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Custo da retomada deve prejudicar crescimento do País no longo prazo

Veículo: Estadão
Seção: Economia & Negócios
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Para economistas, aumento dos gastos permanentes do governo pode tirar fôlego da economia nos próximos anos

Márcia De Chiara e Alberto Komatsu

O Brasil foi um dos primeiros países a superar a fase mais aguda da crise, mas pode pagar um preço alto por isso. O aumento dos gastos permanentes do governo, para estimular a retomada da atividade, pode tirar o fôlego do crescimento da economia no médio e longo prazos.

A constatação é do economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. "Tivemos só dois trimestres de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) negativo, mas a um custo enorme. Esse custo vamos ver mais adiante, crescendo menos."

Para ele e outros especialistas, como Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-diretor do Banco Central (BC), apesar de o País ser a bola da vez no mercado internacional por ter passado rapidamente pela crise, a economia brasileira tão cedo não retomará o nível de crescimento de setembro de 2008.

Além dos gastos excessivos do governo, como o reajuste do funcionalismo público, do Bolsa-Família e outros benefícios que comprometem a capacidade de investimento em infraestrutura a médio prazo, Mendonça de Barros ressalta que faltam ser retomados dois pilares fundamentais para que a economia deslanche. Um deles é a exportação de manufaturados, o outro é o investimento. Ambos dependem das condições de mercado e devem voltar a crescer lentamente a partir de 2011, com a retomada da economia mundial. Com isso, voltarão a impulsionar o PIB.

Em setembro do ano passado, quando o banco Lehman Brothers quebrou e a crise veio à tona, a economia brasileira caminhava para atingir um ritmo de alta de 5,5% ao ano, mas fechou 2008 com crescimento menor, de 5,1% na comparação com 2007. Estimativas de mercado apontam uma retração do PIB de 0,34% este ano e elevação de 3,5% em 2010, segundo o último boletim Focus do BC.

Um levantamento dos principais indicadores do ritmo de atividade feito pelo Estado, comparando a situação atual com a de setembro do ano passado, mostra que a maioria dos setores que já retomaram o nível pré-crise foram aqueles que tiveram o dedo do governo com as políticas anticíclicas.

Nesse rol estão, por exemplo, as vendas de veículos no mercado interno, beneficiadas pelo redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), e a procura do consumidor por crédito. O aumento da demanda por crédito reflete a queda do juro ao consumidor que, por sua vez, foi influenciada pelo corte na taxa básica de juros (Selic), determinada pelo Comitê de Política Monetária do BC. Também a maior oferta de crédito pelos bancos públicos contribuiu para a expansão dos financiamentos e do consumo doméstico.

Em contrapartida, o mesmo levantamento mostra que os indicadores que dependem do desempenho do mercado e são em boa dose influenciados pelo setor externo, como a produção industrial e o saldo do número de empregos com carteira assinada, por exemplo, estão ainda abaixo do nível alcançado na fase pré-crise.

Para a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, quando há mudança de rota na economia, como ocorre hoje, é comum o descasamento entre os indicadores. "E as políticas anticíclicas reforçam isso."

MOTOR

Na opinião do estrategista-chefe do banco WestLB do Brasil, Roberto Padovani, a política anticíclica do governo não foi necessariamente o motor da reversão estampada nos indicadores. "Ela evitou o aprofundamento da crise." O pilar da reversão, diz, foi a melhora das condições globais de crédito. Sem essa mudança lá fora, as políticas locais teriam tido efeito menor, pondera.

Mais importante hoje do que a volta da economia ao nível pré-crise, segundo o economista, é a mudança na trajetória da atividade. "Neste momento, o quadro é de recuperação suave." Ele sustenta essa avaliação lembrando, por exemplo, que, quando o PIB caiu 3,6% no último trimestre de 2008 ante o trimestre anterior, descontados os efeitos típicos do período, as projeções indicavam que, se a atividade estacionasse naquele nível, a economia em 2009 teria uma contração de 1,5%. Agora, porém, a média das projeções do mercado indica queda de 0,34% para este ano, podendo até empatar.


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