A ideia de Brics (conjunto que congrega Brasil, Rússia, Índia e China) como categoria para a análise do futuro das relações internacionais é um conceito em construção. O sucesso da sigla -e de cada país- no século 21 resultará das respostas que cada candidato a potência internacional oferecer a quatro perguntas: Qual é seu projeto nacional? Como perseguirá seus objetivos num mundo interdependente e conflituoso? Como está se preparando para a economia digital do conhecimento? E, por fim, que sacrifícios está disposto a fazer? Até agora, os Brics não parecem caminhar de mãos dadas em direitos humanos, meio ambiente, paz e segurança internacionais ou atuação conjunta na ONU. Tampouco se movem rumo a um bloco econômico com modalidades de livre comércio. Os Brics têm de saber o que planejam para seus países e para suas elites; o que querem do mundo e para o mundo. Todos apresentam grande território, população e economia -além de extraordinário potencial para papéis construtivos ou fragmentários. Portanto, é preciso questionar se os Brics têm projetos de poder, prosperidade e prestígio. A China tem um projeto de prosperidade em vigor há mais de 30 anos. Deseja ser rica e daí ponderosa. O investimento na China é motivado pela criação de infraestrutura local voltada ao comércio em terceiros países. Os mercados financeiros chineses continuarão a ser incipientes por muitos anos. A China continuará a ser a planta de manufatura industrial do mundo, o que contribui para o incremento de seu prestígio e poder. Politicamente, a China se manterá afastada de problemas que venham a afetar o seu projeto de prosperidade. Já a Índia deseja ser ponderosa e daí ter prestígio. O diferencial competitivo vem da baixa remuneração do fator trabalho em têxteis, outsourcing e tecnologias da informação. Não possui projeto de prosperidade. O investimento será vigoroso em áreas de valor agregado, como as indústrias química e de software, mas em escala insuficiente para boom que perpasse sua estrutura socioeconômica de castas. A Rússia quer poder, prosperidade e prestígio. Às vezes, ainda fala como se fosse uma superpotência.A população de cientistas é imensa. No instante em que a economia europeia estiver reequilibrada, o investimento refluirá fortemente para a Rússia, pois é a última fronteira da Europa. A credibilidade do mercado de capitais e das instituições é ainda bastante frágil e demorará anos para se tornar sólida. O Brasil, por fim, não tem projeto de poder ou prosperidade. Sua ideia de prestígio está entrelaçada principalmente com o fortalecimento da ONU e a construção de uma Comunidade Sul-Americana de Nações, bem como a cooperação Sul-Sul, mas com pouca margem para além das boas intenções e relações equilibradas. Tentativas levadas a cabo pelo Brasil de construir relações estratégicas, como com a China ou com a França, são unilaterais na maioria das vezes. A nova posição do Brasil nas relações internacionais virá de êxitos em setores específicos (agroenergia, mineração, perfuração e extração de petróleo offshore, aviões, conglomerados bancários gigantes e efeitos multiplicadores para o setor de serviços do investimento em infraestrutura). E, em grande medida, pelo novo status de potência energética viabilizado pelas descobertas do pré-sal. Eis a grande janela de oportunidade, associada à economia da criatividade e à competitividade digital, para o Brasil inserir-se de forma definitiva no quadro das nações mais dinâmicas, prósperas e influentes do século 21.
MARCOS TROYJO, 43, doutor em sociologia das relações internacionais pela USP, é CEO (diretor-presidente) da Wisekey no Brasil e professor convidado do Centro de Estudos sobre o Atual e o Quotidiano da Universidade Paris 5 (Sorbonne). E-mail: troyjo@post.harvard.edu .
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