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Governo aciona aliados para aprovar entrada da Venezuela no Mercosul

Veículo: Valor Econômico
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Cristiane Agostine

A Comissão de Relações Exteriores do Senado decidirá só no fim do mês se aprovará ou não a adesão da Venezuela ao Mercosul. O relator do projeto, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), apresentou ontem parecer contrário à entrada do país no bloco, mas o governo discorda desta posição e vai trabalhar junto à seus aliados. A votação, prevista para ontem, foi adiada para o dia 29 de outubro. Até lá, o governo articulará a rejeição do relatório, com auxílio no Congresso do lobby de representantes da construção civil, da indústria automobilística, de telefonia móvel e de alimentos - setores com estreita relação comercial com a Venezuela. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), apresentará um voto em separado, em favor da Venezuela.

O tucano destacou sua discordância política com o governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, e disse que a Venezuela ainda não apresentou todas as informações solicitadas pelo protocolo de adesão. Tasso ressaltou, ao ler seu parecer, o trecho em que defende que o Poder Judiciário está subordinado aos interesses do Executivo na Venezuela e destacou relatório da OEA com críticas àquele país por não respeitar direitos humanos e princípios democráticos. O Brasil, no entanto, também é alvo de duas críticas nos relatórios da OEA, com reclamações à omissão do Poder Judiciário no país e violação dos direitos humanos.

O relatório de Tasso gerou divergências entre os senadores. O líder do governo pediu vistas coletivas para que os parlamentares pudessem ter tempo para debater o tema. Apenas um senador do PT, Augusto Botelho, acompanhou o debate. Jucá e Botelho foram eleitos por Roraima, Estado com fronteira com a Venezuela. Não vejo como colocar um muro entre a Venezuela e Roraima, disse Jucá ontem. Não se pode fazer política interna olhando para o retrovisor, disse, referindo-se às críticas feitas por Tasso a Chávez.

O parecer do senador Jereissatti enfatiza que o pedido de ingresso da Venezuela no Mercosul deve ser analisado sob o ponto de vista político e não econômico.

A pressão dos empresários sobre os senadores aumentará pela aprovação da entrada do país no bloco. Os financiadores de campanha, em especial as empreiteiras, deverão atuar nos bastidores da negociação no Senado. O presidente da Federação de Câmaras de Comércio Venezuela-Brasil, José Francisco Marcondes, disse já ter visitado metade dos 81 senadores para defender a aprovação do protocolo de adesão e afirmou ontem que ampliará a campanha. Há tarifas diferenciadas, reduzidas, como na indústria automobilística e de máuinas e equipamentos, que terminarão em 2011. Se houver recusa política à Venezuela, aquele país não ficará confortável para renovar essas tarifas, nem ampliá-las, comentou. Para Marcondes, dificilmente o parecer do senador tucanos será aprovado. Essa decisão do senador Tasso Jereissati é irresponsável, criticou. É uma visão ideológica, de curto prazo. O processo de adesão é para as próximas gerações, disse.

O PMDB poderá votar com o PT pela adesão da Venezuela. O dinheiro fala mais alto que qualquer ideologia, comentou o senador Wellington Salgado (PMDB-MG). Vou tentar derrubar o parecer, disse. Apenas PSDB declara-se contrário, mas o DEM deve votar pela aprovação do parecer de Tasso. Depois do voto do parecer na comissão, o projeto segue para votação no plenário.



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