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Custo do trabalho na indústria ainda acumula alta de 9,5%

Veículo: Valor Econômico
Seção: Brasil
Página:

Conjuntura: Emprego industrial registrou crescimento de 0,7% em outubro


    Chico Santos, do Rio
    09/12/2009
 
 

O custo do trabalho para as empresas industriais aumentou 9,5% nos 12 meses iniciados em novembro do ano passado, já durante a crise econômico-financeira deflagrada dois meses antes. Esse aumento resulta da combinação de uma queda de 5,5% da produtividade do trabalho no mesmo período paralela ao crescimento de 3,4% na folha salarial média, já descontada a inflação, segundo dados extraídos a partir da Pesquisa de Emprego Industrial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados ontem.

Pelos dados da pesquisa, o emprego industrial subiu 0,7% na passagem de setembro para outubro, na série com ajuste sazonal. Foi a alta mais expressiva desde julho de 2008, e a quarta seguida no indicador. Nos primeiros meses do ano, a produção caiu de forma mais intensa que o emprego, resultando em forte perda de produtividade na indústria. Nos últimos meses, a produção tomou a dianteira. Em novembro, a produção cresceu 2,2% sobre outubro na série com ajuste sazonal, indicando que o setor começa a recuperar parte da eficiência perdida.

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Até setembro, a queda da produtividade em comparação com a folha de pagamento média real (por trabalhador) da indústria indicava um aumento de 9,9% no custo salarial do setor. A diferença, portanto, diminuiu um pouco em outubro - e parou de crescer. Mas persiste. Ainda é cedo para saber de que forma as empresas vão buscar a recuperação dessa defasagem. Uma das hipóteses é que, com a economia em processo de aquecimento, essa recuperação possa vir pelo repasse desse custo aos preços, pressionando a inflação e, consequentemente, a taxa de juros em um ano eleitoral. Mas economistas ouvidos pelo Valor acreditam que seja necessário, passada a "tempestade", esperar uma série histórica relativamente longa dos indicadores para saber como será feita essa acomodação. Eles acham que ela pode ter um desfecho sem traumas.

Silvio Sales, que durante muitos anos comandou as estatísticas industriais do IBGE e atualmente é consultor da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que o fenômeno é natural dos períodos de crise. "É da natureza do ajuste que a variação do emprego apresente uma curva bem mais suave do que a da produção física da indústria. Daí ser natural uma perda da produtividade no primeiro momento", analisou. Efetivamente, os dados do IBGE mostram que nos 12 meses encerrados em outubro a produção industrial caiu 10,6%, diante de uma queda de 5,7% do emprego e de 5,4% no total de horas pagas no mesmo período. A conta da produtividade é dada pela comparação entre as horas trabalhadas e a produção. Como a produção caiu mais, cai a produtividade.

Sales mostra as curvas de comportamento do emprego e da produção industrial de janeiro de 2008 até outubro deste ano para ilustrar sua conclusão. Enquanto a primeira é relativamente suave, a da produção apresenta um imenso e abrupto vale, cujo fundo está em dezembro de 2008, para iniciar em seguida uma lenta recuperação que perdura, mas ainda está longe do pico alcançado em setembro do ano passado.

Sales avalia também que os números refletem o comportamento da crise sobre a economia brasileira, punindo muito mais os setores ligados às exportações do que aqueles ligados ao mercado doméstico. Exemplo clássico, segundo ele, é a indústria extrativa mineral, na qual o aumento do custo do trabalho foi de 25,3% de novembro de 2008 a outubro deste ano, diante de uma alta de 8,8% na indústria de transformação, 9,5% na indústria geral, e uma redução de 0,9% na indústria de alimentos e bebidas.

Para o consultor da FGV, o aumento da folha média de pessoal veio em consequência de uma provável opção das empresas por aproveitar a crise para demitir seu pessoal menos qualificado, e de mais baixa remuneração, provocando uma elevação momentânea do salário médio. Para ele, mais importante é o fato de a massa salarial como um todo ainda estar 1,4% negativa quando comparada aos 12 meses anteriores a novembro de 2008. Ele conclui que vai ser necessário esperar um pouco para saber "como ficarão os números quando a produção alcançar um nível semelhante ao do pré-crise".

O economista José Marcio Camargo, diretor da Opus Gestão de Recursos, acha também que "é difícil fazer uma análise de curto prazo" dos números. A súbita queda da produção, segundo ele, pode ter potencializado a queda da produtividade, sendo necessário esperar algum tempo para que se possa ter uma leitura mais precisa dos números. "Esses movimentos cíclicos não representam muita coisa. Produtividade se analisa no longo prazo", argumenta.

Para ele, se as empresas estiverem dando reajustes de salários no período de saída da crise é porque estão esperando "cobrir o aumento de custos com aumento da produção". Segundo ele, preocupante seria se as empresas estivessem dando reajustes e correndo para o governo na tentativa de compensar esses aumentos de cursos com favores fiscais, por exemplo. "Acho que a expectativa (das empresas) é que tenham recuperação e ganhos de produtividade", conclui.



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