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Indústria chinesa avança para liderança mundial

Veículo: Valor Econômico
Seção: Internacional
Página:

 


    Timothy Aeppel, The Wall Street Journal
    03/08/2009

A China caminha para superar os Estados Unidos como maior polo manufatureiro do mundo bem antes do que se esperava. A questão é: isso tem importância? Em questão de tamanho real, a resposta é não. Mas se o tamanho for uma medida da saúde relativa do setor em cada país, a resposta é sim.

Qualquer um que caminhe pelos corredores de um varejista americano pode pensar que a China já é o maior centro industrial do mundo. Mas os EUA preservam essa distinção por uma margem razoável. Em 2007, último ano para o qual há dados disponíveis, os EUA respondiam por 20% da manufatura mundial, a China correspondia a 12%.

A diferença, porém, está diminuindo rapidamente. Segundo a firma americana de previsões econômicas IHS/Global Insight, a China produzirá mais em valor agregado real por volta de 2015. O uso do valor agregado como medida evita o problema de se contar duplamente o valor criado a cada etapa do processo de produção. Dois anos atrás, a estimativa da empresa era de que a China superaria os EUA em 2020. No ano passado, antecipou a data para 2016 ou 2017. "A profunda recessão recente na manufatura americana implica que a equiparação da China vai ocorrer alguns anos antes do que seria o caso se não houvesse recessão", diz Nariman Behravesh, economista-chefe da Global Insight.

A produção industrial está encolhendo nos EUA, com perda de empregos e, como reflexo da recessão, um volume menor de bens está sendo produzido e exportado, ao passo que as fábricas da China continuam a crescer. Se as indústrias de ambos os lados estivessem prosperando, haveria poucos motivos para atritos. Mas com o enorme desequilíbrio comercial entre os dois países e a incerteza nos EUA sobre quando e até que ponto a manufatura vai se recuperar, a ascensão chinesa tornou-se um ponto de crescente conflito. A atividade industrial da China continuou a crescer em julho, mostrou a Federação de Logística e Compras da China no sábado. O Índice de Gerentes de Compra subiu a 53,3 em julho, ante 53,2 em junho e 53,1 em maio.

Muitos economistas argumentam que o encolhimento da indústria americana - tanto em empregos como fatia do PIB - é evolução econômica normal que começou muito antes de a China emergir como potência manufatureira. Do ponto de vista deles, o encolhimento ocorreria de qualquer forma e é sinal de saúde o fato de que o setor não precisa ser tão grande para ser produtivo e que esteja eliminando empregos de baixa qualificação e criando vagas seletas de alta qualificação.

Behravesh, da Global Insight, vê a ascensão da China como algo até saudável. "No curso natural, os países vão da agricultura para a manufatura e para os serviços", diz. "Subsidiar a manufatura faz com que (os EUA) retrocedam nessa curva."

Mas outra escola de pensamento, conhecida pelo epíteto um tanto pejorativo de "fundamentalistas industriais", afirma que o declínio dos EUA não é natural e deve ser revertido para preservar o poder econômico do país. Da perspectiva deles, isso exige combate à política chinesa que alimenta exportações de baixo custo e prejudica várias indústrias, sejam têxteis ou fabricantes de pneus.

O governo Obama pisa cuidadosamente nesse campo minado. Numa conferência na semana passada, o primeiro encontro de um novo fórum criado para promover uma cooperação mais próxima entre os dois países, a política cambial controlada da China mal foi discutida, ainda que seja um tópico delicado para muitos produtores e sindicatos trabalhistas dos EUA. Eles argumentam que a China subvaloriza sua moeda para obter uma vantagem competitiva para suas exportações, vendidas a um preço mais baixo nos EUA.

O Conselho das Empresas e Indústria dos EUA, que representa empresas sediadas no país, acusou o governo Obama de "abraçar o panda", expressão americana para criticar políticas que ignoram riscos de se lidar com a China. O governo abrandou a posição sobre a questão este ano quando se negou a qualificar a China de manipuladora do câmbio.

John Engler, presidente da Associação Nacional de Manufatureiros dos EUA, diz que não espera que a China ultrapasse os EUA antes de 2020. "Pode ou não continuar a crescer tão rapidamente", diz. "A importância do desafio da China aos EUA depende de como respondemos", como a adoção de política tributária e investimento que encoragem produtores domésticos a se expandir.

O grupo de Engler se defronta com uma questão delicada: muitos de seus poderosos membros produzem na China e preferem evitar controvérsia sobre comércio exterior, enquanto o grupo mais numeroso de membros menores da associação frequentemente critica o país.

Mesmo em seu estado enfraquecido, a atividade industrial é parte grande da economia dos EUA. O setor gera mais de 13% do PIB, o que o torna mais importante para a economia do que os setores varejista, financeiro e de assistência médica. Na China, representa 34% do PIB.



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