Notícias

40 anos depois

Veículo: Correio Braziliense
Seção:
Página:

 
Antonio Machado

Brasil terá quarta maior economia em 2050, segundo estudo sobre G-20, e renda per capita de 27% da dos EUA

Se em 30 anos, a partir de 1950, a economia brasileira cresceu 7% ao ano em média, avançando para 8,9% anuais entre 1968 e 1980 o período dos governos autoritários, do polêmico milagre econômico e depois por mais de duas décadas se entregou a árdua faxina de pagar dívidas, administrar a inflação, cuidar do passivo social, o que acontecerá até 2030 ou 2050? Poucos se atrevem a ir tão longe.

A Carnegie Endowment for International Peace, organismo privado sem fins lucrativos com sede em Washington, sucursais em Moscou e Pequim, e financiado por empresas privadas, doações individuais e governos como os dos EUA, França, Japão e Suécia, destacou dois de seus pesquisadores para perscrutar o futuro. E encontrou um quadro que reproduz o cenário que a crise global só tende a reforçar.

Nos próximos 40 anos, o Produto Interno Bruto (PIB) dos países do Grupo dos 20 (G-20), que reúne as sete economias mais ricas, antigo G-7, e os principais emergentes como China, Índia e Brasil, elos do acrônimo BRIC, completado com a Rússia , vai crescer, segundo tal exercício, à média anual de 3,6%, saindo de US$ 38 trilhões em 2009 para US$ 161 trilhões em 2050, em dólares reais.

Desse acréscimo de riqueza global, US$ 123 trilhões, cerca de 60% viriam do crescimento econômico do Brasil, Rússia, Índia, China e México, consolidando um novo acrônimo, segundo o estudo, o BRIC+M, e o papel do G-20, que representa mais de 80% da economia mundial, como o principal fórum de debate e decisão das questões globais.

O PIB dos BRIC+M cresceria à média anual de 6,1%, enquanto o do G-7 avançaria modestos 2,1%. O pedaço dos cinco grandes emergentes no PIB do G-20 saltaria de 18,7% em 2009 para 49,2% em 2050. E o do G-7, que reúne os EUA, Japão e as maiores economias europeias, como Alemanha, Inglaterra e França, cairia de 72,3% para 40,1%.

No novo realinhamento entre as potências econômicas que começa a emergir, com desdobramentos geopolíticos, a economia da China deve passar a dos EUA por volta de 2032. Em 2050, China (com PIB de US$ 45 trilhões), EUA (US$ 38 trilhões), Índia (US$ 17 trilhões), pela ordem, seriam as maiores economias do mundo, seguidas de Brasil e Japão, ambos quase empatados com PIB de US$ 6,2 trilhões.

Rupturas mudam tudo
Qual a credibilidade destas projeções? A autoria é respeitável. O modelo de projeção ainda não foi divulgado, mas a premissa adotada é adequada. De 2009 a 2014 o estudo se baseou em projeções do FMI. De 2015 a 2025, supôs a mesma tendência anterior à crise atual. E daí até 2050 o estudo apenas derivou os resultados encontrados.

Também se assumiu a continuidade de mercados abertos, políticas econômicas prudenciais e ausência de catástrofes em escala global. Como todo cenário, basta um pequeno desvio numa premissa e tudo o mais sai do rumo. Não há como prever tecnologias de ruptura como a internet, que redesenhou as relações econômicas e sociais.

Se o carro elétrico surgir com força, por exemplo, a economia com base na queima de petróleo estará condenada em poucas décadas.

Estagnação no apogeu
Tais estudos importam como megatendências à falta de modificações econômicas revolucionárias e de choques culturais, sociais e entre países. Como está a correlação de forças econômicas e políticas no mundo, a China pode até não ultrapassar os EUA, como vaticina a Carnegie Endowment, mas está predestinada a ganhar relevância cada vez maior. E isso mesmo com uma crise de digestão, pelo excesso de capacidade, prevista por muitos para algum momento depois de 2011.

No fim dos anos 80 do século passado, também se falava do século japonês . Empresas do Japão compravam tudo nos EUA, de estúdios de cinema ao Rockfeller Center. De 1990 em diante, afundou numa crise parecida com a atual dos EUA, de dívidas impagáveis, entrando num longo período de estagnação no apogeu que vem até hoje. À China, com excesso de capacidade industrial, tais riscos estão presentes.

Descompassos sociais
Feitas todas as ressalvas, o que salta à vista é que, mesmo com a ampliação do peso econômico dos países emergentes, 40 anos depois a renda per capita da China, prevista em US$ 32 mil em 2050, seria apenas 36% da dos EUA (US$ 88 mil). A do Brasil (US$ 24 mil), 27%.

A economia brasileira cresceria, segundo o estudo, 4,16% em média de 2009 a 2050 (China, 5,6%; Índia, 6,2%; EUA, 2,7%; Japão, 1,1%). Nem assim diminuiria decisivamente o descompasso social em relação aos atuais ricos do mundo. A qualidade do crescimento, mantido o padrão atual, merece atenção, assim como os riscos do processo.

Poder global diluído
Uma evolução com tal padrão pressupõe consequências. A reprodução do modo de consumo dos países ricos entre os países emergentes põe pressões ambientais. A ascensão dos BRIC, e outros como Indonésia e México, altera o jogo político global. Os EUA, se confirmado tal cenário, continuam como potência líder, mas cedendo autoridade aos emergentes. Crítica seria o status da Europa, já que só como bloco conseguiria manter-se influente. O pleito do Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas neste quadro ganha maior viabilidade, mas a precedência da Índia, hoje vetada pela China, é maior pelo tamanho, poderio e crescimento potencial.


Compartilhe:

<< Voltar

Nós usamos cookies em nosso site para oferecer a melhor experiência possível. Ao continuar a navegar no site, você concorda com esse uso. Para mais informações sobre como usamos cookies, veja nossa Política de Cookies.

Continuar