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Situação externa ameaça PIB maior

Veículo: Correio Braziliense
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Marcone Gonçalves

O entusiasmo com o crescimento econômico histórico no início do ano começou a dar lugar às preocupações com a capacidade do país de manter o equilíbrio nas contas externas. Para os analistas, os bons números divulgados na terça-feira trazem incubada a possibilidade de um tombo nas relações comerciais e financeiras com outras economias, o chamado deficit externo. Se isso ocorrer, o que estará em jogo, além do crescimento da economia, serão os 16 anos de estabilidade de preços. O principal calcanhar de Aquiles do crescimento apontado pelos especialistas é nível baixo da poupança interna brasileira, que obriga o setor produtivo a captar dinheiro fora por meio de empréstimos para fazer frente aos investimentos necessários ao aumento da produção.

Neste ano, segundo a economista Luiza Rodrigues, do banco Santander, o nível de investimento no Brasil deve ficar próximo de 19%, ainda bem abaixo do México (24,1%), Indonésia (27,8%) e China (40,9%). Isso explica, segundo ela, porque o nosso crescimento potencial estaria limitado a 4,5% ao ano. Qualquer coisa acima disso, obriga o Banco Central a manter os juros brasileiros como os mais altos do planeta para evitar a inflação.

Os economistas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) se debruçaram sobre os dados do Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE) e apontaram outra fragilidade importante no setor externo: o descompasso entre o forte aumento das importações de bens e serviços e o desempenho pífio das exportações brasileiras. No primeiro trimestre, enquanto as compras alcançaram uma taxa de aumento de 13,3%, mesmo patamar registrado nos últimos meses de 2009, as vendas para o exterior seguem ladeira abaixo, caíram de 3,3% no quarto trimestre do ano passado para 1,7% nos primeiros três meses de 2010.

Crise do euro
De acordo com o Iedi, os dados do IBGE refletem desequilíbrios micro e macroeconômicos da economia brasileira. Rogério César Souza, economista do Iedi, disse que o Brasil caminha para se tornar cada vez mais dependente do mercado internacional para poder assegurar os investimentos necessário para atender a demanda interna aquecida.

Os indicadores mostram problemas até mesmo com os investimentos estrangeiros diretos, recursos que são aplicados na aquisição e ampliação de empresas. Os investimentos voltaram em ritmo bom no ano passado, mas nos primeiros meses deste ano estão retardando justamente na área da indústria. Chegou a melhorar agora em maio, mas para a indústria não está nada bom , assinalou Souza.

Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o Brasil tem um encontro marcado com uma crise externa em 2012, caso não seja arrumada para impedir o aumento do deficit externo que, de acordo com o BC, já neste ano deve ficar em torno de US$ 50 bilhões no fim do ano. Castro acredita que a balança comercial ainda será positiva neste ano, mas o problema, segundo ele, é que a situação pode virar por causa do menor crescimento da economia mundial que será provocado pela crise na Zona do Euro. A Europa é o principal mercado da China, que é nosso principal importador. O impacto sobre os preços e o volume das commodities será inevitável , explicou.


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