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Crianças na moda

Veículo: Portugal Têxtil
Seção: Vestuário
Página: www.portugaltextil.com

A moda é, cada vez mais, um meio para as crianças – especialmente para os adolescentes dos 12 aos 14 anos – se afirmarem. Mas os desejos e necessidades desta grande fatia de consumidores, cujos orçamentos anuais podem rondar os 600 euros, é ainda um quebra-cabeças para muitas empresas. 

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Crianças na moda

A criança como consumidor. Uma questão abrangente, sobretudo porque se trata de um segmento que varia dos 0 aos 14 anos, desde o nascimento, onde o indivíduo não tem palavra a dizer (até porque ainda não sabe falar) até à idade da «ado-nascência do estilo». Pela sua pertinência e complexidade, a Tissu Premier organizou, na sua edição de Janeiro último, uma conferência sobre o assunto. Uma escolha que não foi ao acaso, já que, depois de ter anexado as Journées Fournisseurs em Fevereiro de 2007, este é um tema que preocupa a feira: o mercado infantil representa agora 25% dos seus visitantes.

Em especial, o segmento infantil revela-se cada vez mais importante à escala da moda, onde, com 834 mil nascimentos em 2008 (de acordo com o Insee), a França continua a alimentar o viveiro de um sector que não pára de crescer. Este sector dispõe de um orçamento não negligenciável, desde 500 euros por ano para uma criança pequena até aos 627 euros anuais para uma garota dos 7 aos 18 anos.

Os especialistas presentes procuraram, assim, deslindar, pelo menos em linhas gerais e com uma «chave de leitura baseada em segmentos de idade, os modos de funcionamento e os mecanismos de compras têxteis para este pequeno consumidor». As discussões que foram tidas perante dezenas de estilistas, responsáveis de produto para criança e responsáveis das marcas, fixaram-se sobretudo em dois eixos, que dizem respeito ao início e ao fim deste vasto mundo da infância.

Do nascimento até ao primeiro ano de vida, os cuidados são colocados no que Catherine Lott-Vernet, presidente da agência Junium, classifica de «estado de graça». É o período da “criança-rei”, em que os pais são decisivos nas compras têxteis. Mais sensíveis ao ambiente que rodeia a sua criança (a higiene, a saúde, a ecologia), optam cada vez mais por todos os produtos que garantam essa protecção. Ou seja, é neste segmento que o vestuário em algodão orgânico, por exemplo, tem maior sucesso. O que foi confirmado por Els Gaelens, responsável do segmento rapariga na C&A. A marca, que em 2007 lançou a sua oferta de algodão biológico para toda a família e escoou cerca de «dois milhões de peças de vestuário» no Inverno 2007/08, realiza actualmente «as suas melhores vendas no segmento bebé e criança. Até porque este material tem cada vez mais a conotação de suavidade, cuidado, sensibilidade», explica.

Neste caso como noutros, embora talvez um pouco mais aqui, a tendência “ecológico-justo” tem horizontes de progressão favoráveis. Com a condição de se reagir depressa e antes da saturação da oferta. Com efeito, os especialistas perceberam isso e já se voltaram para este segmento. O criador do salão Playtime, Sébastien de Hutten, registou um crescimento «de 50% (desde a primeira edição em Fevereiro de 2007) na quota das marcas posicionadas no segmento biológico, com cerca de 30 num total de 230 com características 100% biológicas». De valor acrescentado e distintivo para as marcas, este segmento revela-se também um atractivo suplementar para as lojas. Acresce ainda, prossegue Hutten, que «a exigência dos pais vai ao encontro disso», estando também ligada «ao preço, à criatividade e à originalidade». O biológico está bem, mas o bom biológico está ainda melhor.

Ao longo do crescimento, quando a criança afirma os seus gostos e aquilo que veste, esta consciência ecológica não é – ainda – uma evidência. «Eles estão atentos mas não são necessariamente exigentes», acredita Catherine Lott-Vernet, admitindo que, se for explicado, as crianças são, evidentemente, a favor de tudo o que possa «salvar o planeta, os pequenos animais»… Mais influenciados pelos amigos do que pelos pais, e mais tarde pelas marcas como sinal de pertença a um grupo (até aqui nada de novo), a criança chega à adolescência afirmando o seu estilo sendo capaz de «rejeitar hoje aquilo que elogiava ontem, apenas para provar que cresceu».

A leitura complica-se quando se aproximam da adolescência, um momento fulcral. Uma verdade ainda mais forte no que respeita às raparigas entre os 12 e os 14 anos. «É um segmento difícil de abranger», confirma Els Gaelens, da C&A. Uma asserção que não diz respeito apenas ao conjunto alargado de silhuetas que as raparigas seleccionam como sinal de pertença ao seu grupo mas que se apoia nas exigências de uma rapariga que ainda não é mulher. «Estão na fronteira entre as crianças e os adolescentes», sublinha a presidente da Junium, também apoiada pela responsável da C&A: «elas não querem estar na gama para meninas e olham mais para a gama das mulheres». Um comportamento verificado há muito tempo e que levou a C&A a rever a sua oferta. Primeiro em termos de estilo, já que a sua oferta entre os 12 e os 16 anos é centrada nas últimas tendências, os “must-have” e sempre em actualização. Mas o detalhe está também em classificar esta oferta em tamanho X, S ou L. Com efeito, confirmam os especialistas, «elas já não querem o tamanho por idade» porque lhes lembra em demasia o universo da infância. Difícil de satisfazer, este segmento é, sem dúvida, e de forma geral, o que é mais descurado e sobre o qual falta ainda fazer um trabalho de identificação dos desejos e das necessidades para fidelizar estes juniores “ado-nascentes”.



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