterior já não é mais o grande financiador do balanço de pagamentos, desde o ano passado. Ainda assim, a situação nem é muito ruim. Se não fossem as commodities (produtos agrícolas e minerais cotados em bolsas internacionais), o cenário seria pior — avalia o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro.

Segundo ele, não há como prever ainda como será o comércio exterior brasileiro em 2011. Mas Castro acredita que, se as importações não aumentarem nada e as exportações caírem 7%, devido à esperada queda de preço de commodities, a balança ficará “no zero a zero” e poderá até registrar um déficit.

O economista Marcos Fantinatti, da MCM, espera um superávit de US$ 14,5 bilhões em 2010, US$ 11 bilhões a menos do que 2009.

— Essa diferença vai atrapalhar na hora de se fechar o balanço de pagamentos — afirmou.

Para o ano que vem, ele ainda aposta em superávit, de US$ 9 bilhões a US$ 10 bilhões. A seu ver, o agronegócio brasileiro será fundamental para o desempenho das exportações.

— Boa parte da pauta de exportações é ligada ao agronegócio, como soja, açúcar e carnes, além do minério de ferro — destacou Fantinatti.

O secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Célio Porto, concorda. Ele projeta um total exportado pelo agronegócio, em 2010, de US$ 72 bilhões, quebrando o recorde obtido em 2008, de US$ 71,8 bilhões.

— A questão é que, apesar da importância do agronegócio brasileiro, há forte concentração na pauta de exportações e, com isso, grande dependência do Brasil em relação a soja, café, açúcar e carnes — disse Porto.

André Sacconato, da consultoria Tendências, lembrou que, como haverá superávit comercial em 2010, a balança “ajudará menos” a fechar as contas externas. Atrapalharia, observou, se o resultado fosse negativo.

— Não será como antes, quatro, cinco anos atrás, quando o superávit comercial passava de US$ 40 bilhões — disse ele.

Sacconato previa, até ontem, um saldo positivo de US$ 22,5 bilhões em 2010 e, para 2011, um superávit de US$ 20 bilhões. Mas admitiu que os números serão revistos para baixo.

— O importante não é o déficit em transações correntes, mas como ele seria financiado. Os investimentos externos diretos podem compensar o saldo negativo, mas o país precisa ter reservas, credibilidade internacional e ainda mostrar que é capaz de concluir reformas importantes, incluindo o marco regulatório de diversas áreas — observou o economista.



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