O encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner não conseguiu chegar a uma solução imediata para o impasse em torno da imposição de licenças de importação de produtos entre Brasil e Argentina. Depois de duas horas de negociação ontem, os dois presidentes fecharam um compromisso tímido, que passa a valer apenas a partir de janeiro de 2010. Por este, os países se comprometem a limitar a 60 dias o prazo para liberação de mercadorias que não têm o privilégio de liberação automática nas aduanas — o que já determina a Organização Mundial do Comércio (OMC).
Os argentinos chegam a demorar até 180 dias para liberar produtos brasileiros. Isso, na prática, inviabiliza a exportação e cede espaço do Brasil no mercado argentino a terceiros competidores, especialmente a China.
Dessa forma, a reunião não resolveu o problema dos produtos brasileiros ainda retidos na fronteira do país vizinho, tampouco ajudará a liberar a entrada no Brasil de 35 produtos argentinos, como vinho, farinha de trigo e alho.
A divergência entre os dois países transpirou nos discursos presidenciais — diplomáticos mas repletos de recados a ambos os lados. Sem nomear especificamente a Argentina, o presidente Lula criticou o protecionismo na relação comercial entre os dois países. Para o presidente, a superação das divergências entre Brasil e Argentina passará por elevar as exportações argentinas e não reduzir as vendas brasileiras.
Lula defendeu mais financiamento à indústria argentina, para que exporte seus produtos para o Brasil e equilibre, dessa forma, a balança comercial, favorável ao Brasil, e alvo de críticas por parte dos vizinhos.
— O caminho a seguir é o incremento das exportações argentinas, não a diminuição das exportações brasileiras. Nossa resposta à crise deve ser mais comércio e mais investimentos; mais negócios e integração produtiva.
O protecionismo não é solução, apenas cria distorções difíceis de inverter — declarou o presidente durante o brinde em homenagem a Cristina Kirchner.
Lula e Cristina vão se reunir a cada 90 dias Em resposta, a presidente argentina lembrou que foi também política a decisão do país comprar 20 aviões da Embraer, formalizada no encontro. Ao mesmo tempo, ressaltou a diferença da situação econômica entre os dois países.
— Somos uma sociedade, é verdade, mas é certo que temos um sócio maior, produto do tamanho de sua economia. Por isso, é preciso mirar o conjunto.
Precisamos do desenvolvimento de ambos — disse Cristina, que ao encerrar o discurso fez um brinde “todo especial à inteligência de ambos”.
Ela também comemorou o fato de uma grande empresa brasileira ter decidido investir no país. Segundo fontes do governo, a empresa seria a Vale, que irá desenvolver uma mina de potássio naquele país.
Lula anunciou que as reuniões bilaterais entre ele e Cristina, que aconteciam semestralmente, passarão a ocorrer a cada 90 dias. E foi criada uma Comissão Ministerial integrada pelos respectivos chanceleres e ministros responsáveis das áreas de Economia, Fazenda, Produção e Indústria e Comércio.
Esse grupo se reunirá a cada 45 dias para avaliar a relação comercial.
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