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"Não é fácil aprovar a reforma tributária"

Veículo: Jornal de Santa Catarina
Seção: Economia
Página: www.clicrbs.com.br/jornais/jsc

Entrevista: Guido Mantega, ministro da Fazenda

 
 

A austera sala de reuniões do Ministério da Fazenda prenuncia o recado que o titular da pasta passaria na entrevista aos jornais do Grupo RBS: apesar do momento crítico, pontuado pela inflação global, o Brasil está atento e usando instrumentos para debelar a alta de preços puxada pelos alimentos e o petróleo.

No tom didático que usa nas apresentações sobre o desempenho da economia brasileira, Guido Mantega expôs a convicção de que o país não reviverá o fantasma da inflação, graças à política fiscal e à condução do Banco Central na área monetária. Entre tantos diagnósticos do encontro, um deu fim a uma profecia para transformar-se em esperança:

- O futuro chegou ao Brasil.

Jornal de Santa Catarina - Neste momento, o Brasil está preocupado com a inflação. Além de o Banco Central (BC) operar com o juro, o que mais o governo está fazendo para evitar o aumento da inflação?

Guido Mantega -
Antigamente, o Brasil vivia uma inflação estrutural, causada por erros de política econômica. Agora trata-se de uma nova modalidade, gerada no Exterior, uma inflação de commodities. É parecido com o choque dos anos 70, que misturava petróleo com commodities agrícolas. A diferença é que este choque afeta mais outros países. Embora estejamos observando uma elevação no Brasil, é menor do que em outros emergentes.

Santa - Qual é o nível confortável?

Mantega
- É 4,5%, nosso centro da meta. Conseguimos estabelecer uma meta razoável, combinando inflação sob controle e permitindo crescimento. A média mundial era 3,5% até o ano passado. Nos últimos 12 meses, subiu dois pontos percentuais e meio. Estamos na média.

Santa - Neste ano, a meta será superada?

Mantega
- Não, porque temos a margem.

Santa - Que medidas serão tomadas para evitar o avanço da inflação?

Mantega
- Se é inflação de commodities agrícolas, significa que, quando vierem as safras, a agricultura reage.

Santa - Embora a safra ajude a acomodar os preços, há projeções do petróleo a US$ 200 o barril. Isso afetará essa expectativa?

Mantega -
O preço do petróleo preocupa. Tem também aumento da demanda por petróleo e alimentos. Para o Brasil, é também uma grande oportunidade de se destacar como o maior produtor de tudo isso. Pode ocupar mercados. Porque o Brasil é o país mais competitivo em quase tudo. Temos produtividade, custo baixo, condições climáticas favoráveis e a maior área agriculturável disponível do planeta. Vamos transformar esta crise numa oportunidade para o Brasil.

Santa - Na última reunião ministerial, o vice-presidente colocou todos numa saia-justa perguntando por que o Brasil tem a maior taxa de juro do mundo e ninguém teria respondido a José Alencar. Por que temos a maior taxa do mundo e por que ninguém respondeu?

Mantega
- É uma pergunta que você deve fazer ao (Henrique) Meirelles (presidente do BC). Tínhamos de passar para outro assunto, ele até ia responder. É um problema que vem sendo corrigido. Nos últimos três anos, o Banco Central só baixou a taxa.

Santa - Os empresários reclamam do excesso de impostos. Mesmo com a carga tributária atual, foi aprovada a nova contribuição, a CSS.

Mantega
- Você já viu algum empresário não reclamar do governo? Empresário vai reclamar sempre. Não gosta de pagar impostos. Por que os empresários estão pagando impostos? Estão pagando porque estão faturando mais do que faturavam e estão tendo lucros muito maiores.

Santa - Por que não se consegue baixar a carga tributária?

Mantega
- A carga é elevada, mas não está impedindo que o país cresça. Desde que sou ministro da Fazenda, tenho reduzido tributos.

Santa - A essa altura o leitor está pensando: mas por que eu tenho de pagar 0,1% de CSS?

Mantega
- Reduzimos o IPI sobre quase todos os produtos, impostos sobre investimento e exportação, antecipamos o crédito do PIS e Cofins, reduzimos os impostos da cesta básica. Fizemos uma reforma tributária para as micro e pequenas empresas. E aí acabaram com a CPMF e, com isso, caíram R$ 40 bilhões. Nós só recolocamos um quarto disso, com o IOF. Já baixamos quase R$ 100 bilhões de tributação, somando a CPMF, que, confesso não por minha vontade, foi reduzida.

Santa - O senhor tem previsão de votar a reforma ainda este ano?

Mantega
- Vocês pensam que é um passe de mágica. Tem uma liturgia. Estão trabalhando arduamente. Na Câmara, será aprovada, na minha opinião, antes de agosto. Depois vai para o Senado, e lá será um outro capítulo. Não é fácil aprovar uma reforma tributária.

Santa - O leitor quer saber por que terá de pagar a CSS.

Mantega
- Você tem de perguntar para o Congresso. Não sou eu que estou criando.

Santa - Não é o governo?

Mantega
- Não. O governo não está criando nada.

Santa - A sua base está defendendo.

Mantega
- A regulamentação da emenda 29 da saúde pretende criar uma despesa nova da saúde. É até proibido pela Constituição criar uma despesa sem criar uma fonte de receita.

Santa - Os empresários ainda reclamam do dólar.

Mantega
- Reclamam, vão continuar reclamando, mas estão vendendo mais para o mercado interno.

Santa - O dólar vai continuar assim?

Mantega
- Não sei, nosso dólar é flutuante.

Santa - O futuro chegou ao Brasil?

Mantega
- Chegou. O futuro chegou no Brasil. Hoje o Brasil é um país dinâmico, que tem as contas todas equilibradas, fiscal, a inflação, apesar desta subida, está sob controle, tem uma estrutura produtiva dinâmica, com uma indústria forte, complexa. O Brasil tem uma indústria que se modernizou inclusive graças à valorização do real. Não estou dizendo que sou favorável, antes que vocês coloquem: o ministro disse que gostou.



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