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Crescimento econômico deve ser mais consistente

Veículo: Valor Econômico
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Editorial

As primeiras reações ao resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, ontem pela manhã, logo em seguida à divulgação dos dados do IBGE, foram de desalento e frustração. Não era para menos - a expectativa generalizada, do governo mas também do mercado financeiro e dos especialistas, era de que a economia brasileira estivesse crescendo a um ritmo anualizado de 8% - o que seria maior que a trajetória interrompida pela crise global em 2008, quando o índice anualizado era de 7%. Não é o que foi apurado pelo IBGE. O crescimento econômico entre julho e setembro foi de 1,3%, bem abaixo dos 2% aguardados pela média das previsões, um erro provocado em parte pela revisão das estatísticas das séries históricas pela inclusão de dados das pesquisas recentemente concluídas. Com essa performance, voltaram as projeções de que o PIB deverá fechar este ano em nível muito semelhante ao de 2008 apesar dos problemas enfrentados pelo país por causa do enxugamento de crédito internacional desde setembro de 2008.

Descontada a decepção por causa do efeito comparativo com as expectativas muito otimistas, não há, porém, como negar que a economia do país atravessa uma fase de recuperação ampla, geral e irrestrita. Após dois trimestres consecutivos de queda, constata-se agora dois trimestres de desempenho positivo na margem. E, no cálculo mais comum internacionalmente, a taxa na margem anualizada, o país teve uma expansão de 5,3% no terceiro trimestre.

Talvez o resultado mais animador de todo o conjunto de informações que formam o PIB tenha sido a recuperação do dinamismo da indústria e dos investimentos. Destaca-se o aumento de 2,9% do valor adicionado da indústria no terceiro trimestre frente ao segundo (na série com ajuste sazonal), após a elevação de 2,6% registrada no segundo trimestre contra o primeiro. O que justificaria, segundo os especialistas, a afirmação de que se nota uma nova dinâmica no setor industrial é que sua expansão ocorre na maioria de seus segmentos, seja em termos de crescimento da produção física ou de expansão do emprego.

Igualmente relevante foi a substancial alta de 6,5% da Formação Bruta de Capital Fixo (que mede os investimentos) no terceiro trimestre. Esse indicador demonstra que a expansão econômica do próximo ano pode ser mais robusta, já que sustentada em investimentos no setor produtivo. Na observação de várias analistas econômicos, poderia se afirmar que a trajetória de recuperação econômica do país ganha qualidade. E isso porque essa taxa de expansão dos investimentos supera muito o ritmo de crescimento do consumo das famílias, que foi de 2% no terceiro trimestre (taxas relativas ao segundo trimestre, livres dos efeitos sazonais).

Esta composição de um PIB puxado mais pelos investimentos do que pelo consumo seria mais favorável ao não surgimento de pressões inflacionárias, pelo menos para os próximos seis a nove meses. Além disso, o próprio mercado financeiro já reagiu ontem à nova perspectiva, com a perspectiva de manutenção das taxas de juros nos seus níveis por um prazo mais longo do que o previsto até o início desta semana, exatamente porque a expansão mais moderada da economia não tenderia a aquecer os índices de inflação. Vale a pena lembrar um outro fator que pode contribuir neste mesmo sentido antipressões inflacionárias - num quadro de câmbio valorizado, a oferta de produtos importados deve aumentar.

É provável que os avanços no consumo das famílias, que perderam força do segundo trimestre para o terceiro trimestre, passando de uma variação de 2,4% para 2%, se acomode num ritmo um pouco mais fraco daqui para frente, na casa de 1,5% por trimestre. É um ritmo ainda forte e que deve manter o interesse das empresas voltadas à produção de bens de consumo no mercado interno, mas não explosivo. As reduções de impostos sobre produtos como automóveis e linha branca promoveram uma antecipação do consumo neste ano, o que pode enfraquecer em parte a demanda por esses bens nos próximos meses.



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