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Comércio exterior e modelo econômico

Veículo: O Estado de S. Paulo
Seção: Editorial
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É preocupante o resultado de novembro da balança comercial, quando comparado com o do mês anterior, haja vista a queda de 5,7% nas exportações e de apenas 0,9% nas importações, o que resultou em redução de 51,4% do saldo comercial calculado pela média por dia útil.

Isso poderia ser visto como um fato excepcional e como se uma avaliação do comércio externo devesse ser feita usando o resultado acumulado dos 11 meses do ano, pois, assim, poder-se-ia ter uma visão mais clara do que representou essa atividade para o conjunto da economia do País. Mas também assim o resultado não nos traz grande otimismo: as exportações caíram 23,8%; as importações, 27,6%; e o saldo da balança cresceu 3,8%, levando em conta os dados da média por dia útil.

O que nos parece mais importante é que as vendas externas dos produtos manufaturados apresentaram queda de 28,9%; as de semimanufaturados, de 26,5%; e as de produtos básicos, de 15,1%. Esse recuo das exportações naturalmente pode ser atribuído à conjuntura internacional e à taxa cambial desfavoráveis. Porém, a verdade é que nossas autoridades não fizeram nenhum esforço para corrigir esses fatores, o que teria sido possível por meio de uma revisão da política fiscal e de outros incentivos.

Caberia também questionar nossa política externa, ao verificar que os maiores recuos foram registrados nas exportações para a União Europeia (-US$ 12 bilhões), para os EUA (-US$ 11,5 bilhões) e para o Mercosul (-US$ 6,9 bilhões), enquanto nossas vendas para a China cresceram apenas US$ 3,1 bilhões.

Do lado das importações, excluindo o petróleo, registrou-se queda de 22,8%, mas convém notar que o único item em que houve aumento foi o de bens de consumo não-duráveis (+0,6%), e aquele em que se constatou a menor queda foi o de automóveis (-3,1%). A queda das importações de matérias-primas e bens intermediários (-29,5%) e de bens de capital (-17,9%) indica um desempenho medíocre da nossa indústria, que atendeu à demanda doméstica com importações.

O que inquieta é que em novembro se registrou um crescimento de 7,2% nas importações de bens de consumo, em relação ao mês anterior, indicando que a indústria atende cada vez menos à demanda interna, apesar do crescimento da sua produção registrado em outubro. E isso coloca em questão toda a tática de política econômica de basear o crescimento na elevação do consumo, sem que a indústria possa participar.



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