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Déficit comercial da indústria cresce na maioria dos setores

Veículo: Valor Econômico
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    Marta Watanabe, de São Paulo
    16/08/2010
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Gustavo Lourenção/Valor
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Roriz Coelho, presidente da Abiplast: importados estão entre 20% e 30% mais baratos que transformados nacionais

A indústria de transformação fechou os primeiros sete meses deste ano com déficit de US$ 19,03 bilhões, com significativa ampliação em relação ao saldo negativo de US$ 7,7 bilhões verificado no mesmo período de 2009. Mais de um terço da ampliação desse déficit - 37% - foi provocado pela indústria de materiais elétricos e de comunicação, mas a deterioração avançou em outros segmentos menos afetados no ano passado.

O setor de material de transporte ampliou o déficit de US$ 233 milhões para US$ 1,92 bilhão, enquanto o segmento de produtos de matérias plásticas viu seu saldo negativo de US$ 980 milhões saltar para US$ 1,8 bilhão. No setor têxtil, o déficit de US$ 526 milhões de janeiro a julho do ano passado foi ampliado para US$ 1,2 bilhão no mesmo período de 2010. Os números são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Para alguns setores, o avanço acendeu a luz amarela para o que pode ser o início da substituição de fornecimento nacional por importados.

José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), acredita que a substituição começa a acontecer em alguns produtos. De janeiro a junho deste ano, a exportação dos produtos transformados plásticos subiu 24,5% em valores, na comparação com o primeiro semestre de 2009. No mesmo período, as importações cresceram mais - 39,8%.

Coelho lembra que os embarques de transformados de plásticos foram puxados principalmente por produtos que servem como insumos para outras indústrias, como garrafões e garrafas, laminados autoadesivos, autopeças e embalagens para embutidos. "São itens em que a indústria nacional tem capacidade não só para abastecimento do mercado interno como também para exportação", diz.

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Segundo Coelho, o câmbio e a elevação dos juros têm tirado a competitividade da indústria nacional. Com isso, algumas empresas partem para a compra de fornecedores externos, mesmo com o prazo maior de entrega. "Os preços dos importados estão entre 20% e 30% abaixo dos do mercado interno." Segundo ele, as fortes importações no período também podem ser explicadas pelo movimento de estocagem experimentado pelo setor. Segundo ele, durante o primeiro semestre a indústria aumentou seu nível de produção, mas a demanda abaixo da expectativa gerou formação de estoques. "A nossa preocupação em relação ao segundo semestre é se haverá demanda suficiente e se poderemos manter o nível de produção."

Entre os 20 setores nos quais o Mdic separa a balança da indústria, em nove o déficit piorou, enquanto um saiu de superávit para saldo negativo e seis viram o saldo positivo diminuir nestes primeiros meses de 2010, enquanto só quatro ampliaram o superávit. José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), acredita que o aprofundamento do déficit da indústria indica o início da substituição de oferta interna em alguns segmentos. Ele ressalta o alargamento do déficit para bens de capital e para bens de consumo duráveis, principalmente carros.

Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, diz que a substituição de oferta interna nunca é retilínea e uniforme. "O fato concreto é que os produtos industrializados estão perdendo competitividade e a ampliação do saldo negativo indica isso, embora a trajetória não seja irreversível." Segundo ele, "a perspectiva de manutenção do câmbio possibilita negociar mais facilmente o dólar numa entrega futura e a troca por um fornecedor externo é feita com mais tranquilidade".

No setor têxtil, a avaliação é de que ainda não ocorre substituição de produtos nacionais por importados, mas alguns déficits começam a chamar a atenção. Levantamento da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) mostra que nos primeiros sete meses do ano houve déficit comercial de denim em termos de volume. Um saldo negativo de 300 toneladas, resultado de uma importação de 6.607 toneladas e exportações de 6.307 toneladas.

O déficit aconteceu porque as importações subiram em ritmo muito mais forte que as exportações do produto. De janeiro a julho deste ano as vendas ao exterior de denim aumentaram 20,6% em volume em relação a igual período de 2009, enquanto os desembarques do tecido subiram 51,2%. Em valor, a balança do denim ainda continua superavitária porque o preço médio de exportação, de US$ 5,60 o quilo, é maior que o de importação, de US$ 4,02 o quilo.

O quadro, segundo o coordenador da área internacional da Abit, Domingos Mosca, mostra uma tendência preocupante em um produto no qual a indústria local tem tradição e capacidade de produção para atender o mercado doméstico. Para ele, essa importação ainda complementa a produção nacional.

"Mas a China, que é a grande fornecedora desse denin, costuma manter padrão de importação ascendente. A substituição de fornecimento pode acontecer caso o mercado interno recue", diz ele. Segundo Mosca, o déficit do setor pode chegar a US$ 3,5 bilhões até o fim do ano.



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