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Importa??o afeta e ajuda produ??o local

Veículo: Valor Econ?mico
Seção: Brasil
Página: A3

  
Enquanto nos setores mais intensivos em mão-de-obra, como alimentos, têxteis e calçados, as compras de produtos importados substituem as de itens domésticos e fazem com que a produção interna cresça pouco, em outros ramos como os de máquinas e equipamentos, a importação complementa a produção nacional e ajuda a amenizar os reajustes de preços. Entre janeiro e julho deste ano, a produção de calçados recuou 3,6%, na comparação com mesmo período do ano passado. Em contrapartida, entre janeiro e junho (último dado disponível) a quantidade de calçados importados avançou 33,2%. No ramo têxtil e do vestuário, a situação é semelhante. Os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que nos sete primeiros meses deste ano a produção de têxteis subiu 2,7%, bem abaixo dos 5,1% da média da indústria de transformação. Já a importação até junho cresceu 40%. No setor do vestuário, a produção ficou 3,5% maior, enquanto a compra de itens importados avançou 27,3%. "Nós temos grandes assimetrias de competitividade com outros países, como os asiáticos. E o resultado disso é que eles estão tomando tanto nosso mercado doméstico como também o internacional, já que as exportações ficam mais difíceis neste cenário de câmbio valorizado", diz Fernando Pimentel, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). O executivo diz que não entra no mérito da apreciação cambial, que foi bem menor nos concorrentes do Brasil, e ressalta que o aumento de importações não é algo necessariamente ruim. "O problema é ele não ocorrer em equilíbrio com a produção interna. Ele captura grandes fatias de mercado, ainda que nossa indústria seja eficiente e competitiva", diz. O quadro é diferente em atividades como a de produção de máquinas e equipamentos e de alguns bens duráveis, como veículos automotores. A economista Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados, diz que o forte crescimento do mercado interno tem puxado tanto a produção quanto as importações. Para ela, no atual momento, a alta das compras externas mais complementa do que substitui a fabricação local. "A demanda está muito forte", afirma Thaís. Ela vê esse processo ocorrendo com clareza em setores como o de máquinas e equipamentos. De janeiro a julho, a produção nesse segmento cresceu 17,4% em relação ao mesmo período do ano passado, ao passo que as quantidades importadas de bens de capital cresceram 30,7% no acumulado do ano até junho - segundo números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Quadro semelhante é visto no segmento de veículos automotores. As importações cresceram 31% no primeiro semestre, mas a produção doméstica também avança a um ritmo expressivo - de janeiro a julho, a alta foi de 10,3%. Impulsionada pelo crédito farto, com juros em queda e prazos longos, as vendas crescem com força neste ano, lembra a economista. Um caso atípico é do setor de alimentos. A produção cresceu apenas 2,5% de janeiro a julho, período em que as importações aumentaram 30%. Isso não quer dizer, porém, que esteja em curso substituição da produção doméstica por produtos importados, diz o gerente do departamento econômico da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos (Abia), Amílcar Lacerda de Almeida. Ele diz que a taxa de expansão do segmento costuma ser menos volátil, acrescentando que ela deve crescer nos próximos meses, passada a entressafra que afetou os ramos de carnes, leite e açúcar. Além disso, a importação cresceu bastante em termos relativos, mas em valores absolutos as compras externas continuam modestas, somando apenas US$ 693 milhões de janeiro a junho. Há controvérsia quanto ao que se passa com o setor de bens intermediários. Para Edgard Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), eles também estão sendo substituídos por produtos importados. A importação de produtos químicos como soda, cloro, aromas e defensivos agrícolas já cresceu 67% até junho, na comparação com o mesmo período do ano passado. A produção, porém, avança acima da média da industria: 6,3% de janeiro a julho. Thaís tem uma avaliação diversa. Para ela, a demanda interna mais forte tem levado à reação da produção de intermediários. Depois de um 2006 muito fraco, o segmento reagiu com mais força neste ano, principalmente a partir do segundo trimestre, acumulando alta de 4,2% de janeiro a julho e de 3,4% em 12 meses. É um ritmo bem inferior ao crescimento de 20,4% registrado pelas importações de intermediários nos 12 meses até julho, mas mostra uma recuperação acentuada em relação ao desempenho de boa parte do ano passado, quando a expansão anualizada ficou pouco acima de zero. "O mercado interno aquecido abre espaço para a alta forte tanto da produção quanto das importações de intermediários." Para Paulo Mol, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), impulsionada muito pelo mercado interno, a atividade industrial está forte, mas poderia estar indo muito melhor se uma parte da demanda não estivesse sendo deslocada para a compra de importados. É o impacto do câmbio valorizado, que torna mais atraentes os preços de produtos fabricados no exterior. Ele cita, no entanto, o que acontece com o setor de materiais e equipamentos de informática como exemplo do que poderia ser feito em outros segmentos. Mesmo com o câmbio valorizado, este setor é o que acumula o maior incremento na produção industrial: 18,3% entre janeiro e julho deste ano. "E as importações estão declinando", completa Mol. Para ele, a expansão na atividade é reflexo da desoneração tributária feita no setor. "É um exemplo emblemático. Não é preciso mexer no câmbio para um setor reagir, basta que sejam dadas condições de competitividade para a indústria", diz. Para o economista Francisco Pessoa Faria, da LCA Consultores, o câmbio valorizado levou a um crescimento da economia que leva a uma alta mais forte dos salários do que da ocupação. O dólar barato levou a uma queda mais rápida da inflação, mas ao mesmo tempo provocou uma elevação muito forte das importações em alguns setores, que, para ele, estão sendo "canibalizados".



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