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Mesmo com IOF, mercado prevê queda do dólar

Veículo: O Estado de S. Paulo
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Leandro Modé

A cobrança do IOF de 2% sobre o capital estrangeiro direcionado para bolsa de valores e renda fixa provocou mais polêmica do que efeito prático. Não bastasse o dólar ter voltado a cair depois do impacto inicial da medida, a maioria absoluta dos analistas de mercado financeiro não mudou suas projeções para a cotação da moeda americana para o fim deste ano e de 2010.

Uma pesquisa da AE Projeções com 20 instituições financeiras mostra que apenas uma alterou para cima a estimativa. Houve até quem tenha revisado para baixo os números, apesar da taxação - como Bradesco e Bradesco Corretora.

Não acreditamos na eficiência da medida para alterar os fluxos de capitais, disse o economista-chefe do Banco Santander e ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartsman. O câmbio vai continuar escorregando e pode chegar, no curto prazo, a R$ 1,60, completa o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Depois de atingir R$ 1,74 na terça-feira, dia seguinte ao anúncio da nova regra, o dólar voltou a se desvalorizar ante o real. Sexta-feira, caiu 0,70%, e encerrou a semana valendo R$ 1,713.

O economista-chefe da Bradesco Corretora, Dalton Gardiman, lista três razões para justificar por que a cobrança do IOF não altera suas previsões. A primeira delas diz respeito às dúvidas sobre a efetividade, o que leva automaticamente para o segundo fator: a possibilidade de revogação. Dado o efeito inicial, muitos se perguntam se o governo não voltará atrás.

Por fim, Gardiman lembrou que, nos dias de hoje, há muitas formais legais de o investidor driblar a restrição imposta pelo governo, conforme o Estado informou quinta-feira. Ele e sua equipe revisavam na sexta-feira as projeções para o valor da moeda americana. Para 2009, a cotação de R$ 1,70 foi mantida. Para 2010, porém, os R$ 2,00 seriam revistos para baixo.

O Bradesco também reduziu as estimativas para o câmbio. Para este ano, a taxa foi de R$ 1,80 para R$ 1,60. Para 2010, a previsão passou de R$ 1,75 para R$ 1,65. Os analistas da instituição atribuíram as mudanças, principalmente, ao comportamento das commodities (matérias-primas, com cotação no mercado internacional) exportadas pelo Brasil.

Os preços de commodities, historicamente, ajudam a explicar a trajetória do real, ainda que nos últimos meses tenha ocorrido um descolamento entre eles, ou seja, o real apreciou mais do que os preços de commodities sugeririam, afirmaram, em relatório. Mas, olhando para frente, ainda que a elasticidade histórica entre o real e as commodities tenha porventura tido alteração, persiste a máxima de que preços de commodities robustos fundamentam um real ainda apreciado.

Eles esperam que o Commodity Research Bureau (CRB, um dos principais termômetros do comportamento desses produtos no mercado internacional) se valorize 25% em 2010.

O sócio da MCM Consultores, José Julio Senna, diz que o governo só conseguiria interferir na trajetória do dólar se radicalizasse, ou seja, adotasse medidas como controle de capitais ou até mesmo fixasse a taxa de câmbio (regime que vigorou no País entre 1994 e o início de 1999). Duvido que o governo faria isso, pois desplugaria o Brasil do resto do mundo.

Embora concorde com Senna no que se refere à tendência para o dólar, o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, não considera absurda a ideia da volta do câmbio fixo. Ao contrário. Se mantida, a trajetória para o câmbio nos arrebentará. Ele argumenta que o real valorizado tira a competitividade da indústria, o que acabará commoditizando o País.



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