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''O mercado interno é mais importante''

Veículo: Estadão
Seção: Economia e Economias
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Para ministro, País deve se preocupar mais com as vendas domésticas, que equivalem a 86% do PIB, do que com as exportações

David Friedlander e Raquel Landim

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Entrevista
Miguel Jorge: ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior



O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, afirmou que no momento o Brasil tem de se preocupar mais com o mercado interno do que com as exportações. "O presidente disse que não vamos agradar a todos com o câmbio." A seguir, a continuação da entrevista:

A Venezuela será um bom sócio para o Mercosul?

Se é um bom sócio para o Brasil, certamente será para o Mercosul. Quem tem de dizer isso são as empresas, tem de deixar para elas decidirem.

Como está a negociação com Hugo Chávez para destravar a exportação de carros?

A Venezuela tem uma enorme quantidade de automóveis velhos, importados dos Estados Unidos, das décadas de 60, 70. Eles criam todo tipo de problema. Altamente poluidores, quebram pra burro, deixam o trânsito infernal. Eles fazem em média 2 km por litro. Se eles retirarem 100 mil desses automóveis por ano, economizariam o equivalente a 5,5 milhões de barris de petróleo por ano. São US$ 400 milhões. Com esse dinheiro, o governo da Venezuela pode comprar automóveis do Brasil, movidos a gás. Eles têm gás e não têm mercado. O Chávez topou. Ficamos de apresentar um programa. Ele marcou uma reunião comigo no dia 24 ou 25 de novembro. O pessoal do ministério está se reunindo com a Anfavea (associação das montadoras) para desenhar o programa.

Serão 100 mil carros por ano?

O programa é de 100 mil. Não significa um ano. Qualquer prazo que seja é um bom negócio para os dois lados. Tem algo interessante: ele perguntou se tínhamos a tecnologia de miniusinas siderúrgicas para tratamento de sucata. Nós casamos com o programa de renovação de frota, para receber os automóveis velhos, desmanchar e colocar nas usinas. Nós vamos fornecer também as usinas.

O sr. falou que o IOF de 2% não resolve o problema do câmbio. O que pode resolver o problema do câmbio?

Não sei o que pode ser feito para melhorar o câmbio. Mas nós temos de aumentar muito a eficiência, a competitividade, a inovação do País. E temos de melhorar as condições de financiamento das exportações.

Isso leva tempo. E no curto prazo?

Veja bem, 14% do PIB (Produto Interno Bruto) é exportação. Neste momento, temos de nos preocupar mais com 86% do PIB do que com 14%. É mais importante para o País hoje, como foi durante toda a crise, o mercado interno. O presidente disse que não vamos agradar a todos com o câmbio. Quando ele está baixo, como agora, o exportador reclama, mas o importador acha bom. Temos uma quantidade imensa de empresas que exportam mesmo com esse câmbio.

Mas isso não vai gerar déficit na conta corrente?

Não acredito. Depois que a crise terminar, as exportações vão voltar, mas não nos níveis anteriores, por isso temos de vender para os países que podem comprar.

Como está a disputa em torno do futuro Eximbank (banco especializado em comércio exterior)? Ficará subordinado ao Ministério do Desenvolvimento ou à Fazenda?

Não tem disputa, o presidente Lula já decidiu. Será ligado ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, subordinado ao Desenvolvimento). A ideia básica é que já tem quase um Eximbank no BNDES, que é a área de exportação. Essa diretoria será a base para o Exim. Ainda não podemos dizer tudo porque o presidente ainda não sabe como vai ser.

Haverá também uma seguradora para as exportações? Será subordinada ao Tesouro?

Não sei se ficaria com o Tesouro. Só para fazer um exercício de raciocínio, poderia ficar com o Banco do Brasil ou com a Caixa Econômica.

Não é ruim ter a seguradora num lugar e o Exim em outro?

É bom ter os dois separados. São coisas diferentes. Quando você vai fazer um seguro de automóvel, você tem de ver qual é o risco. Não é o vendedor que vai cuidar do seguro. Porque, ao vendedor, interessa vender.

Quanto o Eximbank terá de capital? Os recursos do Proex (Programa de Crédito à Exportação) vão para lá?

Devem ir. Mas ainda não definimos qual vai ser o capital.

E os R$ 10 bilhões do FGE (Fundo de Garantia à Exportação)?

Devem ir também.

Esse dinheiro não vai ficar com a seguradora?

Pois é... Aí vamos fazer uma outra... não vou falar. Não posso.

O governo vai taxar a exportação de minério de ferro? O senhor é a favor ou contra?

Tem uma discussão, mas não tem nada definido. Se nós avaliarmos os custos de tarifas e impostos sobre todos os produtos, há uma diferença grande sobre o minério e outras commodities agrícolas, que pagam muito mais imposto. Desse ponto de vista, sou a favor.


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