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Elas querem distância das agulhas

Veículo: Jornal de Santa Catarina
Seção: Economia
Página: www.clicrbs.com.br/jornais/jsc

Com trabalho exaustivo e baixos salários, está cada vez mais difícil achar costureiras no Vale do Itajaí
JÚLIA BORBA

 
 

Laudi Correa Heise trabalhou como costureira por sete anos na indústria têxtil e em facções de Blumenau. Mas a carga de trabalho exaustiva, a alta produtividade e o baixo salário fez a costureira de 36 anos desistir da profissão em janeiro do ano passado. Com o apoio do marido, Laudi aproveitou o gosto pela culinária para se tornar cozinheira. Na costura, ganhava R$ 500 mensais. No comando das panelas sobre o fogão, recebe R$ 1,2 mil. Laudi não sente falta da época em que a meta diária era costurar 700 lençóis:

- Nunca incentivaria meus filhos a trabalhar com costura. Os salários não são dignos do trabalho pesado.

Profissionais experientes como Laudi, viraram raridade. No Sistema Nacional de Empregos (Sine) há 136 vagas abertas na região (veja quadro). Sem contar as oferecidas nas agências de emprego privadas e diretamente nas empresas. A Malharia Cristina, por exemplo, tem 10 vagas há seis meses. A Malwee procura 30 costureiras.

- A gente fica trabalhando porque se acostumou na função. Depende da força de vontade de cada uma para continuar a evoluir e ser valorizada - acredita a costureira Marilde Krever, 41.

Trabalhos administrativos dão mais visibilidade

Com a experiência de 21 anos de costura em malha, Marilde trabalha das 5h às 13h30min. Recebe R$ 765 pela produção do mês. Paga as contas da casa e faz sobrar para plano de saúde, roupas e calçados.

Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem de Blumenau e Região (Sintex), Ulrich Kuhn, na medida em que a região cresce economicamente, as aspirações sociais também se alteram. As jovens optam por trabalhar na área de informática, bancos, escritórios e lojas, por exemplo. Essas funções, segundo o gerente de Recursos Humanos Paulo José Alves, dão mais visibilidade e satisfação às jovens.

Segundo a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de Blumenau (Sintrafite), Vivian Bertoldi, o salário sempre foi a principal queixa das costureiras. Por um turno de oito horas diárias, elas recebem entre R$ 600 e R$ 800. Há indústrias que aumentam salários para manter a profissional qualificada, mas não chegam a ultrapassar R$ 1 mil.

- Muitos empresários perguntam onde estão as costureiras. Elas existem, mas a relação entre capital e trabalho está muito precarizada. O salário e o ambiente de trabalho não atraem novas profissionais - completa o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Vestuário de Blumenau, Julio José Rodrigues.

( julia.borba@santa.com.br )

Aqui tem vaga
Município - Vagas
Blumenau - 20
Gaspar - 29
Pomerode - 42
Timbó - 15
Brusque - 06
Itajaí - 15
Rio do Sul - 09
Total - 136
Fonte: Sistema Nacional de Empregos de Santa Catarina (Sine)
Perfil desejado
- Polivalência para operar três ou mais máquinas de costura como reta, overlock e cobertura
- Ensino Fundamental completo (não é pré-requisito)
- Disciplina e agilidade na costura
- Assiduidade no emprego
- Salário entre R$ 600 e R$ 800 para um turno de oito horas
Fonte: Gerente de Recursos Humanos, Paulo José Alves e Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Têxteis de Blumenau (Sintrafite)


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